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O misterioso papai do Homem-Aranha e do Doutor Estranho

Um filme do Homem-Aranha com o Doutor Estranho é basicamente uma enorme celebração da obra de Steve Ditko, talvez o grande “patinho feio” de uma Marvel polarizada quase sempre entre Lee e Kirby

Por THIAGO CARDIM

Desde a noite desta segunda-feira (24 de agosto), as redes sociais estão em polvorosa, no melhor modo “enfim chegou o trailer do novo filme do Homem-Aranha e o multiverso está mesmo à solta”. Mas enquanto tem uma galera reclamando da inspiração na TENEBROSA saga Um Novo Dia, outros muitos surtando com a aparição do Alfred Molina de volta ao papel de Doutor Octopus, uma outra parte perguntando cadê Andrew Garfield e Tobey Maguire (além do Charlie Cox, né, mas ENFIM) e sim, aquele séquito de fanáticos mais uma vez teorizando sobre a aparição do diabão Mefisto (arremaria), ao ver na tela Peter Parker e Stephen Strange estrelando um filme juntos, não consegui não pensar em Steve Ditko.

Sim, porque os dois personagens são cocriações de Stan Lee não com sua dupla usual, o lendário Jack Kirby, mas sim com Ditko – que, de alguma forma, neste embate entre duas figuras icônicas que polarizavam as discussões e criações da Casa das Ideias, acabava ficando meio nas sombras, quase como um patinho feio nas páginas da história.

Vamos voltar aqui pro começo da década de 1960.

A Marvel Comics começava, depois do estrondoso sucesso do Quarteto Fantástico, a se estabelecer como referência em histórias em quadrinhos de super-heróis. O editor-chefe, Stan Lee, vinha sendo constantemente cobrado pelo publisher, Martin Goodman (que, além de chefe, era marido de sua prima), para criar o próximo grande hit da Casa das Ideias. Lee tinha na cabeça o conceito de um herói adolescente, cheio dos mesmos problemas de seus leitores e alguma coisa relacionada a um aranha. Sentou-se com seu principal desenhista e parceiro, Jack Kirby, para falar sobre o personagem. Isso, antes de um certo Stephen J. Ditko entrar na jogada.

Eis, então, que Kirby lembrou que seu antigo parceiro, Joe Simon, tinha criado com Jack Oleck e C.C. Beck (o criador do Capitão Marvel/Shazam) um personagem chamado Silver Spider (originalmente, Spider-Man, mas depois mudaram o nome), em meados dos anos 1950. O trio levou o projeto para a editora Harvey, que o recusou. Já no final dos anos 50, Simon apresentou a Kirby o material do Silver Spider e a dupla o transformou no Homem-Mosca, que a editora Archie publicaria em 1959. Imediatamente, Kirby trouxe para a mesa o conceito original do Silver Spider, um moleque que encontra um anel mágico e ganha poderes. Lee resolveu encomendar ao amigo algumas páginas. E alguns dias depois, o mestre Kirby tinha entregue seis páginas com a origem do moleque. “Eu odiei o jeito que ele fez”, confessou Lee, anos depois. “Não que tenha ficado ruim. Mas simplesmente porque não era o personagem que eu queria. Era heroico demais”.

Foi então que Stan Lee procurou auxílio de outro grande nome da editora, Steve Ditko. E embora na estreia do personagem, no número 15 da revista Amazing Fantasy, a capa tenha sido de Kirby, todo o visual foi desenvolvido por Ditko. Stan Lee tinha, enfim, encontrado o parceiro certo para aquela empreitada. “As páginas do Homem-Aranha que Stan me trouxe não se pareciam em nada com o personagem que seria publicado tempos depois”, revelou Ditko, anos depois. “Na verdade, os únicos desenhos do Homem-Aranha estavam na página de apresentação e no final, no qual Kirby colocava o sujeito pulando na direção do leitor com uma arma de teias”. Ditko começou tudo do zero. E o resto é história.

Mas uma história que insiste em dar muito mais crédito para o extrovertido e efervescente Stan Lee do que para o introvertido e introspectivo Steve Ditko – tão criador do Homem-Aranha quanto o atual garoto-propaganda preferido da Marvel Comics.

Afinal, quem é Steve Ditko?

Nascido na cidade de Johnstown, na Pensilvânia, em 2 de novembro de 1927, Ditko é filho da primeira geração de americanos descendentes de eslovacos. Seu pai, Stephen Ditko, era um talentoso carpinteiro – mas cujo interesse por tiras em quadrinhos publicadas nos jornais da época, em particular aquela do Príncipe Valente do mestre Hal Foster, mostrou ao jovem Steve um caminho que ele passou a considerar.

Quando viu a ascensão do Batman de Bob Kane e do Spirit de Will Eisner, decidiu que era aquilo mesmo que queria fazer da vida. Em 1945, alistou-se no exército e trabalhou na Alemanha pós-guerra, desenhando quadrinhos para o jornal do exército. Assim que voltou, descobriu que um de seus ídolos, Jerry Robinson, famoso pelo trabalho nos quadrinhos do Batman, estava ensinando na Escola de Cartunistas e Ilustradores em Nova York – que mais tarde se tornaria a lendária School of Visual Arts – e se mudou para lá imediatamente. “Ele era um jovem estudante que trabalhava duro. Podia tanto trabalhar com outros escritores, quanto escrever suas próprias histórias e criar seus próprios personagens”, teria dito Robinson. A escola, inclusive, chegava a ser visitada por grandes nomes da indústria. E Stan Lee, na época editor da Atlas Comics (precursora da Marvel), teria vindo bater um papo com os alunos. “Deve ter sido a primeira vez que Stan viu o trabalho de Steve”.

Profissionalmente, Ditko começou a ilustrar quadrinhos por volta do ano de 1953, trabalhando ao lado do escritor Bruce Hamilton, na história de ficção científica Stretching Things, para o selo Key Publications da Stanmor Publications. Mas sua primeira história a ser de fato publicada foi seu segundo trabalho: Paper Romance, para a primeira edição da revista Daring Love (Gillmor Magazines). Não demoraria, no entanto, até que ele conseguisse uma vaga no renomado estúdio de Jack Kirby e Joe Simon, a dupla que criou o Capitão América. Começou por baixo, claro, como arte-finalista de cenários, mas logo passou a trabalhar bastante ao lado de Mort Meskin, um de seus maiores ídolos. Foi neste momento de sua carreira que ele, de fato, passou a desenvolver um estilo próprio.

Nesta mesma época, Ditko iniciou uma longa relação com a Charlton Comics, na época ainda uma divisão com pouca verba de uma editora conhecida muito mais por suas revistas com letras de músicas do que por quadrinhos. Desde uma mera capa para a edição 12 da revista The Thing, ele trabalhou sem interrupções para a editora até o seu fechamento, em 1986, produzindo histórias de ficção científica, horror e mistério, além de ter sido cocriador, ao lado de Joe Gill, do personagem Capitão Átomo – aquele mesmo que depois se tornaria parte do panteão da DC Comics.

No meio de 1954, o desenhista contraiu tuberculose e passou um longo período na casa dos pais, em Johnstown, recuperando-se. Quando melhorou de saúde e voltou para NY, já no final de 1955, começou então sua passagem pela Atlas Comics, aquela mesma que anos depois se tornaria Marvel Comics. Sua primeira história na casa comandada por Stan Lee foi uma trama curta, de quatro páginas, chamada There’ll Be Some Changes Made e publicada na Journey into Mystery #33. E então ele logo se tornaria colaborador eventual de títulos como Amazing Adventures, Strange Worlds, Tales of Suspense e Tales to Astonish. Estas revistas abriam tipicamente com uma história de monstros desenhada por Jack Kirby, depois eram seguidas por thrillers desenhados por Don Heck, Paul Reinman ou Joe Sinnott e fechavam com uma história curta, meio surreal e totalmente reflexiva, escrita por Stan Lee e desenhada por Steve Ditko.

Logo, foi destas parcerias que nasceu a reformulação da revista Amazing Adventures, rebatizada como Amazing Adult Fantasy para abrigar exatamente estas histórias mais “sofisticadas”. O slogan da publicação era “a revista que respeita a sua inteligência”. Logo o “adult” sairia do título (quem diabos teve esta ideia genial, mesmo?). E Lee procuraria Ditko para falar de um personagem com poderes de Aranha…

O Aranha, ah, o Aranha

“Uma das primeiras coisas que eu fiz foi trabalhar em um uniforme”, contaria Ditko a respeito do processo que se seguiu depois de Lee aparecer com aquelas páginas malucas desenhadas por Jack Kirby. “Antes de qualquer coisa, eu precisava saber como ele se parecia. Um cara que escalava paredes não podia usar botas ou sapatos pesados – e tive que considerar um disparador de teias no pulso ao invés de uma arma, com coldre e tudo. Eu não tinha certeza se Stan gostaria da ideia de cobrir a face do personagem, mas eu tinha que fazer isso, porque era obviamente um moleque. E isso também dava um pouco de mistério”. Faltava apenas o OK de Goodman – que, conforme diz a lenda, deu uma empacada básica. “Como assim, um herói adolescente? E aranhas? Não!!! Todos odeiam aranhas!”. Com seu jogo de cintura habitual, Lee driblou o publisher e conseguiu seguir em frente com a ideia.

A primeira história de Peter Parker chegou às bancas em agosto de 1962, na edição 15 da revista Amazing Fantasy – justamente aquela que seria a última edição da publicação. O sucesso foi tão, mas tão grande que, pouco depois, o Homem-Aranha ganharia a sua própria revista, The Amazing Spider-Man.

Alguns historiadores especializados neste universo dizem, no entanto, que de 1958 a 1966, Ditko teria dividido um estúdio em Manhattan, na esquina da rua 43 com a oitava avenida, com o artista de arte fetichista Eric Stanton, seu colega de classe. Como ambos estavam sempre sob a pressão dos prazos apertados, não era incomum que eles se ajudassem em alguns trabalhos. Em uma entrevista publicada em 1988, Stanton lembra que sua colaboração com Ditko na época da criação do Homem-Aranha foi nula. Mas confessa: “A coisa toda foi criação do Steve. Eu acho só que sugeri a coisa da teia saindo de suas mãos”. Ditko nunca se pronunciou a respeito.

Ditko cocriaria com Lee um outro personagem que marcou sua trajetória na editora. Na edição 110 da revista Strange Tales, eis que surgiria pela primeira vez o Doutor Estranho, mágico supremo da Terra. E por mais que o seu trabalho à frente do Homem-Aranha estivesse, obviamente, sob os holofotes, o mesmo público universitário que começava a vibrar com a produção mais mainstream da editora, também pirava nas loucuras lisérgicas e esotéricas das histórias cheias de outras dimensões de Stephen Strange. “As pessoas que liam o Doutor Estranho pensavam que quem trabalhava na Marvel era um bando de chapados”, lembrou Roy Thomas, na época editor-associado. “Porque elas tinham experiências similares quando provavam seus cogumelos. Mas eu não uso alucinógenos e não acho que nenhum de nossos artistas usa”. Ao menos naquele momento.

Mas, então, tudo mudou…

Além, obviamente, da origem do personagem, a dupla Lee-Ditko foi responsável por alguns dos momentos mais celebrados da história do Aranha – em particular, pelo número 33 de The Amazing Spider-Man, publicado em 1966, e no qual constava a terceira parte do arco If This Be My Destiny…!. Nela, vemos a clássica cena do aracnídeo enterrado sob toneladas de escombros, reunindo toda a sua força de vontade para se livrar daquela situação enquanto pensa nas pessoas que deixaria desamparadas e que poderia sofrer por sua culpa. Um clássico!

Mas nem tudo eram flores na relação da dupla. Aliás, honestamente, NADA eram flores.

Um ano antes, em 1965, Ditko finalmente conseguiu, depois de uma imensa disputa, receber nas histórias não apenas os créditos como desenhista, mas sim como coargumentista. A batalha era resultado direto do chamado “Método Marvel”: o roteirista (neste início, em sua maior parte, estamos falando basicamente de Stan Lee) criava uma espécie de sinopse básica do que queria na história. O desenhista criava tudo, desenvolvia as páginas sozinho a partir dali e, bingo, entregava de volta nas mãos de Lee, que só acrescentava os diálogos. Ou seja: boa parte do desenrolar das histórias acabava mesmo ficando nas mãos do artista também. Kirby que o diga.

Some a isso o fato de que Ditko estava cada vez mais entrando em desacordo com os rumos dos roteiros de Lee e temos um ponto de conflito absoluto. Com cada vez mais poder em mãos para decidir também os rumos das histórias, enquanto Lee passava a se preocupar em namorar Hollywood e outras diferentes mídias nas quais poderia explorar a Marvel, Ditko passou a aplicar nelas uma série de conceitos do chamado objetivismo, uma linha de pensamento filosófico desenvolvida pela autora russo-americana Ayn Rand (e musa dos ancap de plantão). Ditko ficou fascinado com o conceito, que a gente descreve abaixo, conforme explicação da Wikipédia:

O objetivismo afirma que a realidade existe independentemente da consciência, que o ser humano tem contato direto com a realidade através dos sentidos, que pode ter conhecimento objetivo pelo processo de formação de conceitos, da lógica dedutiva e indutiva, que o objetivo moral da vida humana é atingir a própria felicidade ou interesse racional, que o único sistema social consistente com esta moralidade é um que respeite os direitos do seres humanos à vida, liberdade, propriedade e busca à felicidade, ou seja, capitalismo laissez-faire, e que a função da arte é transformar as ideias metafísicas mais abstratas, reproduzindo seletivamente a realidade, em forma física. O nome objetivismo vem do princípio de que o conhecimento e valores humanos são objetivos: eles não são criados pelos pensamentos que alguém tem, mas determinados para natureza da realidade, para serem descobertos pelo ser humano. Rand disse que escolheu este nome porque o termo preferido para uma filosofia baseado na primazia da existência – existencialismo – já havia sido usado.

Essencialmente, um tipo de pensamento um tanto conservador e restritivo, que fazia Ditko ter certeza de que o bem e o mal eram coisas bem diferentes, preto no branco, com poucas áreas cinzentas entre eles. Isso influenciava diretamente no que ele vinha escrevendo para o Homem-Aranha, dando-lhe por vezes uma postura um tanto dura e quase direitista com relação aos conflitos universitários que passaram a ser retratados em suas histórias, como reflexo do que acontecia na sociedade norte-americana contemporânea.

Mas depois de quatro anos à frente do Homem-Aranha, depois de ele e Lee simplesmente ficarem sem se falar e trocarem seus arquivos de roteiro/arte apenas através de intermediários, Ditko anunciou que estava abandonando o barco.

“Eu realmente nunca conheci o Steve num nível pessoal”, afirmou Lee certa vez, em uma entrevista. Informações de bastidores dão conta de um dos pontos de ruptura entre os dois foi a respeito do momento da revelação da identidade do Duende Verde – enquanto Lee insistia que ele fosse Norman Osborn, Ditko achava aquilo muito novelão, rocambolesco demais, e defendia que teria um impacto maior se fosse alguém completamente desconhecido, que odiaria o Homem-Aranha como conceito, e não o homem por baixo da máscara. Esta versão, universalmente aceita, já chegou a ser negada pelo próprio Ditko, que disse ter sido mandado embora.

“Stan nunca sabia o que receberia nas minhas histórias do Homem-Aranha até que o gerente de produção as levasse de mim para ele. Ou seja, não poderia haver discordância ou concordância, do número 25 (quando se tornou coargumentista) até o meu número final”. Sucessor de Ditko, John Romita, que já trabalhava na Marvel, chegou a afirmar que os dois não conseguiam mais trabalhar juntos porque discordavam em tudo: cultural, social e historicamente.

E assim, os pais do Homem-Aranha se divorciaram. E o papai Ditko foi namorar com a concorrente.

Vida pós Homem-Aranha

Em 1968, com pompa e circunstância, Ditko foi parar na DC Comics. Mas lá, teve vida curta. Ao lado de Don Segall, criou o Rastejante, conhecido essencialmente por sua passagem, décadas depois, pela Liga da Justiça América de JM de Matteis, Keith Giffen e Kevin Maguire. Ainda foi o responsável pela contratação do lendário Dick Giordano, que fazia parte da equipe da Charlton – a mesma Charlton com a qual Ditko continuou colaborando durante muito tempo, conforme você deve se lembrar. Aliás, embora tenha feito outros trabalhos para editoras maiores, Ditko preferia focar seus esforços autorais nas pequenas editoras independentes. Chegou até mesmo a integrar, por pouco tempo, o time da Atlas/Seaboard Comics, iniciativa do publisher Martin Goodman depois de sua saída da Marvel. Desenhou histórias de Archie Goodwin, teve desenhos arte-finalizados por lendas como Wally Wood e Bernie Wrightson.

Em suas idas e vindas entre a Charlton e a DC, sempre como freelancer, reformulou o Besouro Azul (outrora um personagem da Charlton), desenvolvendo a versão Ted Kord, e criou personagens como a dupla Rapina e Columba, Questão e Shade, o Homem-Mutável – que anos depois, se tornaria um personagem de sucesso na linha Vertigo. Chegou a desenhar A Legião dos Super-Heróis durante algumas edições. Mas parecia, de fato, ter se encontrado, no desenvolvimento de um herói absolutamente independente: Mr. A, criado rigorosamente sob a influência do objetivismo. Usando luvas de metal e uma máscara de aço com uma expressão indecifrável, o repórter Rex Graine assumia a alcunha de Mr. A para combater o crime, sempre de chapéu Fedora e terno branco. Incorruptível, ele tinha uma linha moral bastante definida, sem espaço para discussões. Exatamente por isso, e pelas muitas metáforas de preto e branco, especialistas afirmam que o Rorschach de Watchmen foi criado por Alan Moore como uma provocação às posições políticas de Ditko.

Ainda como freelancer, Ditko passaria ainda por diversas casas – como a Pacific Comics, na qual fez o Missing Man, ao lado de Mark Evanier; a Eclipse Comics, para a qual trouxe o seu personagem Static; e até a Archie Comics, na qual trabalhou para ajudar na linha de super-heróis, que acabou tendo vida curta. Ditko chegaria, inclusive, a retornar para as páginas da Marvel, vejam só vocês. Afinal, quem tem contas a pagar também tem que engolir o orgulho. E em 1979, assumiu o título do Homem-Máquina, de Jack Kirby, e chegou a desenhar os Micronautas e o Capitão Universo. Com Tom DeFalco, introduziu o personagem Speedball na edição 21 do anual da revista The Amazing Spider-Man, em 1988, marcando um curto retorno ao Cabeça de Teia que o tornou famoso. Ele ainda criaria, na Marvel, os personagens Garota-Esquilo e o vilão Longarm, do Homem de Ferro, efetivamente a sua última criação para o mercado mainstream de quadrinhos.

Depois de breves trabalhos para Dark Horse Comics, Defiant Comics e Fantagraphics Books (numa lendária série trimestral que teve apenas UM número publicado), viria então, em 1998, o seu último trabalho para a grande indústria americana de histórias em quadrinhos: uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC Comics. Batizada de Infinitely Gentle Infinitely Suffering, ela só viria a ser publicada em um especial dos personagens dez anos depois, em 2008. Ah, sim, esqueci de mencionar. O roteiro era de um certo Mark Millar.

Seus últimos anos

Ditko continou trabalhando recluso em seu estúdio nos arredores de Midtown West, em Manhattan. O fato é que, desde os anos 1960, ele se recusava a dar entrevistas – especialmente aquelas a respeito de seu período na Marvel ou sobre sua relação com Stan Lee – ou mesmo fazer aparições públicas. Nada de vê-lo em qualquer destas Comic Cons da vida. “Quando eu faço um trabalho, não é a minha personalidade que estou oferecendo aos leitores, mas a minha arte. O que eu sou não é o que conta, mas sim o que eu fiz e o quão está bem feito. Eu produzo um produto, a arte de uma história em quadrinhos. Steve Ditko é a marca”, afirmou ele, ainda em 1969.

Seu trabalho solo vinha sendo, essencialmente, ao lado de Robin Snyder, que foi seu editor na Charlton, na Archie Comics e na Renegade Press nos anos 80. Além de republicações de personagens como Static, The Missing Man e The Mocker, a dupla chegou a lançar The Avenging Mind, uma publicação com 32 páginas de ensaios com diversas páginas de novas artes; e Ditko, Etc…, revista em quadrinhos composta de breves vinhetas e cartuns editorais. Neste formato, Ditko já apresentou diversos novos personagens, com nomes como The Hero, Miss Eerie, The Cape, The Madman, The Grey Negotiator, The !? e The Outline. Eles até lançaram uma campanha no Kickstarter para financiar uma nova edição do livro The Ditko Public Service Package, de 1991.

Antes de sua morte, em junho de 2018, aos 90 anos, vítima de um problema cardiovascular e sozinho em seu apartamento em Nova York, Ditko já tinha declarado não receber nada pelos filmes do Homem-Aranha lançados pela Sony até o momento (com Tobey Maguire e Andrew Garfield). Mas um de seus vizinhos dizia que, sim, ele costumava receber uns cheques de pagamento de direitos autorais pelo correio…

Alguns mestres costumam dizer, usando as séries de TV dos anos 60 como comparação, que enquanto Jack Kirby é mais Viagem Ao Fundo do Mar, Ditko estaria mais para Além da Imaginação. E mantendo a comparação nos anos 60, mas agora no mundo da música – Stan Lee seria o equivalente a Paul McCartney, enquanto Jack Kirby seria John Lennon. Nestes Beatles da Marvel, Ditko estaria muito mais para George Harrison.

Nada mais justo de se dizer.

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