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Savatage e o retorno de um ícone metálico subestimado

Inesperadamente, o Monsters of Rock 2025 anuncia a banda americana para o festival brasileiro – uma década depois de sua última apresentação

Por THIAGO CARDIM

Os fãs brasileiros de heavy metal já estavam em polvorosa ao descobrir que, além do Bangers Open Air (ex-Summer Breeze Brasil), teremos a volta do Monsters of Rock, garantindo DOIS festivais com o melhor da música pesada em 2025. Mas ninguém estava preparado para a escalação da parada – que acontece no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 19 de abril de 2025. Tem bandas pra todos os gostos: Scorpions, Judas Priest, Europe, Queensrÿche, Opeth, Stratovarius… e Savatage.

Pera. QUE???

Sim, sim, o Savatage. Sim, uma das bandas mais icônicas e subestimadas do gênero, que nasceu lá nos anos 1980 e fez história com seu som único que mistura heavy metal e elementos teatrais. E sim, aquele mesmo Savatage cujo ÚLTIMO show tinha acontecido em 2015 numa inesperada reunião em pleno palco do festival Wacken Open Air, a meca do heavy metal mundial. Exatamente, UMA DÉCADA atrás.



Um pouco de história

Tudo começou na Flórida, em 1978, com os irmãos Jon e Criss Oliva. Inicialmente conhecida como Metropolis e depois Avatar (sim, antes de James Cameron e da galera azul), a banda de moleques cedeu a uma pressão judicial e mudou o nome de vez para Savatage.

Quando lançaram seu primeiro álbum, “Sirens”, em 1983, a sonoridade era mais agressiva e pesada, numa pegada quase death metal. Todavia, a faixa final, “Out on the Streets”, já entregava um pouco do que seria o futuro da banda. A ideia? Fazer algo novo, misturando riffs pesados com uma pegada quase operística. O disco seguinte, “The Dungeons Are Calling”, lançado um ano depois, já apresentou não apenas a presença de sintetizadores mas também as letras numa pegada mais fantasiosa, uma dark fantasy sobre bruxas, demônios, cavaleiros…

Embora tenham tentado se adaptar à trinca sexo-drogas-rock ‘n roll dos anos 1980 com o mediano “Power of The Night”, seu primeiro disco depois de assinarem o contrato com a Atlantic Records, e com o fraquíssimo “Fight For Rock” (que os levou a uma turnê abrindo pro Motörhead), em 1987 retomaram os eixos de sua carreira ao lançarem “Hall of the Mountain King”, que deu uma guinada no som da banda e inaugurou a sua parceria com o produtor Paul O’Neill.

Este Savatage mais dramático, mais power metal flertando com o progressivo, embarcou numa série de shows com as bandas Dio e Megadeth e, na sequência, trouxe um segundo guitarrista pra formação, Chris Caffery, que embarcou ainda mais camadas no disco seguinte, o belíssimo “Gutter Ballet”, no qual o combo começou a mostrar um lado ainda mais teatral, incorporando elementos clássicos e letras profundas.

Viria então a ópera rock “Streets: A Rock Opera” (1991), cuja história de um músico caído se tornou um clássico cult instantâneo entre os fãs mesmo na abertura dos nascentes anos 1990 (lembrem-se do furacão de Seattle que se aproximava atendendo pelo nome de “grunge”). Com o igualmente clássico “Edge of Thorns”, de 1993, seria o momento de marcar a entrada de um segundo vocalista, Zak Stevens, cuja dualidade com Jon se tornou também marca registrada da banda – e viria a tragédia que os marcaria para sempre.

Em outubro daquele ano, depois do fim da segunda turnê mundial do Savatage, o guitarrista Criss Oliva dirigia em companhia de sua esposa Dawn, rumo ao Live Music Festival na Flórida, quando um motorista embriagado se chocou com eles. A mulher sobreviveu, mas, infelizmente, o músico não resistiu.

Idas e vindas

Mesmo abalado com a morte do irmão, Jon decide homenagear o jovem prodígio mantendo a banda em atividade – mas, mesmo com a qualidade dos trabalhos que se seguiriam ainda em alta, o que se viu foi uma série de mudanças de formação, criando uma estranha inconstância. Até Alex Skolnick, hoje no Testament, fez parte do grupo. Caffery saiu, voltou, fez dupla de guitarras com Al Pitrelli (que depois foi tocar no Megadeth e também voltou), Zak montou o projeto paralelo Circle II Circle e também vazou… Pra completar, no meio do caminho, logo depois do igualmente conceitual “Dead Winter Dead”, surgiria o bem-sucedido Trans-Siberian Orchestra.

A orquestra metálica criada por Paul O’Neill com os amigos Jon Oliva, Robert Kinkel e Al Pitrelli mistura rock progressivo, metal sinfônico e heavy metal tradicional com influências da música clássica – tudo isso com um clima de reinterpretação natalina e shows ao vivo que são verdadeiros eventos de luzes e pirotecnia, tornando-se um acontecimento tradicional para a população roqueira todos os Natais nos EUA.

Depois do grandioso “The Wake of Magellan” (1998) e uma sequência de bem-sucedidas turnês que se seguiriam a ele, o Savatage foi colocando o pé no freio devagarinho, diminuindo o ritmo de produção de discos, de shows ao vivo, até enfim chegar o hiato propriamente dito, em 2002, com direito a pequenas e preciosas apresentações como esta prevista pro Brasil em abril.

Mas calma, nem tudo são flores…

Embora não tenhamos informações sobre o repertório, já se sabe que a formação do Savatage para este show (e para a vindoura turnê, a primeira série de shows deles desde o ano de 2003) é Zak Stevens (voz), Johnny Lee Middleton (baixo), Chris Caffery (guitarra), Al Pitrelli (guitarra) e Jeff Plate (bateria). Pois é, o vocalista, tecladista e poderoso chefão Jon Oliva não estará presente.

Embora o fundador tenha se apresentado no Wacken Open Air 10 anos atrás, ele esclareceu que o seu estado de saúde hoje em dia passa por um momento delicado. Em um comunicado publicado no grupo de fãs Savatage Legion, lá no Facebook, Jon afirmou que a ideia era que ele se juntasse aos parceiros, porém… (“Até onde eu sei, eu iria fazer esses shows, mas infelizmente, tive mais problemas de saúde”).

Os problemas mencionados incluem uma fratura na espinha, em três regiões diferentes, e também dois novos diagnósticos que mudaram os planos definitivamente: esclerose múltipla (doença crônica em que o sistema imunológico destrói a cobertura protetora de nervos) e doença de meniére (um distúrbio no ouvido interno que causa momentos de vertigem).

“Espero que seja apenas temporário. Vou continuar trabalhando no estúdio em novas músicas para o futuro”, disse ele. “Esses shows serão incríveis e estarei trabalhando com eles para deixar tudo pronto para vocês. Sei que todos vão adorar”.

Importante reforçar que não é a primeira vez em que Jon fala sobre composições inéditas. Em 2023, numa entrevista pra revista Hard Rock Greece, o músico confirmou que o álbum estava sendo composto, mas no tempo DELE. “Cometi muitos erros antes e não os cometo agora. Não tenho pressa nenhuma”, afirmou, reforçando: “Porque este provavelmente será o último disco que faremos. Quero ter certeza de que é um álbum 10/10”.

O tal disco, que inclusive tinha um nome provisório (“Curtain Call”, justamente em referência a uma suposta despedida), o primeiro desde “Poets and Madmen”, datado de 2001, tem prometidos muitos duetos entre ele e Zak Stevens. “Deliberadamente, escrevi de seis a sete músicas especificamente para Zak cantar. Trabalhei em algumas músicas com Al Pitrelli, que, definitivamente, são para mim. Há algumas músicas épicas em que Zak canta algumas partes, eu canto algumas partes e cantamos juntos em algumas delas”.

O ponto importante de se destacar: na entrevista, ele dizia que a ideia era lançar o disco em 2024, para que então eles saíssem em turnê. Algo mudou aí no meio do caminho… 😉


Serviço

Além da apresentação no Monsters of Rock, o Savatage também fará um show solo na capital paulistana, dois dias depois – no caso, no Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795 – Barra Funda, São Paulo).

Onde comprar os ingressos? Para o Monsters, basta acessar o site do Eventim. Já pro show solo, apesar dos caras terem anunciado em seu site oficial, a apresentação não consta ainda no site do Espaço Unimed e, portanto, não teve liberada a venda de ingressos. Aguardemos.

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