MaXXXine: para uma mulher, não basta ser uma estrela
É preciso salvar a si mesma – o terceiro da trilogia de Ti West traz muitas homenagens aos filmes dos anos 1980 e está mais para thriller do que para filme de terror.
Por GABRIELA FRANCO
Estreia dia 11 de julho, nos cinemas de todo o país, o filme MaXXXine que traz Mia Goth (dos filmes “Pearl” e “X”, além de neta da atriz brasileira Maria Gladys – pra não perder a piada) no papel da protagonista: uma atriz de filme adultos dos anos 1980 (auge da indústria pornográfica americana) e que tenta, a todo custo, se lançar como estrela em Hollywood.
A perseguição da fama por todas as protagonistas da trilogia de Ti West, desde X – A Marca da Morte de 2022, seguido do prequel de todos, Pearl, de 2023, e agora MaXXXine, é a linha mestra que une os filmes. O primeiro se passa em uma fazenda no Texas, um slasher clássico em um local ermo, cheio de clichês do gênero como cenas de sexo e banhos de sangue. Já Pearl explora questões de disfunções familiares, radicalismos religiosos, traumas de guerra e MAIS banhos de sangue, sendo talvez o mais violento dos três. Mas todos tratam, de modo pungente, da obsessão pela fama.
Em MaXXXine, a história se passa na vibrante Los Angeles dos anos 1980, especialmente em Hollywood, o destino de quem sonha em ser uma estrela de cinema.
O filme é bem-sucedido em capturar o espírito da época, apresentando uma estética que lembra gravações em película, figurinos extravagantes, maquiagens chamativas e uma trilha sonora repleta de sucessos da década. Além disso, retrata fielmente a situação difícil que a cidade enfrentava na época, com o aumento da violência, prostituição em Hollywood Boulevard e uma verdadeira epidemia de serial killers, cujas vítimas eram principalmente mulheres. O pânico satânico, amplificado pela mídia, também é incorporado à trama, enriquecendo a narrativa.
Obsessão pelos holofotes
A história começa com Maxine Minx, a sobrevivente de X e que, apesar de levar uma vida razoavelmente confortável – fruto de muito trabalho como atriz pornô e trabalhadora do sexo – está prestes a dar um grande passo em sua carreira: protagonizar um filme de grande circuito em Hollywood. Embora seja um filme de terror splatter, ele terá uma abordagem cult e autoral sob a direção de uma cineasta prestigiada, interpretada por Elizabeth Debicki.
Vale destacar que esse movimento realmente existiu e foi importante para o cinema na época, com diretores ganhando mais destaque do que os estúdios.
Maxine está determinada (“obcecada” seria uma palavra mais precisa) e não permitirá que nada atrapalhe sua escalada ao sucesso – uma determinação similar à da própria Pearl, que Maxine matou ao final de X.
No entanto, ela não contava com a presença do detetive particular caricato John Labat, interpretado pelo ídolo dos anos 1980 Kevin Bacon, que a chantageia com a ameaça de revelar ao público os acontecimentos do filme X – A Marca da Morte, podendo comprometer e encerrar sua carreira antes mesmo de começar.
A partir daí, o filme apresenta uma sequência de cenas excelentes, explorando graficamente muitos clichês dos filmes da época: thrillers de suspense com policiais durões que se fazem de heróis, seitas fundamentalistas que desejam purificar a terra eliminando pecadores, fitas VHS e suas videolocadoras, o fascínio de Hollywood com toda sua mística de fama e dinheiro, e solos de sintetizadores em músicas eletrizantes.
MaXXXine é o menos violento de todos os filmes de Ti West, mas inclui algumas cenas emblemáticas de empoderamento feminino que certamente agradarão ao público. Talvez não seja classificado como um filme de terror; está mais para um suspense com cenas explícitas de violência, o que pode desapontar os fãs do gênero.
Certamente, é o filme com maior orçamento de West, aproveitando o prestígio e o hype dos anteriores para contratar nomes como Kevin Bacon, Giancarlo Esposito (que interpreta o agente de Maxine) e a cantora Halsey, que faz o papel de uma de suas colegas de trabalho. O filme encerra a saga da garota que não deixou nada atrapalhar seu caminho rumo à glória de forma coesa e divertida, conquistando principalmente pela nostalgia.
Destaca-se também a interpretação da neta da atriz brasileira Maria Gladys, sempre perfeita como a musa de West.
E nossa musa, óbvio.
Porque, em alguns aspectos, errada ela não está. 😉