E se nem mesmo a morte pudesse calar a voz de alguém?
Brado Retumbante é um thriller com toques de terror e espionagem, ambientado durante o período da ditadura militar – e que está disponível para pré-venda via Catarse
Por THIAGO CARDIM
Um dos períodos mais sombrios da nossa história, a ditadura militar deixou cicatrizes terríveis não apenas na nossa jovem e frágil democracia, mas também nas vidas de seus sobreviventes e dos familiares que nunca mais tiveram notícias de seus entes queridos, simplesmente desaparecidos em condições pavorosas. Mas se este terror voltasse das rachaduras do passado para assombrar também aqueles que foram responsáveis por ele?
Esta é um tanto a ideia por trás de Brado Retumbante, HQ sobre uma soldado assombrada por suas ações no período da ditadura. No caso, a promissora agente do DOI-CODI Amália Bonfá. Filha de um empreiteiro e fadada a seguir o futuro de administrar a empresa da família, Amália decide mostrar seu valor por conta própria e, enfrentando o machismo da época, se alista no exército em busca do reconhecimento e, de quebra, da chance de livrar o país da “ameaça comunista”.
Mas o seu cotidiano faz com que ela descubra algo tenebroso após se ver livre de uma prisioneira. E como se não bastasse ser perseguida por uma criatura assustadora, em uma de suas missões ela ouve algo que a faz questionar a realidade ao seu redor, vivendo um efeito dominó irreversível.
Deixando Madeixa no passado
Aprovada e financiada pela Leia de Incentivo do Programa de Ação Cultural (ProAC), “Brado Retumbante” é uma história sobre a nossa vida tristemente real, mas nascida originalmente como uma trama de super-heróis. “Ainda jovens, eu e o Fernando DeP tínhamos o desejo de fazer uma história de super-herói. Na época, era o tipo de quadrinhos que mais gostávamos. A heroína se chamava Madeixa por causa da superforça nos cabelos”, conta a roteirista Nádia Freire, que sempre atuou nas áreas de responsabilidade social e educação, nesta entrevista exclusiva pro Gibizilla.
Ela e o marido Fernando (desenhista, ao lado de quem produziu “Eu Sabia que ia Acontecer”, via Editora Skoobooks, e que produz histórias em quadrinhos desde 2019) foram construindo a tal Madeixa e, junto com ela, alguns antagonistas. “Lembro de querer fazer vilões profundos com características humanas e que arremetessem à realidade brasileira. Assim nasceu o trio de amigos Amália, Tarso e Renato”, explica. “Três soldados da época da ditadura que iriam caçar a super-humana. Porém, com o tempo, esses personagens começaram a tomar narrativas tão profundas e interessantes que não fazia mais sentido para nós contar a história da Madeixa, mas sim a deles”.
E, finalmente, esse momento chegou.
Apesar da história ter aspectos ficcionais, a dupla se baseou em alguns jornais da época e relatos da Comissão da Verdade, mas principalmente no livro documentário de Marcelo Godoy, chamado “A Casa da Vovó”. A obra traz uma biografia minuciosa do DOI-CODI no período da Ditadura Civil Militar no Brasil, seja pelo olhar de soldados ou de guerrilheiros. “A partir dessas referências, fomos construindo a história, e a todo momento tem dicas e pistas documentais espalhadas para os leitores encontrarem”.
Mas o quanto de real tem esta história? Ela é inspirada em uma ou mais histórias verdadeiras? “Diríamos que muito”, revela a autora. “Pois a história dos personagens centrais são recortes de inúmeras histórias reais. Assim como a alegoria que envolve os ‘vilões’. Também buscamos colocar fatores que constituíam o imaginário da sociedade naquele período”, diz. “No que se refere a histórias realmente verdadeiras, colocamos algumas páginas ‘especiais’, com relatos na íntegra de soldados e ex-guerrilheiros”.
Para os autores – devidamente acompanhados do colorista e diagramador Eddie Rocha, que desenvolve concept arts para projetos de games e personagens de RPGs para campanhas, além de ser cocriador do Coletivo IlustrAtivo, que incentiva a produção artística de produtores independentes da região de Itapecerica da Serra – este momento é fundamental para uma obra como esta. “Temos vivido um período no qual alguns grupos da sociedade pedem a volta da ditadura, muitas vezes sem saber do peso dessa realidade, assim como aqueles que não só sabem, mas também se beneficiariam dela”, diz Nádia.
Ela reforça que relembrar os erros do passado é o caminho para evitar que esses eventos ocorram novamente. “O que cabe lembrar do episódio vivido em 2022, quando pudemos ver de perto como a desinformação pode trazer o engano acerca do período ditatorial”. Logo, concordamos, toda manifestação artística e crítica deve ser compartilhada, pois faz parte da natureza humana criar arte. “Principalmente num ano em que o atual governo, que se diz progressista, não deseja relembrar o período do golpe de 1964 alegando que esse tempo passou e que precisamos esquecer o passado”.
A roteirista recorda que temos, por exemplo o Museu do Holocausto, que existe pra lembrar a todo mundo e, principalmente, o povo alemão, da vergonha que foi ter existido tal período. “A Comissão Nacional da Verdade foi extinta em 2022 e não tivemos nenhum movimento para reparar os danos causados às vítimas e seus parentes da ditadura. Hoje, dedicamos essa obra a suas vítimas e familiares”.
Fica aí o puxão de orelhas pro governo corrente…
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Valdir Rafael
Fantástico, ansioso para receber meu exemplar das mãos dos meus filhos Fernando e Nádia……