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A hora e a vez de Rom, obscuro favorito da Marvel Comics

Marvel finalmente se acerta com a Hasbro e vai dar ao coitado do Rom o tratamento que o personagem sempre mereceu

Por THIAGO CARDIM

“Rom, o Cavaleiro do Espaço”.

Essa foi a resposta corriqueira do diretor James Gunn, durante as muitas entrevistas de divulgação do primeiro filme dos Guardiões da Galáxia, quando questionado sobre qual seria o seu personagem Marvel favorito e que gostaria de ter colocado em seu filme. Nada de Hulk, Homem-Aranha, Thor, Capitão América. Nenhum dos medalhões.

Não que, veja, os próprios Guardiões fossem exatamente os personagens mais conhecidos e populares da Casa das Ideias antes de sua bem-sucedida versão cinematográfica. Mas, definitivamente, eles não são o Rom. Talvez um dos heróis mais B da editora – e, ainda assim, cultuado por um grupo de fãs fanáticos por sua ficção científica retrô do final dos anos 1970.

“Vejam, eu realmente amo Rom, o Cavaleiro do Espaço. Todo mundo da Marvel sabe disso porque eles até me deram coisas do Rom”, afirmou Gunn em papo com o Geek Nation. “Mas nós não temos os direitos sobre o Rom. Eu amaria que ele aparecesse no filme, porque eu amo a história, amo o visual dele, amo tudo sobre ele…”.

Pois eis que agora, temos ótimas notícias para o pequeno, porém fiel fandom do herói.

Em 2024, vai partir a frota de busão do Rom

Pois a Marvel anunciou que FINALMENTE se resolveu com a Hasbro, empresa de brinquedos dona dos Transformers e atual de detentora dos direitos do Rom, para lançar, em janeiro, de 2024, o ROM: THE ORIGINAL MARVEL YEARS OMNIBUS VOLUME 1. As lendárias histórias de talentos como Bill Mantlo, Steven Grant e Jo Duffy, com arte de nomes como Sal Buscema e Greg Larocque, terão os seus primeiros 29 volumes reunidos neste calhamaço inicial, que trará ainda a aparição especial do personagem em POWER MAN AND IRON FIST #73, de 1978.

O omnibus trará ainda capa e artes variantes de Frank Miller, George Pérez e do próprio Buscema.

Masssssssssssssss os motores começam a esquentar já agora em setembro, quando a Marvel vai publicar uma edição fac-símile – ou seja, uma reprodução fiel do original – da primeiríssima edição do Rom, de 1979, cortesia da dupla Mantlo e Buscema.

Arte de George Pérez pro omnibus do Rom
Arte de George Pérez pro omnibus do Rom

De onde surgiu o Rom, afinal?

A história do Rom, editorialmente falando, começa assim: a dupla de americanos Bing McCoy e Richard Levy inventou um boneco chamado COBOL (a linguagem de programação estava no auge, então…). Foi lá e vendeu os direitos para a Parker Brothers, empresa com certa tradição em jogos de tabuleiro. Os seus executivos preferiram alterar o nome do brinquedo para Rom (é, sim, inspirado em ROM, informática básica pouca é bobagem). Lançaram o dito cujo no mercado e licenciaram para que a Marvel então criasse uma HQ baseada no Rom, lá em 1979. O caso é que o gibi fez muito mais sucesso do que o próprio boneco, que não chegou a ultrapassar originalmente a casa de 300.000 unidades vendidas.

Aí é que entra a bizarrice corporativa: a Parker Brothers foi comprada pela General Mills, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, e depois juntada, em 1985, com a Kenner, fabricante das clássicas figuras de ação de Star Wars na década de 1980. Dois anos depois, a Tonka – especializada em carrinhos – compraria a Kenner Parker Toys Inc., apenas para vendê-la para a Hasbro em 1991.

Portanto, até o momento, a Marvel não podia nem reimprimir as histórias originais do herói espacial favorito de James Gunn e muito menos fazê-lo aparecer em revistas de outros dos seus combatentes das forças do mal…

Mas quem é o Rom, diacho?

Este camarada de armadura branca nasceu no distante planeta Galador, lar de uma civilização pacífica que resolveu espalhar sua tecnologia e sua mensagem de uma vida sem guerra por todo o universo. No entanto, as coisas deram errado assim que eles chegaram na tal da Nebulosa Negra e se depararam com uma frota hostil dos Espectros, um grupo de seres sombrios que misturavam tecnologia com magia negra e tinham planos de…de…quem disse “conquistar o universo” vai ganhar um biscoito Trakinas.

É mentira, não vai não. Foi só um recurso dramático.

Cientes do perigo que os Espectros representavam para a paz na galáxia, os galadorianos começaram a desenvolver medidas para combatê-los – incluindo a criação de armaduras de combate feitas de plandanium (metal que nem o adamantium conseguia sequer riscar) para formar um exército, com superforça, poder de voo e a poderosa arma chamada de Neutralizador, que revelava a forma real dos Espectros e ainda podia jogá-los para o Limbo, uma outra dimensão onde não incomodariam mais ninguém.

O grande problema é que usar uma armadura destas requeria um baita sacrifício, já que ela aos poucos vai tornando seus usuários mais máquinas do que homens, roubando sua humanidade de maneira irreversível. Pensando no bem do universo, eis que o tal do Rom foi o primeiro voluntário. Ele e todos que o seguiram se tornaram os Cavaleiros do Espaço de Galador.

Depois de uma avassaladora vitória na batalha contra os Espectros, os Cavaleiros tiveram que lidar com outro problema: alguns dos metaformos restantes, fugitivos, aproveitaram seus poderes de mudança de forma e se mandaram pelo universo, infiltrando-se na população de planetas mais frágeis com o objetivo de dominá-los enquanto reagrupavam suas forças para vingar-se de Galador. Logo, os justiceiros enlatados se espalharam por aí em busca dos vilões. E adivinha só onde foi que os sensores de Rom indicaram que tinha uma forte colônia de Espectros?

Na Terra, é claro! 😀

Capa do gibi do Rom
Capa do gibi do Rom

O gibi original do Rom se parecia bastante com uma daquelas ficções científicas B dos anos 1970, uma espécie de produção bastante criativa mas com baixo orçamento. O tipo de coisa que um sujeito como James Gunn adoraria, por óbvio…

Depois de alguns incidentes, nos quais foi confundido pelos heróis terrestres com um invasor alienígena atacando pobres e indefesos humanos (afinal, os Espectros podiam se disfarçar da forma que bem entendessem, não esqueçam), finalmente Rom se tornou um combatente do mal reconhecido em nosso planeta, atuando ao lado dos Vingadores, dos X-Men e do Quarteto Fantástico, por exemplo.

Cancelada em 1986, a revista de Rom durou exatas 75 edições ao longo de sete anos, mas fez parte oficial da continuidade da Marvel.

Depois que Rom retornou com a humana Brandy Clark para Galador com o objetivo de repopular o planeta enquanto ele mesmo tentava se tornar menos robótico e mais, bom, humano, o personagem praticamente sumiu dos gibis da editora – por óbvios motivos judiciais. No entanto, seus dois filhos, Balin e Gtristan, chegaram a ser vistos na mais recente formação dos Cavaleiros do Espaço em uma série de vida curta batizada de Spaceknights (UAU), por volta do ano 2000.

Mais tarde, na saga Aniquilação, Blastaar (da Zona Negativa) foi visto ao lado de alguns destes guerreiros. E em 2013, durante o épico Infinito, Galador acabou sendo atacado e destruído pelos Construtores – lembrando, claro, que esta série foi justamente a base sobre a qual o roteirista Jonathan Hickman desenvolveu tudo que rolou em suas Guerras Secretas, com o conceito da incursão de planetas/realidades desenvolvido para EM TESE mudar todo o cenário do Universo Marvel.

Lembremos ainda que a história de Rom nos gibis NÃO se resumiu à Marvel Comics, no entanto. Entre 2016 e 2020, a IDW Publishing conseguiu licenciar o personagem da Parker Brothers e lançou uma série recorrente do personagem, com roteiros da dupla Christos Gage e Chris Ryall, além da arte de Paolo Villanelli. Além de ter feito parte do crossover Transformers: Unicron dentro da editora, interagindo de alguma forma com outras propriedades da Hasbro, ele ainda estrelaria Rom: Dire Wraiths, uma segunda série contínua, com Ryall escrevendo e artes de Luca Pizzari, Guy Dorian e do próprio Sal Buscema.

Se este acordo da Marvel com a Hasbro significa alguma mudança no status ATUAL do personagem, no que diz respeito à sua aparição nos gibis da cronologia corrente ou mesmo, quem sabe, permite uma versão nas telonas, só o tempo vai dizer…

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