Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.
Melhores Séries de 2022

10 séries sensacionais que amamos em 2022

Agora é hora de destacar as séries que deixaram a gente vidrado a cada episódio ao longo do interminável ano de 2022

Por THIAGO CARDIM

Este foi um ano, digamos, bastante interessante para os fãs de séries. Teve realmente muita coisa boa rolando – das mais mainstream, popzão mesmo, aquele hype que toma conta das redes sociais durante semanas a fio, até àquelas mais obscuras, que pouca gente comenta e acabam lançadas sem muito barulho nos streamings da vida. Sinal de que, apesar dos pesares, apesar de concordar e achar justas todas as discussões a respeito do consumo de conteúdo nos serviços como Netflix, Disney+, HBO Max e demais, o cardápio foi bastante do apetitoso.

Para além dos hominhos superpoderosos. Para além dos elfos e dragões. Para além até mesmo dos EUA. Às vezes, uma cozinha de um restaurante de subúrbio ou um singelo escritório podem ser cenários de tramas BEM mais interessantes.

Claro que esta seleção de séries aqui (em ordem alfabética e sem nenhum ranking específico) reflete o NOSSO gosto, aqui, do Gibizilla. E também o recorte que nós assistimos, entre gravações de podcast, estudar, ler gibi, ver filme, brincar com os filhotes, cuidar dos gatos, namorar e todas as outras coisas relativas ao emprego número 1, o que paga as nossas contas DE VERDADE. Portanto… não, não diga “ah, faltou esta ou aquela”. Porque não faltou. Porque esta é a nossa seleção. Dentre as séries que conseguimos ver. Porque não vimos todas as séries do mundo e, bom, podemos ter o direito de não ter sequer GOSTADO daquela que você diz que curtiu. Se você acha que faltou alguma, faz aí a sua lista e beleza, hahahahaha.

Mas antes de entrar nas 10…

MENÇÕES HONROSAS
Only Murders in The Building – Miss Marvel – Entrevista com o Vampiro – Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder – A Casa do Dragão – Paper Girls – A Serpente de Essex – Gaslit – Vikings: Valhalla – His Dark Materials: Fronteiras do Universo – Sandman

Agora sim, que rufem os tambores!!!!!!

ANDOR
Onde ver – Disney+

Como a Gabi costuma dizer, este é o “Star Wars para adultos”. Mas acho que vai muito além disso. É Star Wars para além da Família Skywalker. Que usa um filme excelente, Rogue One, como ponto de partida (ou, no caso, de chegada) para mostrar que existe mais no mundo de Guerra nas Estrelas do que a Força ou sabres de luz. É discutir política enquanto mostra DE FATO como o Império domina a galáxia, nas ruas, nos bastidores, com tirania e burocracia, sem Imperador ou Darth Vader. Pra quem ainda duvidava que Star Wars era uma história sobre fascismo…

A LENDA DE VOX MACHINA
Onde ver – Amazon Prime Video

Falar de fantasia faz a gente pensar, de imediato, em Tolkien. E há quem diga que, num ano em que tivemos uma série de Senhor dos Anéis, tivemos o seu “extremo oposto” que é A Casa do Dragão. Pois porra nenhuma. O que tá no outro extremo da fantasia tolkieniana, ainda que use todos os seus estereótipos, é mesmo A Lenda de Vox Machina. Os caras do canal de RPG Critical Role transformaram a sua longeva campanha de RPG transmitida via YouTube em animação – e repleta de personagens de humor questionável e moral mais questionável ainda. Fique de olho no maravilhoso bardo Scanlan.

CHAINSAW MAN
Onde ver – Crunchyroll

Assim, deixa de lado todo este papo babaca de “o futuro é pika”. E foca no anime. Porque ele, de fato, merece a sua atenção. Parece até, aliás, que estes incels da vida nem sequer entenderam que, em determinadas ocasiões, a série está é tirando sarro deles, isso sim. Apesar do visual RADICAL do personagem principal e das lutas gráficas realmente sangrentas, a trama está LONGE de se focar só nisso. Diversos episódios passam, aliás, sem uma cena sequer de combate e se focam no relacionamento entre os personagens – que, sim, são interessantes, plurais e vão além do protagonista – e mesmo numa pegada quase romântica. Dá pra sentir como se eles estivessem mesclando e brincando com diferentes gêneros de animação japonesa. Destaque pra maravilhosa música de abertura.

CHUCKY – TEMPORADA 2
Onde ver – Star+

Ah, Don Mancini. Você teve a manha de transformar esta série no meu amorzinho. Não dá pra evitar. Tá, o protagonista é um boneco cujo corpo de plástico é habitado pela alma de um sociopata. E a trama segue em torno de sua busca por sangue, com a contagem de pelo menos uma morte sanguinolenta e mirabolante por episódio. Mas o ponto é que o humor nonsense e o altíssimo nível de absurdo desta bagaça, somados com um desenvolvimento sensacional de personagens (com uma presença LGBTQIAP+ fortíssima e tratada de maneira doce e absolutamente natural), dão uma dose de carisma tão grande pra esta produção que você pouco estranha estar completamente apaixonado por uma série de TERROR. Ou, bom, quase isso.

KAMEN RIDER BLACK SUN
Onde ver – Amazon Prime Video

Vi. Senti. E chorei. Sério. Para celebrar os 50 anos da franquia Kamen Rider, eles fizeram esta série, com 10 episódios, que seria uma releitura moderna do Black Kamen Rider – pois é, caro leitor e cara leitora com mais de 30 anos de idade, aquele mesmo que foi exibido na Rede Manchete. Então, sim, tem um elemento retrô fortíssimo aqui (quando o protagonista e seu rival, Shadow Moon, surgem com uniformes numa versão similar à da série e, principalmente, quando eles emulam a abertura da série original com a música de abertura clássica, meus olhos se encheram de lágrimas). Porém, a trama é toda modernizada e adaptada para falar de preconceito, com momentos que são referências diretas ao Black Lives Matter, por exemplo. No alvo. Henshin.

MULHER-HULK
Onde ver – Disney+

Assim, se você OUSOU começar qualquer reclamação a respeito do CGI da heroína esmeralda (e eu imagino que isso possa ter passado pela sua cabeça), melhor pensar novamente. Agora, se você OUSOU começar qualquer reclamação a respeito da presença de super-heroínas na TV, chamando ela de Mary Sue ou qualquer merda assim, saia deste site imediatamente. Vai, vai. Vaza. A série da Mulher-Hulk é leve, divertida, bem-humorada, usando de maneira incrível a questão da quebra da quarta parede, e tratando tudo com uma fidelidade brutal às fases do John Byrne e do Dan Slott. Juro que eu veria, tranquilíssimo, uma temporada completa com belos 25 episódios. Era um dos momentos mais gostosos do meu final de dia.

NOSSA BANDEIRA É A MORTE
Onde ver – HBO Max

É uma série de piratas. Mas é, antes de qualquer coisa, uma comédia. Só que, vamos ser honestos, é uma comédia romântica. E, para ser ainda mais honestos, é uma comédia romântica LGBTQIAP+. E com toda a assinatura de ninguém menos que Taika Waititi (que é, aliás, o Barba Negra em pessoa, justamente um dos vértices deste romance). O resultado disso é uma série muito divertida, cheia de personalidade (se você já viu What We Do in the Shadows, também do Taika, sabe do que estamos falando), gostosa de ver, do tipo que não dá pra largar até chegar no final. Se tem uma série que eu quis MUITO maratonar em 2022, definitivamente foi esta.

PACIFICADOR
Onde ver – HBO Max

Aquela abertura, com aquela dancinha e AQUELA música (saudades Wig Wam!), que simplesmente não dava pra pular. É James Gunn na mais pura essência, servindo hard rock farofa a rodo na trilha sonora – com direito até ao próprio John Cena tirando “Home Sweet Home”, do Mötley Crüe, no piano – enquanto desconstrói um bando de personagens B da DC Comics, a começar pelo próprio Pacificador. É uma série de ação com humor na medida certa, mas um humor de tiozão mesmo, tiozão do pavê (do tipo que NÃO é fascista, diga-se), do tipo que se espera de uma comédia de ação estrelada por um brutamontes na mesma vibe daqueles clássicos dos anos 1980 com Stallone e Schwarzenegger. Irresistível.

PAM & TOMMY
Onde ver – Star+

Por falar no Mötley Crüe, aliás, aqui temos Sebastian Stan incorporando, de maneira impressionante, o baterista Tommy Lee – enquanto, ao seu lado, Lily James magicamente se transforma em Pamela Anderson. O casal mais badalado dos anos 1990 tem os bastidores da sua infame sex tape expostos, em uma narrativa ágil, inteligente e pop. E que, o mais importante, não deixa de expor o quão ridículo era Lee, o momento em que vivia, e nem de culpabilizar quem de fato era culpado: no caso, o escroto que roubou a fita e espalhou por aí. Pamela não é, ainda bem, tratada como nada além de vítima nesta história. Outra coisa interessante: relembrar como eram as coisas REALMENTE no começo da internet…

PISTOL
Onde ver – Star+

Deram na mão do Danny Boyle a chance de contar a história dos primórdios dos Sex Pistols, ícones do punk. E ele não perdeu a chance. Com inteligência e uma trilha sonora espetacular – que vai além dos Pistols – ele não deixa de mostrar todos os ângulos, inclusive aqueles mais ridículos e questionáveis (como a anarquia de butique). Destaque monstro pro ator Anson Boon, que faz uma interpretação visceral do vocalista Johnny Rotten, muitíssimo mais interessante do que a atual versão Trumpista da vida real.

RUPTURA
Onde ver – Apple TV

Uma série sobre a vida num escritório. Mas não, não é The Office. Porque vai muito além desta premissa que, originalmente, de fato já poderia ser um pesadelo. Como o Silas disse aqui neste ótimo texto sobre a cultura pop abordando o fascismo em 2022, Ruptura (em inglês, Severance) é sobre escolhas. Sobre um tipo de prisão que, à exceção da alegoria que vemos na história, e sobre a qual não vou falar nada porque VOCÊ deveria descobrir isso sozinho pra não perder a graça, está muito próxima de cada um de nós. Sobre a vida no trabalho e também fora dele. Sobre capitalismo. E sobre “vestir a camisa”.

THE BEAR
Onde ver – Star+

Esta a gente demorou a descobrir e embarcamos muito depois no trem do hype. Mas já ao final do primeiro episódio, estávamos apaixonados. A trama aparentemente basal sobre um grande chef de cozinha, de restaurantes refinados, que redescobre e ressignifica a sua paixão pela comida ao assumir o negócio de qualidade questionável do falecido irmão, ganha toda uma série de camadas a cada capítulo conforme você vai se aprofundando na história de cada integrante da equipe. E a fotografia, uau, é um caso à parte. É bela, natural, provocativa, intensa, do tipo que te dá fome a cada tomada.

THE SERPENT QUEEN
Onde ver – Globoplay

Com foco na intriga palaciana e numa modernização dos personagens históricos que lhes dá mais empatia mas sem lhes tirar os tenebrosos defeitos, esta série é sobre a infame rainha Catarina de Médici, rainha francesa que os livros tratam como vilã. E, bom, talvez ela seja mesmo. Mas o jeito com que Samanta Morton defende o papel é tão potente que se torna bem difícil não, bom, meio que torcer por ela. Por mais que a gente esteja vendo, ali, escancarados, os seus métodos escusos para tentar chegar ao trono. Olha só, quem nunca, né (eu não, mas enfim, cêis pegaram o espírito).