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Amor e Trovão é uma boa aventura do Thor. E só isso. E tá ótimo.

Novo longa do Deus do Trovão da Marvel dirigido por Taika Waititi, Thor – Amor e Trovão é leve, bem-humorado, com o coração no lugar certo e ainda tem começo, meio e fim, sem depender de cronologia ou universo expandido – o que é uma ÓTIMA notícia

Por THIAGO CARDIM

Depois do tiro certeiro que foi Thor – Ragnarok, de longe top 5 dos filmes do MCU até o momento (e se você não concorda, sugiro nem terminar de ler este texto), o diretor Taika Waititi chegou cheio de moral para esta quarta aventura solo estrelada pelo herói, Thor – Amor e Trovão. E o cineasta, com uma assinatura narrativa própria e uma inesperada liberdade criativa por parte da Marvel, tomou uma série de medidas acertadíssimas, a começar por tornar tudo uma espécie de história sobre um viking espacial trazendo o alien de pedra Korg, cuja voz é do próprio Taika, como narrador.

De imediato, com meros 10 ou 15 minutos de projeção, Korg/Taika já dá o tom do que vem a seguir e você simplesmente não pode dizer que foi enganado – ao contar um pouco das aventuras de Thor pelo cosmos ao lado dos Guardiões da Galáxia (que fazem apenas uma micro figuração de luxo e saem de cena, já vou logo avisando), ele deixa claro que o que veremos ali é um espetáculo de piadas infames, uma galhofa assumidíssima, uma belíssima porção de farofa com direito a fartas doses de músicas dos Guns ‘n Roses e até ao Thor de jaquetinha dos anos 1990 (belíssima homenagem ao Trovejante, substituto de Odinson em certo momento nas HQs).

Isso tá claro desde o primeiro momento e não dá pra reclamar. Quem foi ao cinema buscando algo diferente, se deu mal. Mas, dito isso, o monólogo inicial do filme pós-vinheta (quem assistir, vai sacar o motivo desta expressão) também foi inteligentemente usado pelo Taika pra deixar claro que esta é uma “aventura do Thor”. Simples e diretamente assim. Thor – Amor e Trovão te explica resumidamente tudo que você precisa saber pra curtir o filme e segue o baile. Não é preciso, pra ser bem honesto, nem ter assistido a qualquer um dos filmes anteriores do Thor (incluindo aí o Ragnarok) pra sacar o que está rolando.

Ou seja: Thor – Amor e Trovão faz parte do MCU, claro. Tá lá, dentro da cronologia, logo depois de Ultimato, aquela coisa. Mas é uma história com começo, meio e fim. Que não apresenta e nem sequer dá pista de um “grande arco maior” para a Fase 4. Nada de Kang, Mefisto, Galactus ou qualquer coisa assim. Esquece. Tamos falando de um filme tão autocontido quanto um bom arco do Thor nos gibis que nem sequer menciona outros personagens da própria Marvel. É o Thor pelo Thor. Aqui, no caso, em dose dupla.

Thor - Amor e Trovão
Thor – Amor e Trovão


A questão do MCU

Ó, assim, já falei sobre isso aqui no Gibizilla, já falei no nosso podcast, já falei em podcasts de amigos, mas vale o parênteses novamente – no começo, enquanto leitor de gibis de hominhos desde que me entendo por gente, mas é óbvio que esta coisa toda de universo expandido, de filmes e séries conectados, me agradava deveras. Era muito legal fazer as conexões, coisa e tal. Mas comecei a me cansar disso quando virou OBRIGAÇÃO. Quando estar preso ao grande plano se tornou muleta. Quando a gente não tinha mais um filme e sim apenas um mero capítulo servindo ao propósito maior.

Por isso eu gosto TANTO dos filmes dos Guardiões da Galáxia, incluindo aí o segundo. Por isso eu adorei a série do Gavião Arqueiro, a do Cavaleiro da Lua, a da Miss Marvel. Porque as referências estão lá, mas servindo apenas e tão somente como referências que são.

Neste sentido, sim, eu sei, é a Marvel sendo vítima de um modelo que ela mesma criou, recebendo dos fãs cobranças por integração, por pistas a respeito do mais novo arco, pela identidade do novo vilão que pode então levar ao novo épico, ao novo crossover, ao novo encontro entre dezenas de heróis numa mesma cena. Mas eu, enquanto espectador, tô ADORANDO ver histórias, tanto nas telonas quanto nas telinhas, que se preocupam muito mais com a sua própria trama, fechadas em si mesmas, com o único objetivo de te divertir.

Dito isso…

…este filme do Thor diverte que é uma beleza. Sei bem que o conceito de “filme Sessão da Tarde” não é lá muito amigável pra quem não tem seus trinta, quarenta anos de idade, mas não consigo pensar em outra forma de descrever Amor e Trovão. Talvez como “filme conforto”, daquele tipo que você assiste quando tá precisando descansar o cérebro e encontrar uma folga para o coração, quentinho e confortável. Uma aventurona otimista, colorida, ensolarada, que você devora junto com um pacote de pipocas, se acabando de rir ao lado dos seus melhores amigos.

Como a gente aqui do Gibizilla não foi convidado pela Dona Disney pra exibição de imprensa (fica aí o shade direto e reto, absolutamente inevitável), chamamos alguns de nossos melhores amigos e fomos para o cinema, por conta própria, apenas porque sim – e, bom, a cena elaborada acima é a descrição mais fiel da realidade.

Para quem andou lendo os gibis do Thor nos últimos anos, obviamente que a trama tem ecos da fase do roteirista Jason Aaron espalhados por todos os cantos. Mas, acima disso, é um filme de Taika Waititi na essência. Aqueles dois bodes, Tanngrisnir e Tanngnjóstr, são saídos diretamente da mitologia e estão lá, ao lado de Thor, nos gibis. Mas o fato de eles se tornarem estas criaturas gritadoras (e confesso que TODA MALDITA VEZ que eles gritavam eu ria descontroladamente), vindo diretamente de um meme da Taylor Swift, é Taika non-sense completo e absoluto. Assim como as DRs que o herói tem com seu machado Rompe-Tormentas e com o martelo Mjolnir – sim, sim, isso acontece, é bizarro, é hilariante e faz total sentido.

Mas, além disso, outra das marcas de Taika está forte na história: o sentimento. A emoção. Mais do que o amor entre Jane e Odinson, que é bonitinho e tal, ganhando ares de comédia romântica, o que importa de verdade no retorno de Natalie Portman é a sua luta contra o câncer. Isso é, mesmo numa trama leve, algo bem forte, intenso, tratado com respeito e de maneira franca e honesta. Claro que, sendo fã de carteirinha da fase de Jane como Thor, eu queria MAIS dela no filme. Mas entendo que, dentro da trama, aquele era o espaço que cabia e, bom, tá na cara que é uma apresentação que pode render novas aparições no futuro.

É nitidamente Taika a aparição do jovem Axl, filho do saudoso Heimdall, que de maneira bem natural e sem alarde, se revela uma criança trans. Isso sem falar na cada vez mais incrível Valquíria, vivida por Tessa Thompson, um dos destaques do filme, sem nunca perder a personalidade, o humor e sem jamais esconder o fato de que ela é uma mulher que gosta de outras mulheres. Tá lá, tá na cara e tudo bem. Tanto quanto o fato de que descobrimos que a raça de Korg só gera novos descendentes a partir do relacionamento entre dois machos da espécie. Tudo numa boa, tudo natural, como é na vida… ou, pelo menos, como DEVERIA ser.

Thor - Amor e Trovão
Thor – Amor e Trovão


Pois sim, temos um novo vilão

É, tem o Christian Bale na jogada como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, escolhido pela Necroespada, a única capaz de matar entidades dos mais diversos panteões. É em torno dele que a história gira, sem muitas subtramas, enxuto, direto ao ponto. A perda de uma pessoa amada no passado, a frustração por não ter sido ouvido pelo deus ao qual serviu a vida inteira… É isso que faz a caçada chegar na Nova Asgard, agora na Terra, e é isso que atrai o Thor de volta ao nosso simpático planetinha azul.

“Ah, mas depois da apresentação dos deuses egípcios na série do Cavaleiro da Lua, é um desperdício ele ficar só neste filme, não ser uma coisa maior, não se tornar o caçador de outros deuses”. Não, minha gente. Nem tudo na vida precisa necessariamente ser algo maior, épico, monstruoso, surpreendente. Às vezes ele é só um bom vilão de uma boa, porém pequena história. E tá tudo bem.

Agora, assim… além do fato de Bale fazer a sua ótima interpretação costumeira, entregando um monstrengo canastrão na medida certa para este tipo de história (porque, afinal, nem todo papel pede aquilo que se convencionou chamar de “oscarizável”), Gorr é um personagem que, tal qual Killmonger, não tá tão errado assim. Óbvio que seus métodos de homem transformado em demônio das sombras pela influência da lâmina sombria são questionáveis. Mas o jeito que ele questiona os deuses (a ponto de mexer com os sentimentos da própria Valquíria, que perdeu todas as amigas em um campo de batalha sem contar com a ajuda dos deuses, que as deixaram sozinhas) faz um BAITA sentido e vale tanto pra religião quanto para A VIDA. Trabalho, escola, vida pessoal. Tudo. Errado não tá.

Vale para seres que se colocam acima de nós, que nos comandam, nos controlam, contam com nosso sangue e suor… e tudo que querem é devoção cega. É como diz a frase clássica, “no gods, no masters”. Mas estou divagando aqui.

Pra encerrar o papo…

Minha ÚNICA crítica ao filme? O clássico “Rainbow in The Dark”, do mestre Ronnie James Dio, tocar só nos créditos finais. Pra mim, a música combina tanto com o filme que qualquer sequência envolvendo a Bifrost, nossa clássica ponte do arco-íris, já daria motivo suficiente para ouvir o eterno baixinho cantar enquanto a porrada comia nos monstrengos das trevas com o martelão.

Mas tudo bem. Sempre tem uma próxima vez.  

PS – A respeito da SEGUNDA cena pós-créditos, assim… Vou evitar dar spoilers, mas, tem duas coisas aí. A primeira é que, NESTE CASO, quem lê os gibis meio que já esperava que isso fosse acontecer e, AÍ SIM, tem uma oportunidade em potencial pro tal filme dos Thunderbolts, já anunciado. Assunto pra discutir em outro momento. Mas, além disso… A ESCALAÇÃO. O intérprete escolhido. Simplesmente GENIAL. Queria mais, muito mais, tipo assim, AGORA. Mas tudo bem. Vou dizer que aguento esperar.