O belíssimo espetáculo visual de Elvis
Baz Luhrmann enfrentou uma tarefa colossal ao condensar a carreira de mais de duas décadas de Elvis, o rei do rock, em um único longa de 2h. Mas será que funciona?
Por GABRIELA FRANCO
No dia 13 de julho, comemoramos o tal do Dia Mundial do Rock, que na verdade nasceu lá em 1985 com o megaevento Live Aid organizado por Bob Geldof, vocalista do Boomtown Rats, que reuniu os maiores nomes da música na época pra chamar a atenção dos líderes mundiais a respeito da questão da fome na Etiópia.
(Vale lembrar, obviamente, que esta data, apesar do “Mundial” no nome, é comemorada apenas no Brasil. Este texto aqui explica direitinho os motivos.)
Não coincidentemente, mas muito provavelmente por conta de marketing, estreia neste dia 14 (quinta) nos cinemas de todo o Brasil, o mais novo filme do diretor australiano Baz Luhrmann (Romeu e Julieta, Moulin Rouge, O Grande Gatsby e até a série The Get Down, para a Netflix).
Trata-se de Elvis, claramente um filme-homenagem ao chamado “Rei do Rock”, Elvis Aaron Presley, o garoto do Tennessee que foi o porta-voz da mídia escolhido para levar o então recém-nascido e controverso rock’n roll ao público branco e com poder aquisitivo, tirando-o dos guetos negros e transformando-o no fenômeno sóciocultural e econômico que conhecemos hoje.
Antes de tudo, um filme-espetáculo
Baz Luhrmann é sinônimo de espetáculo, grandiosidade, brilho e música, praticamente o Andrew Lloyd Webber do cinema – Elvis, o filme, não é diferente nesse quesito.
Quem espera uma história totalmente acurado, que vá abordar controvérsias da vida do homem por trás do mito como seu vício em álcool e drogas, as vezes em que foi abusivo com mulheres, sua paixão por armas, entre outros aspectos sombrios de sua personalidade, vai se frustrar. E, sinceramente, não é a isso que o longa se propõe. Não é um documentário, mas sim uma ficção, o famoso “baseado em fatos reais”, que condensa magistralmente duas décadas de transformações pessoais na vida do astro ao mesmo tempo em que tenta captar a conjuntura da época e o impacto que o rock teve como a primeira grande manifestação de cultura pop a níveis mundiais.
A paternidade do rock
O longa acompanha a trajetória da vida do artista, em uma interpretação assustadoramente precisa de Austin Butler, desde seu nascimento em Memphis, onde morava em uma comunidade de baixa renda – tendo negros, totalmente segregados naquele período, como grande maioria e influência direta em sua vida. O filme aborda também a interferência da igreja Assembléia de Deus e seus cânticos gospel spirituals, a presença de clubes de blues e a figura ultra protetora de sua mãe, Gladys Presley, que teve grande peso em sua jornada e que carinhosamente o chamava de “bubba”.
A influência da música negra e da suposta amizade do cantor com artistas negros que, sabemos bem, foram os VERDADEIROS precursores do rock’n roll, como Sister Rosetta Tharpe (Yola), B.B King (Kelvis Harrisson Jr) e Little Richards (Alton Mason), é também um grande tema no filme.
Ao longo da película, parece haver uma espécie de mea culpa de Elvis por estar fazendo sucesso enquanto apenas reproduz o que os negros já faziam há tempos. O longa perpassa a questão política e racial da época de uma forma leve, mas ao menos esse ponto crucial na história do rock não foi deixado de fora, assim como a questão da repressão sexual na sociedade americana dos anos 1950, que foi o pavio que fez o foguete “Elvis, the Pelvis” atingir as estrelas.
Propriedade do Coronel Tom Parker
Então, o filme toma como linha mestra sua ascensão à fama, começando por seu relacionamento com o controverso e controlador empresário “Coronel” Tom Parker (Tom Hanks), mergulhando na dinâmica entre o cantor e seu empresário, que usa de meios escusos para controlar a carreira do jovem, lucrando o máximo possível com sua galinha dos ovos de ouro.
Isso tudo tendo como pano de fundo a paisagem dos EUA em constante transformação e a perda da inocência e o amadurecimento de Elvis ao longo dos anos. O grande trunfo de Luhrmann está na forma lúdica e dinâmica de conduzir a narrativa, fazendo paralelos com contos de fadas, imagens circenses burlescas, entre outros recursos. A produção de arte, figurino, fotografia, edição e montagem são fundamentais para causar no espectador a imersão necessária no âmago desta lenda moderna que moldou e ainda molda a forma como lemos e compreendemos a cultura pop nos dias de hoje.
Um grandioso espetáculo.
Assista com o coração aberto, os quadris soltos e os pés faceiros para dançar muito.