Os Melhores Filmes de 2021
Para um site que tem GIBI no nome, é sintomático não ter nenhum filme adaptado de quadrinhos (em especial aqueles de super-heróis) nesta lista, né?
Por THIAGO CARDIM
É, aconteceu. Chegou o ano em que a minha lista de filmes favoritos não tem nem um único super-herói. Depois da loucura que foi a última década, com esta explosão de gibis tomando forma nas telonas, da realização dos meus sonhos molhados da adolescência ao ver muitos dos meus personagens favoritos enfim cristalizados em live-action, deu no que deu. Mas esquece este lance aí de “saturação”.
Óbvio que teve pandemia, uma diminuição brutal de lançamentos. E óbvio que eu AMEI o Esquadrão Suicida do James Gunn e, sim, o novo Homem-Aranha. Chorei milhares, meu personagem favorito, mil coisas. Só que vai ALÉM disso aí. Porque eu vi tanta, mas tanta coisa além disso, tanta coisa que me tocou, que mexeu comigo, que não dava pra colocar os heróis e heroínas uniformizados na frente de determinadas narrativas apenas porque sim.
Tomara que você curta esta seleção. E ela te inspire não a parar de ver filmes de hominhos, que a gente ainda adora e vai continuar vendo até dizer chega. Mas a ver TAMBÉM outras paradas. Faz bem.
Em tempo – pra quem tá no barato de ver TUDO que eu assisti ao longo de 2021, fiz esta listinha aqui no Letterboxd. Aproveita e segue nóis por lá.
Ah! Isso NÃO é um ranking, tá? Os favoritos estão aqui sem ordem definida, propositalmente misturados. Apenas porque sim.
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Candyman
O que a diretora Nia DaCosta fez aqui foi mais do que apenas respeitar a obra original. Mas sim atualizá-la, dando outro significado ao mito – e sem deixar de amplificar um aspecto social que estava MUITO presente no filme de 1992. No fim, mais do que remake, reboot ou “continuação espiritual”, este novo Candyman é um filme por conta própria.
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Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Falar de aborto na adolescência de um jeito que não soe moralista ou condescente não é tarefa fácil. Mas o que este filme faz é brilhante. Nos olhares, nos toques, nos silêncios entre as duas personagens principais, ele consegue dizer mais do que muita gente acharia possível.
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Tick, Tick, Boom!
Chorei. Caralho, chorei MILHARES. Acho que eu não me lembrava de ter chorado tanto assim num filme recentemente. Andrew Garfield tá sensacional, talvez seja o grande papel da carreira dele até agora. Um musical lindíssimo sobre amizade, sobre expectativas, sobre recomeçar, sobre a cobrança que a sociedade (e a gente) faz sobre nós mesmos.
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Last Night in Soho
Ah, menino Edgar, seu lindo. Era justamente o que eu esperava e ainda mais. Entrecortando duas narrativas, passado e presente, ele fala sobre ser mulher sob diferentes olhares – te levando por uma conclusão inesperada que, de verdade, nem tinha necessariamente a pretensão de ser um “final-surpresa”. Mas foi. Do seu jeito.
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Pig
A melhor atuação da carreira do Nicolas Cage. Sem exagero. Ou, pelo menos, caso você não concorde, vai ter que concordar que é a melhor atuação da carreira dele depois que ligou o foda-se pra Hollywood e se meteu a fazer filmes independentes esquisitos. Tipo este. Que é uma lindeza. É totalmente diferente do que você imagina pelo trailer, pelo Cage. E te pega pela alma e pelo coração.
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The Green Knight
Muita gente se decepcionou porque tava esperando algo numa outra pegada. Eu não. É um filme de fantasia, um filme “épico”, mas é também outra coisa. Porque tem um ritmo diferente, mais suave, mais introspectivo. E usa as alegorias típicas do gênero pra falar de OUTRAS coisas. É menos sobre bravura, coragem e estas paradas. E mais sobre quem você é de verdade. E o que você é.
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Shiva Baby
Acho que, desta lista, este desponta um tantinho na frente como meu favorito. Uma trama que se passa dentro de uma casa, sobre uma jovem judia que tem que encarar a família tradicionalista em meio a um funeral, tendo que lidar com seus próprios segredos. Ao mesmo tempo dramático e engraçado, leve e sufocante. E contado de uma maneira tão simples. Eu, enquanto escritor, queria ter ESCRITO este roteiro. Sério.
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Willy’s Wonderland
É, tem OUTRO filme com o Nicolas Cage aqui e eu quero que se foda. Porque é uma pegada TOTALMENTE diferente. Aqui o lance é galhofa. É o exagero. É o sangue falso. E é o Cage interpretando a sua faceta badass, sem dizer uma única palavra ao longo da projeção toda, pra gente se rasgar de rir do seu olhar propositalmente forçado e canastrão. Amoooooooooooo.
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Marighella
Sabe aquele adjetivo “necessário” que virou obviedade, que todo mundo me inventou de usar nos posts do Instagram? Então, ESTE sim é um filme necessário. MESMO. Pro momento em que vivemos no mundo e no Brasil, em específico. É um pedaço da nossa história apagado, um personagem multifacetado que deve ser discutido e entendido. A gente até colocou o diretor, Wagner Moura, pra falar a respeito.
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Anônimo
Este é O grande filme de ação do ano. E estrelado pelo astro mais improvável, o Bob Odenkirk de “Better Call Saul”. Um pai de família bem mediano, um zé ninguém, um sujeito que você ignoraria ao passar pela rua. E a história que se desenrola ao redor dele, uau. Não é nenhuma grande novidade em termos de trama. Mas o jeito que ela se desenrola é divertido DEMAIS.
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A Crônica Francesa
Wes Anderson sendo totalmente Wes Anderson. Ele espalha a sua assinatura narrativa e visual por todos os cantos aqui, reunindo um elenco genial em uma história sobre um bando de bons contadores de histórias. O resultado são histórias sendo contadas dentro de histórias, em camadas, com delicadas doses de metalinguagem, de um jeito que você não consegue escapar. Eu veria pelo menos mais umas 2 horas de filme, sem sacanagem.
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Belfast
Sabe “A Vida é Bela”? Este filme é quase isso, só que ambientado numa Irlanda na qual começam a nascer os sangrentos conflitos entre protestantes e católicos. Doce, amoroso, intimista, um filme sem grandes pretensões a não ser mostrar as escolhas difíceis que uma família tem que tomar e o olhar de uma criança, sem preconceitos, sobre elas.
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Annette
Uma adição de última hora a esta lista. Mas não tinha como ser diferente. É um musical, também. Mas completamente diferente do que se imaginaria para o gênero. Um musical sombrio, tenebroso, sobre o preço do sucesso, da fama. E sobre como isso impacta quem está ao redor. A decisão criativa sobre COMO retratar a pequena Annette pode parecer estranha, mas é uma sacada certeira. Não quero estragar a surpresa, mas tem a ver com um conto de fadas clássico…