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A história de Krypto, o Cãopeão de Aço

Aproveitando que vai ter o vira-lata kryptoniano nas telonas e também ganhando nova origem nos gibis, a gente te conta um pouco da trajetória do parça de Clark Kent


Por THIAGO CARDIM

“Um leal companheiro canino e camarada de toda a família Superman”. É assim que a própria DC Comics abre seu verbete oficial a respeito do Krypto, o fiel supercachorro que se tornou um personagem amado pelos fãs de quadrinhos – e que, depois de se tornar a estrela absoluta do primeiríssimo trailer do novo filme do Homem de Aço, dirigido por James Gunn, virou também queridinho das redes sociais em toda uma série de memes fofinhos.

Isso porque, vamos lá, se o Superman já é, por si só, um dos maiores ícones da cultura pop, imagine um cão que compartilha dos mesmos poderes e da mesma origem extraterrestre? Com uma trajetória repleta de altos e baixos dentro da editora, Krypto está prestes a retornar aos holofotes, tanto nos quadrinhos quanto no cinema. Mas antes de falarmos do que vem por aí, bora relembrar a história desse icônico pet kryptoniano.

Um parceiro animau-au e espaciau-au

Krypto foi criado por Otto Binder e Curt Swan, estreando nas páginas de Adventure Comics #210, em março de 1955. Sua história de origem é digna de um sci-fi dos bons: lá no moribundo planeta Krypton, ele era um dos cães de Jor-El, pai biológico do Superman. O bichinho era principalmente o responsável por cuidar do jovem recém-nascido Kal-El – e sim, antes que você pergunte, a evolução do planeta original da casa de El seguiu bastante similar à da Terra e gerou diferentes espécies análogas às nossas, como cães, gatos, passarinhos e afins.

Gibi de hominho, meu povo. Releva isso aí e só vem com a gente.

De qualquer maneira, o destino que o pai do Supinho reservou ao seu cachorro não foi dos mais nobres, transformando-o em cobaia para testes da nave que posteriormente salvaria o próprio Kal-El da destruição de Krypton (e isso antes ainda da cadelinha Laika, astronauta do programa espacial russo), fazendo-o singrar o espaço em direção ao nosso planetinha azul. Mas algo deu errado, e a nave de Krypto (com o cãozinho em estado criogênico) vagou pelo espaço por anos até finalmente chegar à Terra, onde ele se reuniu ao seu jovem dono, Superboy (a versão mais jovem do Superman).

Por se tratar de mais um egresso de Krypton, o cachorro também sofreu os efeitos do nosso sol amarelo e ganhou uma coleção de superpoderes, tais quais os de seu dono: superforça, supervelocidade, capacidade de voar, invulnerabilidade, visão de calor, visão de raio-x, bafo congelante, regeneração avançada e audição superior (neste caso, todos os sentidos ainda mais aguçados que os de seu tutor). Ou seja… pacote completo.

O que era pra ser um personagem que apareceria em apenas uma edição acabou voltando quatro números depois, atendendo aos pedidos da criançada (sim, acredite, quem lia os gibis de heróis originalmente era o público infantil, #pasmo #sarcasmo).

Desde então, Krypto se tornou um dos aliados mais fiéis do Homem de Aço, acompanhando seu dono em diversas aventuras e até protagonizando histórias solo. Seu visual clássico, com a icônica capa vermelha e a coleira amarela, logo se tornou uma de suas marcas registradas, assim como sua personalidade leal e, claro, sua habilidade de morder vilões superpoderosos sem dó.

Mas… e sempre tem um mas…

Na Era de Prata dos gibis da DC, a gente ainda via os balões de pensamento do Krypto, entendendo que se trata de um cachorrinho bastante do inteligente e eloquente. E como acontecia com o Superboy, que era Clark Kent em seu disfarce civil, o cachorro se passava por Skip, mascote oficial da família Kent em Smallville (ou Pequenópolis, dependendo da sua idade).

A Era de Prata, aliás, fez com que Krypto inspirasse uma série de outros “super pets” no universo do Superman, indo do supergato Raiado (ou Streaky, no original) da Supergirl até o supermacaco Beppo – e sem que a gente se esqueça do Cometa, o supercavalo. Pô, o Krypto inclusive fez parte não de um, mas de DOIS times de animais superpoderosos, a Liga dos Superanimais de Estimação e a Space Canine Patrol Agents, ou SCPA, esta última formada apenas por cães de inspiração cósmica.

Mas a Era de Prata passou. E nos anos 1970, depois da revolução conduzida pelo editor Julius Schwartz, ficou claro que um cachorro voando de capa por aí seria “infantil” demais para o público de leitores nitidamente envelhecendo. Bastou explicar que ele saiu voando pro espaço depois que o Superboy se tornou Superman e pronto, resolvido. Aconteceram algumas aparições em histórias esporádicas, incluindo a clássica O que aconteceu com o Homem do Amanhã?, escrita pelo barbudão Alan Moore, mas foi apenas isso.

Só que, com a chegada do reboot de Crise nas Infinitas Terras, Krypton se tornou uma espécie de mundo duro e sem emoções, sem espaço para pets fofos, e Krypto foi sumariamente apagado da cronologia, assim como todos os sobreviventes de Krypton que não atendem pelo nome de Kal-El. Durante os anos 1980, nesta fase mais realista e sóbria dos quadrinhos pós Watchmen e O Cavaleiro das Trevas, o Supercão foi aposentado. Ou era o que se pensava…

Conforme os anos foram passando, no entanto, neste momento pós-Crise, a DC Comics foi dando dicas sobre Krypto de várias maneiras – lá pelos anos 1990, por exemplo, um cachorrinho branco, resgatado pelo amigão do Superman, Bibbo Bibbowski, foi batizado de Krypto (era pra ser Krypton, mas um problema com o N a ser gravado na coleira fez com que a letra ficasse faltando). E, depois do momento “Apocalypse sentando a porrada no Superman”, que virou o universo super do avesso mais uma vez, o cão (sem poderes) se torna o melhor amigo do novo Superboy, o Kon-El ou Conner Kent (originalmente, nosso querido Superboy de Jaquetinha).

Mas o retorno VERDADEIRO de Krypto só se daria mesmo no início dos anos 2000, em “Retorno a Krypton”. A história, da dupla Jeph Loeb e Ed McGuinness, mostra o Superman sendo atraído para uma representação falsa e ideal de Krypton, que obviamente se parece demais com a da Era de Prata. E claro, lá está o Krypto, bicho de estimação da infância do jovem Kal-El. Só que se tratava de uma armadilha criada pelo Brainiac 13… e quando o Supes consegue escapar, Krypto acaba seguindo-o, tornando-se oficialmente o bichinho da casa Kent-Lane.

As coisas ainda ficariam um tantinho bagunçadas pro coitado do Supercão – a começar por Superman: Origem Secreta, de Geoff Johns e Gary Frank, arco de 2009 que restaurou a origem clássica de Krypto à continuidade, sendo o mascote que pousou na Terra do Clark, aquela coisa. Na época dos Novos 52, Krypto DE NOVO de cena, aparecendo apenas em flashbacks do planeta natal de Kal-El. Só que este status quo mudaria MAIS UMA VEZ com o Renascimento, cronologia clássica, pronto, simples assim.

Gibi de hominho, gente. Aceita logo isso duma vez.

O presente e o futuro de Krypto

Se tem uma coisa que Krypto sabe fazer é sempre dar um jeito de voltar. E agora ele se prepara para viver uma nova fase de destaque tanto nas HQs quanto no cinema. Nos quadrinhos, o Supercão será o protagonista de Krypto: O Último Cão de Krypton, uma minissérie em cinco edições escrita por Ryan North (Quarteto Fantástico) e ilustrada por Mike Norton (Battlepug), como parte do chamado “Summer of Superman”, o período especialmente dedicado ao kryptoniano por conta de sua volta aos cinemas.

“A chance de realmente definir Krypto — mostrar o que um pequeno cão perdido passaria se pousasse sozinho em um estranho mundo alienígena chamado Terra — foi realmente atraente”, explica o roteirista, em comunicado oficial. “E eu também me apaixonei pela ideia de tratar Krypto como o cachorro real que ele é: ele não fala, e nós não trapaceamos lendo seus pensamentos em balões também. A arte de Mike Norton captura exatamente o que precisa ser ‘dito’ em cada cena. Krypto nos diz quem ele é e como ele está se sentindo, como todos os cães fazem: por meio de suas expressões e comportamento, por meio da linguagem corporal, latidos, abraços, lambidas e suspiros”.

Em Krypton, Jor-El e Lara estão trabalhando em uma nave capaz de manter alguém vivo no espaço interestelar, mas quando seu primeiro teste — com Krypto dentro — dá catastroficamente errado, o cão é considerado perdido. Sem o conhecimento deles, Krypto e sua nave espacial apenas entraram em um portal espaço-temporal inesperado, e dias depois, do seu ponto de vista — embora tenham se passado décadas em tempo real — Krypto pousa na Terra.

“Cada edição desta minissérie é uma história curta completa, combinando-se para contar a história completa de Krypto, o Supercão”, continua North. “Ao longo dessas histórias, vemos Krypto enfrentar um mundo novo e estranho. Ele viaja de cidade em cidade, conhecendo e fazendo amizade com pessoas, às vezes ajudando a resolver seus problemas — e às vezes encontrando seus próprios problemas. Ele é um cachorro muito bom”.

Já nas telonas, Krypto marcará presença no aguardado Superman de James Gunn. Depois de aparecer em uma série de desenhos animados – incluindo a sua própria série animada do Cartoon Network e até um longa-metragem no qual ganhou a voz de ninguém menos do que Dwayne “The Rock” Johnson – ele daria as caras em versões live-action nas séries Smallville e Titans, além de uma participação especialíssima, do tipo que enche os olhos de lágrimas, no episódio final de Superman & Lois. Mas agora é a vez de conquistar os corações dos fãs da Sétima Arte, como diria Maurílio dos Anjos.

“Krypto chega às telas em Superman neste verão”, revelou Gunn, antes mesmo de nos apaixonarmos pelo fiapo de manga que deu as caras no trailer. “Krypto foi inspirado em nosso cachorro Ozu, que adotamos logo depois que comecei a escrever Superman. Ozu, que veio de uma situação de acumulação em um quintal com outros 60 cães e nunca conheceu seres humanos, era problemático para dizer o mínimo. Ele imediatamente entrou e destruiu nossa casa, nossos sapatos, nossos móveis – ele até comeu meu laptop. Demorou muito para que ele nos deixasse tocá-lo. Lembro-me de pensar: ‘Nossa, quão difícil seria a vida se Ozu tivesse superpoderes?’ – e assim Krypto entrou no roteiro e mudou o formato da história, assim como Ozu estava mudando minha vida”.

O poder da superfofura

Seja nos quadrinhos, na TV ou agora no cinema, Krypto sempre encontra um jeito de permanecer relevante. Mais do que um simples sidekick, ele simboliza o laço inquebrantável entre um herói e seu melhor amigo. E convenhamos: se até o Superman precisa de um parceiro de quatro patas para enfrentar os desafios do universo, quem somos nós para negar o poder de um bom parceiro canino?

Agora é só esperar para ver o que o futuro reserva para o Supercão – mas uma coisa é certa: onde houver perigo (ou um vilão precisando levar uma mordida superpoderosa), Krypto estará pronto para a ação!



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