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Gozyuger e a celebração dos Super Sentai
Nova produção Toei Company estreou no Japão pra comemorar os 50 anos da lendária franquia dos guerreiros multicoloridos, servindo como excelente ponto de partida pra quem sente saudades de Changeman, Flashman e afins
Por THIAGO CARDIM
Quando a gente usa a expressão “super-herói”, acaba tendendo a pensar imediatamente em Marvel, DC e congêneres americanos. O ponto é que este conceito é muito mais amplo e abrangente… como bem devem se lembrar os trintões e quarentões que acompanharam os heróis nipônicos desfilando na saudosa telinha da TV Manchete. Para toda uma geração, ali foi o primeiro contato com o conceito de tokusatsu. Eles mesmos, Jaspion, Changeman, Flashman, Jiraiya, Jiban, Black Kamen Rider e por aí vai.
Se você não faz ideia do que estou falando, vou tentar ser didático aqui: tokusatsu é uma abreviação em japonês para tokushu kouka satsuei, que numa tradução livre vira “filmes de efeitos especiais”. Na prática, tamos falando de um termo em japonês para filmes ou séries live-action que fazem forte uso de efeitos especiais. Portanto, filmes de kaiju (monstros gigantes) na pegada de Godzilla são tokusatsu. Assim como as produções da Família Ultra, de Ultraman e Ultraseven, e também o icônico National Kid.
Dentro dos tokusatsu, temos alguns subgêneros, entre eles os Super Sentai, que serviram de inspiração pros Power Rangers. Como acontece com Changeman, Flashman, Maskman ou Google V (todos exibidos por aqui), os protagonistas se transformam em super-heróis e ganham superpoderes, usando uniformes identificados por cores (sendo que o líder costuma ser o vermelho) para lutar contra um grupo de supervilões de outro mundo que ameaçam dominar a Terra. Em um episódio padrão, eles detonam o monstro da semana, que aí fica gigante e os força a enfrentá-lo usando o seu robô mecha da vez.
Feitas as devidas definições e apresentações, muito que bem, vamos falar de No.1 Sentai Gozyuger, o Super Sentai oficial de 2025, 49ª série* da franquia e que chega pra celebrar os 50 anos destas produções que anualmente tomam de assalto as telinhas japonesas com um conceito de super-herói bastante distinto de um Homem-Aranha, Batman, Superman ou qualquer exemplo clássico nascido dos comics ianques. Mas ainda assim, bastante heróicos.
E aqui está a graça da coisa toda, de fato.
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Antes de qualquer coisa…
…veja, eu sou um APAIXONADO pelo conceito de Super Sentai desde que o Cardim versão 10 anos de idade conheceu os Changeman – os meus favoritos desde sempre e que, aliás, este ano completam 40 anos desde a sua estreia na TV japonesa. Mas se você chega pra ver um Super Sentai nos dias de HOJE esperando algo com aquele tipo de narrativa retrô dos anos 1970 / 1980, provavelmente vai se frustrar. Porque, apesar de manterem o DNA firme e forte, os Super Sentai evoluíram. E ainda bem, aliás.
Os efeitos especiais são muito mais modernos e vibrantes, conversando com uma linguagem bem mais próxima dos videogames. A ação ganhou uma edição mais dinâmica, ágil e acelerada, quase videoclíptica. Os temas ficaram mais contemporâneos, como era de se esperar, trazendo celulares e demais traquitanas eletrônicas para a linha de frente. E os dramas adolescentes, que acometem os humanos por trás das máscaras, passaram a ser muito mais próximos daqueles novelescos que vemos nos doramas japoneses, os populares j-dramas.
Mas sabe a única coisa que não mudou?
A galhofa. E isso não é nem de longe uma coisa ruim. A enorme capacidade de brincar com o exagero, de rir de si mesmos, de encher a sua tela de luzes e cores, de misturar armas estrombólicas e robôs gigantescos, de misturar computação gráfica e pessoas interpretando monstros com roupas de borracha e espuma, tudo ao mesmo tempo, sem perder a chance de fazer esta bagunça com um sorriso no rosto.
E esta é a grande graça das séries Super Sentai, como um todo. E a razão pela qual sugiro que você, que não conhece Super Sentai, comece a partir de Gozyuger. E você, que nunca mais viu nada de Super Sentai depois da geração Changeman,retome a partir de agora. Porque esta celebração do estilo de vida Super Sentai é de fato um excelente ponto de partida – e não, isso não é esquema de pirâmide, então você não precisa ter visto nada antes pra curtir esta nova saga.
Então vamos falar sobre Gozyuger
A história é relativamente simples: a “Guerra Universal” foi um conflito em larga escala envolvendo 49 Super Sentai e seus mechas contra uma ameaça simplesmente conhecida como “A Calamidade”. À beira da derrota, os Sentai ofereceram seus poderes, criando os “Anéis Sentai” para invocar o salvador supremo Tega Sword, que destruiu a tal da Calamidade, mas também provocou a destruição (e recriação) do universo com os anéis espalhados pelo cosmos.
Algum tempo depois, cinco párias da sociedade têm a chance de mudar suas vidas quando Tega Sword os escolhe para se transformarem no 50º grupo de Super Sentai, os Gozyugers, que são encarregados de reunir os Anéis Sentai. Mas tem um porém: aquele que reunir todos eles terá um desejo concedido, o que inicia uma competição contra a organização maligna No 1 do Mundo Bridan… mas também ENTRE eles.
No primeiro episódio, somos apresentados apenas brevemente aos outros quatro integrantes do time: Rikuo Byakuya, GozyuLeon azul (Rikuo Byakuya); Ryugi Bakugami, GozyuTyranno amarelo (Masakazu Kanda); Kinjiro Takehara, GozyuEagle verde (Jin Matsumoto); e Sumino Ichikawa, o GozyuUnicorn preto (Maya Imamori).
A história, no entanto, começa dando total destaque para Hoeru Tono, o GozyuWolf vermelho, vivido por Mio Fuyuno. Um jovem fracassado, sem grana, pulando de emprego e emprego, sem amigos e sem futuro. Um sujeito que acaba tendo o caminho cruzado por um bando de soldados ETs com sinos na cabeça (um visual MUITO legal, diga-se de passagem) e por um gigantesco robô incendiário comandado por um egomaníaco e potencial arrombado chamado Fire Candle.
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E então, a vida de Hoeru vira do avesso. Inicialmente, por conta de um anel cósmico. E de uma dívida de 250 ienes graças a um hámburguer que um colega de trabalho lhe pagou…
Este colega, aliás, é um aspirante a músico interpretado por Haruhi Iuchi – que, os fãs mais devotos devem lembrar, foi o Bun Red de Boonboomger, justamente a série Super Sentai ANTERIOR a esta. No entanto, ele se transforma no Rei Kuwagata Ohger, de King-Ohger, que é a série Super Sentai do ano de 2023. O que significa isso? Bom, o que não falta é gente apostando que, para além da cena inicial dos muitos mechas abatidos – e sim, eu fiz questão de pausar pra ver quantos deles conseguia identificar, rs – teremos ao longo da série diversas aparições especiais de OUTROS vermelhos de Super Sentai antigos (dedos cruzados pelo Change Dragon!).
Numa história cujo cerne, aparentemente, acabam sendo desejos que buscamos realizar nas nossas vidas, aqueles sonhos que a gente nunca deveria esquecer e desistir de tentar realizar, muito provavelmente seremos apresentados a um cardápio de personagens tão envolventes quanto esquisitos, tão reprováveis quanto carismáticos, que não terão remorso de disputar entre si mesmos enquanto o universo está em risco.
Pois a julgar pelo que se pôde ver neste episódio inaugural, a ação e o humor vão caminhar lado a lado, sem um esvaziar o outro.
Ah, sim: a partir de agora, tome muito cuidado quando for comer um salsicha no palito. Vai por mim.
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* Cabe aqui uma explicação: apesar de serem os heróis da 49ª série Sentai, os Gozyugers são considerados o 50º time Sentai – já que os Lupinrangers e os Patrangers, ambos protagonistas da 42ª série Sentai, reclassificados como o 42º e 43º times, respectivamente, de acordo com a Toei Company, como parte de seus planos para o 50º aniversário da franquia.