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Horrores do Capital: terror e luta de classes em quadrinhos

Estúdio Molotov HQ financia coletivamente o primeiro volume de uma antologia que mostra, via terror sobrenatural, o quanto o capitalismo é o verdadeiro monstro

Por THIAGO CARDIM

“Nada é mais apavorante do que o capitalismo e a sociedade de classes”. Com esta frase, absolutamente adequada inclusive ao momento em que vivemos hoje (se liga na data deste texto, escrito em plena discussão a respeito da abolição da escala 6×1), a parceria entre o Estúdio Molotov HQ (sobre o qual já falamos aqui) e a Ruptura Editorial anunciou a antologia “Contos da mão invisível: Horrores do Capital Vol. 1”, uma coleção de cinco histórias, todas escritas por Victor Zanellato e com arte de artistas diferentes.

Em comum, as cinco tramas têm o fato de que, através do terror sobrenatural, pretendem trazer temas relacionados a precarização da vida dos trabalhadores dentro do capitalismo.

“O quadrinho tem forte inspiração nas obras do mangaká Junji Ito, autor japonês de terror, e uma das maiores referências de Victor Zanellato”, explica o texto disponibilizado via Catarse, quando a HQ foi colocada para financiamento coletivo. “Entretanto não é a única referência, pois cada um dos ilustradores traz em si uma autenticidade em seu traço, tornando cada história única, mas mantendo uma das características principais dos roteiros de terror do Victor, que é trabalhar o horror corporal atrelado ao horror psicológico”.

Cinco histórias, cinco terrores, um grande culpado

Com os traços de Gabriel Barros, Lalo Bizarro, Murilo Fernandes, Renata C B Lzz, Kris Zullo e Fernando Dias na capa e artes internas, “Contos da mão invisível: Horrores do Capital Vol. 1” reúne as seguintes histórias:

LINHA VERMELHA – Luara e Bianca aguardam o trem da linha vermelha. A chuva é intensa, o que causa atraso em todos os trens e superlotação nas estações onde milhares de trabalhadores aguardando para voltarem para casa. O trem chega e as duas trabalhadoras conseguem sentar-se, um leve alívio dentro do trem que está absurdamente lotado com trabalhadores amontoados. O trem sai, mas fica parado por horas entre as estações – junto à água da chuva e do suor, além do calor insuportável, todos ouvem um grito… quando dois trabalhadores aparecem grudados.

DESEMPREGADOS – Deivisson volta arrasado de mais uma entrevista de emprego. Preocupado pelo aluguel atrasado no cortiço, ele se assusta ao ver suas coisas guardadas em um saco de lixo, e se desespera ao perceber que teria que morar na rua. Infelizmente, ele vive em um mundo onde quem for maior de idade não pode morar com os pais, então precisa passar a noite nas calçadas. O tempo passa e Deivisson começa a ser esquecido por todos, começa a ficar doente, e à noite vê uma criatura horripilante escondida por entre a névoa.

PEDAÇOS – Kátia aguarda nervosa uma entrevista de emprego na casa de uma família pequeno burguesa. Sua mãe está gravemente doente, e a saúde pública não irá salvá-la. Sua única chance é conseguir esse emprego de enfermeira que paga estranhamente bem, muito a mais do que qualquer outro. Kátia conhece Marjorie, uma mulher bem desagradável, esposa de um homem acamado que tem uma doença perturbadora, do tipo que irá desafiar a saúde mental de sua nova enfermeira.

DEVORADO – Geraldo é um homem idoso que trabalha como guia turístico da vila de Paranapiacaba, Santo André. Próximo de se aposentar, já se sentia exausto e apenas queria o seu descanso. Porém, infelizmente, sofreu um acidente terrível que o deixou com a perna quebrada no meio da mata. Durante a noite, começou a receber a visita de uma pequena criatura que lhe parecia uma criança, mas que não o ajudava a ser resgatado. Cansado após dias sem se alimentar, a criança apareceu novamente, e lhe mostrou sua terrível face verdadeira.

FLORESTA – João, Pedro e Maria passam por uma floresta a caminho de uma cachoeira da região. Algo chama a sua atenção, uma carne esponjosa estranha está por toda a floresta. Ao perceber uma coisa estranha, Pedro chama os amigos, e uma terrível floresta falsa e simétrica surge no caminho da cachoeira. Uma floresta de eucaliptos sem animais, com a terra limpa e batida, que escondia criaturas perigosas e monstruosas que espreitavam em suas sombras.

Em tempo…

Além do Molotov, este volume inicial de “Horrores do Capital” – que, sabemos BEM, tem um baita potencial de virar uma coleção com 35 volumes e ainda capaz de faltar espaço – também é produção da Ruptura Editorial, uma iniciativa de publicações socialistas voltadas para o mercado editorial brasileiro. A empresa surgiu em maio de 2021 e tem como objetivo a difusão do pensamento crítico e o fomento da produção intelectual de esquerda no país.

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