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Quem é Magneto e sobre o que ele estava certo?

As origens judaicas do personagem, sob qual contexto surgiram e porque isso é importante para entendê-lo

Por GABRIELA FRANCO

Desde sua estreia em março de 2024, no canal de streaming Disney+, a série de animação X-Men ’97 alcançou ótimos resultados de audiência – uma impressionante taxa de aprovação de 100% após 73 análises de veículos especializados e 95% de aprovação do público no agregador de notas Rotten Tomatoes, o que a transforma no projeto melhor avaliado da história da Marvel Studios – e caiu de vez nas graças dos simpatizantes da equipe de super-heróis da Marvel Comics e dos jovens fãs do MCU.  

A produção, conduzida por Beau DeMayo, tocou no ponto nevrálgico dos fãs de quadrinhos: a nostalgia. Afinal, é uma espécie de revival-continuação da série animada que foi ao ar justamente nos anos 1990, continuando a história dos X-Men que hoje enfrentam novos desafios, após a perda de seu líder Charles Xavier, o Professor X.

Mas outro acerto é o fato de carregar nos dramas humanos e ser fiel à razão de existir da equipe, criada pela dupla Stan Lee e Jack Kirby, nos anos 1960: a luta pela aceitação do diferente, por um mundo mais equânime, igualitário e justo, livre de preconceitos. E é daqui que quero partir para falar sobre um dos destaques desta temporada, além de queridinho das redes sociais: o outrora apenas antagonista Magneto. 😉

::: Leia também: X-Men ‘97, um massavéio divertido e bastante consciente

Origens nos quadrinhos

Vale relembrar que os X-Men surgiram em 1963 como parte de uma série de novas ideias e títulos concebidos por Stan Lee, o famoso editor da Marvel Comics, e por Jack Kirby, que os desenvolveu visualmente. Lee, conhecido por sua criatividade, estava continuamente explorando novos modelos de personagens de quadrinhos, especialmente no gênero de super-heróis. Sua abordagem combinava ironia e características anti-heróicas, algo pouco comum naquela época de heróis clássicos e incorruptíveis como Superman, por exemplo, da editora concorrente, DC Comics.

Os heróis que a dupla apresentava não eram perfeitos, enfrentavam problemas e dificuldades que ressoavam com o leitor comum. Eles lidavam com questões como incompreensão do próximo, dificuldades financeiras, conflitos com autoridades e dilemas éticos, o que os tornava mais próximos e identificáveis para os leitores, o que acabou virando a grande marca da Marvel.

Os X-Men surgiram aproveitando o pano de fundo da Guerra Fria e as temidas ameaças nucleares: seus criadores imaginaram como seria a vida de pessoas afetadas por mutações genéticas em geral. A ideia inicial, discutida por Kirby e Lee, era de se criar uma linha de pensamento mais simples para esses novos heróis: eles simplesmente nasciam daquela maneira. Nada de radiação ou de experimentos. Eram naturalmente mutantes.

Mas e se essas mutações naturais não trouxessem só deformidades e sim, super-habilidades? Seriam considerados seres humanos? Seriam temidos? Adorados? Seriam perseguidos, rechaçados? Como o mundo reagiria a eles? Segundo o ex-CEO da Marvel Comics, Joe Quesada, o conceito dos X-Men era o seguinte:

“O plano era criar um time de personagens que não eram apenas diversos em seus poderes: a sua diversidade seria composta por suas etnias, gêneros, visões políticas e preferências dentro dessas visões. Um time superpoderoso que refletisse a diversidade de um mundo cujas distâncias estavam ficando cada vez menores. Um mundo onde o futuro poderia ser glorioso, se nós aprendêssemos as lições de tolerância e aceitação ou poderia acabar como um buraco negro se nós deixássemos o medo comandar nossas vidas”. 

E assim, Lee e Kirby (um duo que, para a finalidade desse texto, ambos serem judeus)  criaram uma equipe de jovens que detinham o gene X, uma mutação genética que lhes conferia superpoderes (e sim, às vezes deformidades físicas).

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E como o Magneto entra na história?

Bem, Magneto talvez seja o vilão (ou, como veremos adiante, anti-herói) mais famoso dos X-Men. Foi criado também em 1963 pela dupla citada acima, como um opositor daqueles bem estereotipado de quadrinhos, cujos poderes eram superforça e controle de campos magnéticos e qualquer tipo de metal, com a mente.

Combatia praticamente tudo o que o Professor Xavier defendia, sem muito aprofundamento, apenas porque um vilão faz vilanias. Magneto e Xavier não eram amigos como sabemos que são hoje, não havia uma história pregressa entre eles nem um histórico de dor e traumas para dar profundidade ao personagem como o conhecemos. Ele era só um bandido clássico do tipo que gargalhava “BWAHAHA” enquanto desferia golpes nos mocinhos, como faziam os vilões de quadrinhos da época. Fim.

Magneto seguiu assim, sem graça e consistência, até que em 1975 o roteirista Chris Claremont assumiu o time de roteiristas dos X-Men. Ele achou que a premissa da equipe mutante, de lutar pela aceitação da diversidade e por um mundo livre de preconceitos, era universal e perene e resolveu dar mais profundidade a seus principais personagens, criando histórias prévias que tornavam as narrativas muito mais ricas e interessantes.

Portanto, o embate entre Magneto e Xavier, que parecia sem propósito, ganhou mais tridimensionalidade ao se tornar um dilema no qual dois grandes amigos, com origens totalmente diferentes mas com sonhos em comum, se veem em lados opostos por conta de visões diferentes do mundo resultantes de traumas do passado.

Muito se fala sobre paralelos da relação entre Professor X e Magneto com as figuras centrais da luta pelos Direitos Civis nos EUA, Rev. Martin Luther King e Malcolm X, respectivamente, mas a semelhança nunca foi de fato confirmada por seus criadores, habitando somente no imaginário dos fãs. Mas a analogia faz bastante sentido: apesar dos dois ativistas estarem vinculados a uma mesma motivação (a segregação racial vigente nos EUA e as lutas pelos Direitos Civis na década de 1960), a maneira como lidavam com isso era distinta, assemelhando-se à maneira que Magneto e Professor Xavier observam a causa mutante.

Sobre Magneto, em uma entrevista publicada na Uncanny X-Men 500 Issues Celebration, Stan Lee fala sobre sua concepção do personagem: “Não penso em Magneto como um cara mau. Ele só queria se vingar de quem era intolerante e racista. Ele queria proteger os mutantes, porque havia sofrido isso na pele, e como a sociedade não os estava tratando de forma justa, ele queria lhes ensinar uma lição. Ele é um perigo, é claro… mas nunca o considerei um vilão”. 

Quem com ferro fere, com ferro será ferido…ou qualquer outro metal, no caso.

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Antes e depois de Testamento

De qualquer forma, Magneto não foi concebido originalmente como um judeu sobrevivente do Holocausto. Mas já fazia sim parte de uma minoria étnica, era um cigano, pertencente ao povo romani, que vivia no Leste europeu e que também foi (e é ainda hoje, infelizmente) vítima de inúmeras injustiças ao longo da história.

Mags nasceu Max Einsenharti e passou pelo que chamamos no meio das HQs de RETCON – no caso, a continuidade retroativa ou alteração de fatos previamente estabelecidos na continuidade de uma obra ficcional. Ou seja: quando você aproveita elementos narrativos que já foram incorporados pelo público mas faz algumas mudanças neles para que a continuidade daquele personagem não seja totalmente comprometida e flua melhor (nem sempre funciona, é bom reforçar). 

Isso aconteceu com Magneto – que, de romani passou a um judeu sobrevivente do Holocausto que se escondeu dos nazistas em uma aldeia romani adotando o nome Erick Magnus Lensherr (o que convenhamos, foi uma PÉSSIMA ideia, porque romanis também eram perseguidos por nazistas). Lá ele conheceu sua mulher, Magda Maximoff, e com ela teve os gêmeos Wanda e Pietro, os mutantes Feiticeira Escarlate e Mercúrio (e com os quais a relação de paternidade sofreu variações ao longos dos anos, mas aí é outra história).

Sua história, portanto, vai sendo construída ao longo dos anos com mudanças e novas informações distribuídas em HQs, adaptações para animações e cinema, sem muita clareza sobre sua identidade étnica ser de fato romani ou judia. 

Até que a editora resolveu contar DE VEZ sua história completa e lançou uma graphic novel em 2009 chamada “X-Men: Magneto – Testamento”. Com roteiro de Greg Pak, desenhos de Carmine di Giandomenico e cores de Matt Hollingsworth, agora sim temos a primeira HQ de herói que trata abertamente sobre o Holocausto e a origem de Magneto.

A história começa em 1935, com o crescimento do antissemitismo na Alemanha. Max, um pré-adolescente, vive com seus pais e enfrenta as crescentes restrições impostas pela mudança de sua realidade causada pela invasão nazista. Frequentemente é vítima de bullying e mentiras criadas pelos colegas de classe, punido injustamente, obrigado a usar a estrela amarela na roupa… Acaba se mudando de cidade devido à perseguição acirrada e se despede de Magda que, nesta história, é uma menina romani filha de uma funcionária do colégio e por quem ele nutre afeto.

A narrativa é pungente e perpassa muitos fatos históricos importantes. Max testemunha as leis de Nuremberg em 1935, o antissemitismo dos Jogos Olímpicos de 1936, as primeiras deportações de judeus, o assassinato de Ernst Vom Rath, o marco que foi a Kristallnacht em 1938, a tentativa de fuga para a Polônia em 1939 e a construção dos guetos no final de 1940 em Varsóvia, o que que culmina no campo de extermínio de Auschwitz em 1942.

Em Auschwitz, encontra um antigo professor que o aconselha a mentir sobre sua idade, já que crianças e adolescentes eram vítimas de experimentos científicos abjetos entre outros abusos, o que o leva a ser selecionado para o campo de adultos. Com ajuda do mesmo professor, consegue uma posição dentro de um dos armazéns e é alçado a ajudante direto (no caso, sonderkommando – judeus praticamente braços-direitos dos nazistas e obrigados a fazer as tarefas mais asquerosas possíveis). Durante esse período, ele testemunha horrores inimagináveis e decide deixar sua história registrada em uma carta enterrada no campo, na esperança de que seu relato seja descoberto um dia. 

“Meu nome é Max Eisenhardt. Faz quase dois anos que sou um Sonderkommando de Auschwitz. Já vi milhares de homens, mulheres e crianças caminhando de encontro à morte. Ajudei a recolher cadáveres das câmaras de gás. Arranquei inúmeras arcadas dentárias para que os alemães removessem dentes e restaurações de ouro delas. Sou um dos trabalhadores que carregam os mortos para as fornalhas. Os nazistas me ensinaram a combinar um corpo de criança com o de um adulto, pois assim eles queimam melhor. Eu vi companheiros de trabalho serem enterrados vivos sob avalanches de cadáveres em decomposição… e presenciei fogueiras gigantes a céu aberto, nas quais nazistas queimam milhares de inocentes assassinados. Até hoje, meus olhos já devem ter visto no mínimo uns 250 mil seres humanos massacrados… e não pude salvar nem ao menos um. Assim como nenhum deles pôde me salvar. Se alguém encontrar essa mensagem, eu sinto muito… pois estou morto… e agora o fardo é seu. Conte minha história a todos que queiram ouvi-la, e até mesmo a quem não quiser. Por favor. Não deixem que esse horror jamais se repita”. 

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O poder da imagem no cinema e nos quadrinhos

O mundo mudou total e completamente após a II Guerra Mundial. Ela teve um impacto profundo e duradouro nas sociedades, resultando em mudanças sociais, econômicas e políticas significativas ao redor do mundo que permanecem até hoje. O conflito e seus horrores mudaram e moldaram nossa forma de enxergar a vida e o outro.

Depois dela, apesar dos EUA terem entrado no que chamamos de “Anos Dourados” (década de 1950 e 1960), a Europa levou DÉCADAS para se reconstruir, principalmente os países que foram grandes alvos do Eixo. Entre os sobreviventes da guerra, falar sobre os sofrimentos que vivenciaram passou a ser crucial para lidarem com a sobrevivência e saúde mental, como forma de expurgar o pesadelo e até trazê-lo para a realidade, já que, de tão inenarráveis e surreais, pareciam não ter acontecido de fato.

Repetir a história para elaborar o luto, relembrar para que nunca mais se repita. 

Na HQ Testamento, a ideia é fazer o leitor de quadrinhos se sentir mais conectado ao que realmente aconteceu. Isso torna a história mais real e ajuda a destacar e forjar as características do personagem, causando empatia junto ao leitor. O que torna Magneto tão interessante é como o que ele viveu, influencia seu modus operandi nos quadrinhos, moldando a forma como ele é retratado e construído como vilão. O fato de ele ter mencionado em sua carta em Auschwitz a expressão “eu não pude salvar nenhum deles”, em meio aos horrores que viveu, diz muito sobre a composição do personagem e suas ações nos gibis dos X-Men.

Allen Meek, professor de estudos em mídia da Universidade de Massey na Nova Zelândia, em seu livro “Trauma and Media: Theories, Histories, and Images”, conecta teorias dos acadêmicos estudiosos da mídia como Roland Barthes e Walter Benjamin à relação entre trauma e fotografia. Ele sugere que, ao identificar-se com uma vítima através de uma imagem fotográfica, as pessoas se inserem em uma história imaginada como traumática e fazem uma conexão emocional direta com o momento pessoal que podem estar vivendo.

Podemos fazer essa ligação direta com os quadrinhos e cinema, por exemplo, que utilizam imagens sequenciais como principal mídia. Por isso filmes e HQs sobre momentos trágicos da história da humanidade nos calam tão fundo.

Percepção EUA e Israel

A história de Magneto portanto, tem raízes nesse contexto, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, quando Claremont criou sua origem judaica, o que veio a calhar com uma mudança de percepção dos Estados Unidos com relação ao Holocausto. Isso porque, na época, todas as notícias giravam em torno do julgamento de Eichmann narrado por Hannah Arendt, em 1961, para a revista The  New Yorker, e da Guerra dos Seis Dias, entre Israel e Países Árabes que se opunham à sua existência, que trouxe o olhar americano para Israel, até então um país ignorado pelos EUA.

Em 1967, a Guerra dos Seis Dias marcou uma mudança importante na forma como os americanos viam Israel. Antes, o país era visto como uma nação carente, um lugar para refugiados. Depois da guerra, os EUA começaram a enxergá-lo como um aliado poderoso, capaz de se defender por conta própria e munido de grande poder bélico.

A ajuda política passou de simples “simpatia” para um apoio visto como um investimento. Essa mudança foi ainda mais reforçada pela Guerra do Yom Kippur de 1973. Foi nesse contexto que Claremont, ao procurar uma história de fundo para um vilão cujo principal motivo era estabelecer algo próximo da supremacia mutante, encontrou num sobrevivente do Holocausto a chave para entender melhor o caráter de Magneto.

Se Claremont escrevesse X-Men hoje  talvez pensasse duas vezes antes de fazer essa escolha. A definição de antissemitismo adotada pela International Holocaust Remembrance Alliance, de 26 de maio de 2016, destaca as comparações entre a política israelense atual e as políticas da Alemanha nazista como um exemplo de antissemitismo. Embora Magneto NUNCA tenha sido retratado como agindo em nome do Estado de Israel, suas representações anteriores a Claremont estão cheias de imagens com referências nazistas. 

Em 1975, a mudança de Israel de uma nação de desterrados para uma potência militar foi encarada pelo Ocidente como uma espécie de redenção dos sobreviventes do Holocausto. A história de Magneto incluía não apenas o trauma vivido num campo de extermínio, mas também seu passado (e presente) como caçador de nazistas, agente da Mossad e ativo da CIA. Isso refletia a percepção pública do desempenho de super-heróis das IDFs nas décadas de 1970 e 1980. 

O roteirista transformou Magneto em um sobrevivente do Holocausto como uma forma de reinterpretar essas imagens, como um exemplo do fenômeno psicológico e legítimo de uma vítima se tornando forte e capaz o suficiente para ser capaz de se vingar. Deixando para trás a imagem de quebrantado e frágil, transformou a vítima em super-herói (ou vilão, no caso). Hoje essa seria uma visão politicamente delicada, pois sugere que todas as vítimas de atrocidades possam se tornar potenciais opressores. Algo de fato bem complicado… 

A HQ “Magneto:Testamento” foi uma tentativa de evitar críticas sobre a lambança de referências, white washing e descaso histórico com a etnia do personagem até então.

Criar um retrato sensível e acuradamente histórico do Holocausto, com um nome de um de seus principais personagens na capa, pode ter sido uma estratégia para driblar isso. Mas a necessidade de tal estratégia mostra o quanto a memória popular do Holocausto e a percepção das ações da IDF mudaram desde que Claremont concebeu Magneto como um sobrevivente – e isso muito por total e explícita culpa de Israel e dos EUA.

Embora uma série de personagens dos quadrinhos tenham origem judaica, a história prévia de Magneto se destaca por abordar explicitamente um evento divisor de águas no mundo moderno como o Holocausto e por levar a sério sua promessa do “nunca mais”. Seu principal objetivo é lutar para que aquilo nunca mais se repita, principalmente porque enxerga contra os mutantes a intolerância a qual ele mesmo sofreu por outro elemento definidor de sua identidade.

Embora recorra claramente a métodos extremos, persiste a sensação de que, de fato, “Magneto estava certo”. Isso remete à ideia de que a humanidade, independentemente de testemunhar e rejeitar publicamente ações repugnantes, é plenamente capaz de reproduzi-las quando se sente ameaçada de alguma forma ou quando enxerga em algo ou alguém a razão de todos os seus males.

Como Hannah Arendt nos alertou, tendemos a trivializar e justificar o mal quando nos convém. Afinal, o mal em si nunca é trivial, mas pode se manifestar de maneira a parecer algo comum.

Mesmo que, ao longo de sua historia, sua representação não tenha sido impecável, Magneto permanece como um personagem cuja judeidade é bastante significativa, que reforça a importância de reconhecer o Holocausto e de combater o ódio e o medo de todas as formas possíveis – seja no mundo fictício, como o das histórias em quadrinhos, ou na vida real, onde o medo e o ódio podem levar a atrocidades concretas e inimagináveis. 

No episódio 2 de X-Men’97, por sinal, temos um belo discurso de Magneto frente ao tribunal da ONU que julga seus atos. Esse episódio conseguiu sintetizar bastante a essência do personagem:



“Quando menino, as casas do meu povo foram reduzidas a cinzas porque ousamos chamar Deus por outro nome. Então, meu povo me caçou com aqueles que já os caçaram.

Eu era uma aberração, nasci mutante. Uma abominação para seus deuses mal nomeados.

Na triste canção da história, há um refrão. Acredite de forma diferente, ame de forma diferente, seja de sexo ou pele diferente e seja punido. Cantamos essa música um para o outro. Os oprimidos tornam-se opressores.

Xavier sabia disso e sonhou que poderíamos mudar, encontrar harmonia. Um futuro onde humanos e mutantes poderiam abandonar o passado e finalmente…

Vocês afirmam que a justiça está atrasada. Verdade, mas a recuperação também. Suas palavras, embora gentis, não fazem nada para curar os feridos por seus crimes.

E sua indignação não vai curar feridas mutantes. Vocês criam robôs para nos caçar, coleiras para acorrentar nosso poder. A humanidade deve proteger-se, dizem. Proteção?

Isso é extermínio.

Eu só agi para vingar crimes contra o meu povo, assim como vocês agem para vingar os crimes contra o seu hoje. Se fosse esse o caso, deveríamos realmente acreditar, então, que diante do que se considera um extermínio, você trilharia o caminho de Charles Xavier?

Não é a pior coisa que isso seja do jeito de Magneto, vocês não acham?”