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50 anos de Stephen King nas prateleiras: por onde começar?

Em 5 de abril de 1974, o autor lançava Carrie, sua obra de estreia, o pontapé inicial de uma carreira que deixou profundas marcas na cultura pop

Por THIAGO CARDIM

Aos 26 anos, este pouco tradicional sujeito do Maine conhecido como Stephen King ainda estava MUITO longe do escritor que conhecemos atualmente. Ele e a esposa moravam num trailer na cidadezinha de Hermon, enquanto o rapaz ralava em busca daquele sonho de ser escritor. Seu ambiente de trabalho era um quarto minúsculo, que supostamente deveria ser a lavanderia, do tamanho de um armário. Cabia, segundo sua esposa Tabitha King costuma descrever, uma mesa, uma cadeira, uma lixeira e um escritor. Ou aspirante, vamos lá.

Eis que veio AQUELA ideia. Que a princípio ele considerava bastante intimidadora, pois o forçaria a escrever sob uma perspectiva feminina. Mas ele seguiu em frente.

Numa primeira versão, quando releu, Stephen não gostou. Achou o resultado final pesado demais, muito longo… Ele literalmente jogou o manuscrito todo diretamente da máquina de escrever para o lixo. E eis que Tabitha foi lá na lixeira, recuperou a parada, limpou as cinzas de cigarro e leu, na cama, antes de dormir. “Isso é bom, você devia continuar”, disse ela.

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King então resolveu continuar. “Acho que você não sabe sobre o que está escrevendo até que realmente esteja fazendo isso”, explicou ele, numa matéria especial pro Boston Globe. “Você diz para si mesmo: ‘O que é isso?’. Achei que, até certo ponto, era sobre o empoderamento de uma garota que estava se defendendo. Eu estava interessado na ideia de que ela iria demolir a casa. Eu simplesmente não sabia o que era a casa quando comecei a escrever”.

Nascia ali Carrie, o primeiro livro de Stephen King. E o resto é história.

Tudo isso rolou exatos cinquenta anos atrás. De lá pra cá, King se tornou cultuado e reverenciado, influenciou uma pancada de gente, passou a ter a obra vorazmente adaptada para o mundo de filmes e séries…

Para celebrar este cinquentenário de publicação, fomos bater um papo com três fãs fervorosos do escritor para entender qual seria um bom ponto de partida para a sua obra. Quem conheceu King, sei lá, através de uma série oriunda de seus escritos e agora quer se aventurar nas páginas de sua longa bibliografia, por onde poderia começar?

“Eu acho que A Coisa é o que melhor resume o que é o autor”, diz Vinicius Carlos Vieira, colunista aqui do Gibizilla e editor do CinemAqui. “Mas acho que pra começar a ler, tem outros melhores”. Ele diz que, além do próprio Carrie, talvez valha investir em Cemitério Maldito e O Iluminado, por exemplo. “Carrie é meio curtinho e objetivo.  Cemitério é mais centrado também. E Iluminado traz a ideia de casa mal-assombrada levada ao limite. Todo mundo gosta de uma história de casa mal-assombrada”, afirma.

Além disso, ele reforça que os três tem personagens muito fortes e sofridos. “O que facilita pro leitor se envolver”.

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Já a nossa querida Yasmine Evaristo, crítica de cinema, pesquisadora de cinema de horror, vai para uma pegada diferente aqui. “A Maldição. Tá longe de ser o melhor, nas tem pra mim um puta calor afetivo”, explica. A história de um homem lutando pela própria sobrevivência depois de cruzar o caminho de uma velha cigana ressoou em sua vida ainda hoje.

“Quando tava com meus 14 anos, mais ou menos, peguei ele na biblioteca (ou emprestado com alguém) e li em um dia de tanto que esse livro me prendeu”, conta. “Lembro nitidamente de estar de férias, na casa da minha avó, e ver pela janela o dia ir amanhecendo e ter uma vontade de chegar ao final que não me deixava dormir”.

Pra completar, óbvio, eu não podia deixar de ouvir um dos meus melhores amigos da vida, Julio Almeida, entidade #Familia013 que criou o finado site A ARCA comigo – e foi um dos maiores responsáveis por me fazer interessar pela obra de King. E ele não poupou recomendações.

“Clássico King? O Iluminado. Moderno? Novembro de 63. Não gosta de terror? Trilogia Mr. Mercedes. Agora, assim, quer mudar a vida? Revival”, diz. Mas calma que não acabou. “Quer ler o favorito do Stephen King? LOVE: a História de Lisey. E pra fechar: Tripulação de Esqueletos, para quem gosta de ler uma história por dia”.

Mas o Julio ainda larga a polêmica: “O que eu NÃO RECOMENDO: qualquer livro da Torre Negra. Mas só porque não é bom para iniciantes”.

Em tempo: em 2022, quando King completou 75 anos, convidamos Yasmine e Vinicius pra um papo BEM legal no Imagina Se Pega no Olho. Vale o seu play, caso se interesse um pouco mais pela carreira do Rei.

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