Por Dentro do Summer Breeze: conheça Dino Jelusick!
Aproveitando pra fazer um esquenta pro festival que rola em São Paulo no final do mês de abril, a gente começa a desvendar algumas ótimas atrações não tão conhecidas dos brasileiros…
Por THIAGO CARDIM
A segunda edição do Summer Breeze Brasil, que acontecerá nos dias 26, 27 e 28 de Abril de 2024, no Memorial da América Latina (SP), anunciou não só uma pancada de bandas consagradas como headliners – tipo Anthrax, Within Temptation, Hammerfall, Killswitch Engage, Mr.Big, Mercyful Fate e a banda solo de Gene Simmons (o linguarudo do Kiss) – mas também uma dezena de outras bandas, entre mais e menos conhecidas, no seu line-up.
Um destes nomes (e que vale DEMAIS o seu play) é o Jelusick, banda solo do músico croata Dino Jelusić – que acrescentou um K ao seu nome artístico. Ele se apresenta no sábado, dia 27 de abril, às 14h30, subindo no Sun Stage.
Você pode não saber exatamente de quem se trata. Mas a gente tem certeza que, nos últimos anos, você deve ter ouvido a voz dele em alguns de seus múltiplos projetos e bandas. Dá até pra arriscar dizer que, se ele continuar nesta toada, o cara tem potencial pra ser digno sucessor de um certo Jeff Scott Soto…
Da Croácia pro mundo
Nascido na cidade croata de Požega, no dia 4 de junho de 1992, Dino viveu a maior parte de sua vida na capital Zagreb. Filho de pais que, além de entusiastas do mundo da música, também tocavam instrumentos musicais, ele começou a cantar aos três anos de idade e se apresentar ao vivo aos cinco – aparecendo não apenas nos palcos de festivais infantis, mas também na TV local.
O jovem músico escreveria a sua primeira canção em inglês aos sete anos – mas, depois do reconhecimento obtido ao vencer o concurso Dječji Festival, foi aos onze anos que ele participou da primeira edição júnior do tradicional festival Eurovision, na Dinamarca, com uma canção escrita um ano antes: “Ti si moja prva ljubav” (em português, “Você é meu primeiro amor”). O resultado? O moleque ganhou! No mesmo ano, ele lançaria seu disco solo de inéditas, “No. 1”, que ganharia uma versão em inglês no ano seguinte. Na época, a pegada de sua carreira ainda era bem pop. O garoto fez sucesso, fez turnês nos EUA, na Austrália, na Escandinávia e até se apresentou para cerca de 100.000 pessoas em quatro shows de estádio na Dinamarca.
Dino se tornaria, aos 12 anos, o mais jovem indicado ao Porin, prestigiada premiação da música na Croácia – e pouco depois, se tornaria convidado do festival dinamarquês Langeland, junto com nomes como UB40 e Ronan Keating.
Ou seja, a carreira de Dino Jelusick estava mais do que delineada, correto? Bem… em teoria. Porque uma mudança estava a caminho.
Eu quero é ROQUE!
Por volta de 2007, já adolescente, Jelusick começou a sentir uma natural mudança na sua voz, perdendo parte dos seus registros mais altos. E como isso já o faria direcionar sua carreira de maneira diferente, ele preferiu respeitar as bandas que cresceu ouvindo ao longo da infância de adolescência (King’s X, Slash, Whitesnake, Dream Theater e Toto, por exemplo) e passou a tocar hard rock e heavy metal.
Como parte desta nova fase, em 2009 ele daria o pontapé inicial em um novo disco de estúdio em Melbourne, na Austrália, com o produtor Mark Berry (Carly Simon, Paul McCartney, David Bowie, Duran Duran) – que teve o trabalho finalizado pelo sueco Robert Ahrling. Lançado em 2011, o disco chamado “Living My Own Life” não tinha nenhuma música de fato escrita por Dino, e justamente por isso ele não costuma tocá-las ao vivo.
Mas, entre 2012 e 2013, o cantor e multi-instrumentista acabou contratado para um projeto internacional na África do Sul, chamado Synkropation. A ideia seria fazer uma colaboração musical em parceria com diversos artistas, como o cantor e compositor sul-africano Mandoza e a igualmente sul-africana Dilana (que chegou a cantar brevemente com o L.A. Guns). Embora o disco nunca tenha sido oficialmente lançado, Dino tocou para mais de 50.000 pessoas em Johanesburgo e participou até de duas rock óperas por lá. Também em 2012, ele iniciaria o seu primeiríssimo projeto roqueiro próprio, a banda de hard rock Animal Drive, que lançou o álbum “Bite!” (2018) e o EP de covers “Back to the Roots” (2019), antes de encerrar as atividades em 2020.
Entre prêmios e lutas
Mesmo em sua nova fase roqueira, Dino continuou bastante envolvido neste rolê de concursos e festivais – tanto é que, em 2014, ele levou mais uma estatueta pra casa ao se garantir no segundo lugar do festival internacional Slavianski Bazaar em Vitebsk, Bielorrússia. Mas a grande questão é que pouco depois viria uma luta contra a sua própria saúde. Ao experimentar problemas com sua voz, ele descobriu um edema de Reinke, doença crônica da laringe que demandaria uma cirurgia.
Depois da operação, ele compôs todas as faixas e gravou um disco conceitual chamado “Prošao sam sve” (“Eu passei por tudo”, em português), lançado em 2014. Ele é baseado em um livro autobiográfico “260 Days”, de Marijan Gubina, sobre um garoto de 10 anos que sobreviveu como refém em um acampamento de batalha durante a Guerra da Independência da Croácia (1991-1995).
Eis que, pouco depois, o baterista John Macaluso estava buscando por outro vocalista para atuar ao lado de Ivan Mihaljević em sua banda Stone Leaders, misturando croatas e americanos. Dino foi convidado e se juntou ao combo, ajudando a gravar seu disco autointitulado, que seria eventualmente lançado só em 2019. Mas, neste período, ele TAMBÉM foi integrante da banda de metal croata The Ralph, junto da qual lançou o disco “Enter Escape”.
Só que a vibe dos festivais continuou acompanhando o cara, que ganhou quatro prêmios no Discovery, na Bulgária, além de sair vitorioso do New Wave, festival internacional que rola em Sochi, na Rússia, considerado o maior concurso de canto do planeta.
A grande virada na sua carreira, no entanto, aconteceria em 2016.
No meio do caminho, tinha uma TSO (e um Soto)
Dino andava um tanto frustrado com a indústria musical da Croácia e sabia que precisava seguir além. Depois de se apresentar em tantos palcos fora de seu país, ele sacou que precisaria DE FATO se tornar um artista internacional. A chance para isso viria ao ser descoberto pela banda americana Trans-Siberian Orchestra, a famosa orquestra power metal de Paul O’Neill e seus amigos Jon Oliva, Robert Kinkel e Al Pitrelli. Depois de um teste no estúdio de Paul em seu estúdio na Flórida, o cantor foi escolhido para se juntar ao grupo e se tornou parte da turnê de inverno de 2016.
Lembremos também que o vocalista multiprojetos Jeff Scott Soto, integrante recorrente do TSO (e também atração do Summer Breeze este ano, aliás), já tinha dado uma força ANTES para Dino e sua banda prévia, o Animal Drive, recomendando o trabalho dos caras para a gravadora italiana Frontiers Records, aquela mesma que ama um bom hard rock farofa.
Embora tenha, entre 2018 e 2019, se apresentado em alguns programas musicais da TV croata, tanto no programa “A-Side” quanto numa versão do reality show musical “Just the Two of Us”, da BBC, as portas abertas pelo trabalho no TSO o levaram a fazer parcerias com muita gente tarimbada. Tony Hernando, guitarrista do Lords of Black, lançou um álbum de seu projeto solo Restless Spirits e convidou Dino pra cantar duas canções, em meio a convidados especiais como Deen Castronovo, Johnny Gioeli e Alessandro Del Vecchio. Ele também deu voz a músicas no projeto Free Fall, do sueco Magnus Karlsson (Primal Fear); no Gotus, com ex-membros do Krokus + Mandy Mayer (Gotthard); e chegou a escrever a gravar vocais e teclados no for Dirty Shirley, projeto paralelo de ninguém menos do que George Lynch (Lynch Mob, Dokken).
Depois da pandemia, nada menos do que TRÊS bandas
Embora, em 2020, Dino tenha concluído o seu mestrado na Academy of Music da Univerdade de Zagreb, também foi o ano em que MUITOS projetos foram por água abaixo graças a um certo vírus de proporções mundiais (não sei se você já ouviu falar, aliás…). Mas o sujeito não ficou parado e compôs canções em parceria, ainda que remotamente, além de gravar jams online com gente como as Mike Portnoy, Joel Hoekstra, Jordan Rudess, o nosso Kiko Loureiro…
Até que, em 2021, com a pandemia dando uma arrefecida, ele recebeu uma ligação de ninguém menos do que David Coverdale. É, ele mesmo. O líder do Whitesnake. Uma das maiores influências da vida do próprio Dino, aliás. Convidando Jelusick para ser juntar ao grupo. “Fico mais do que honrado em ser parte de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos”, disse ele, em comunicado oficial. “Receber este telefonema de David Coverdale é algo que qualquer cantor ou músico da minha geração somente sonharia, parece surreal. (…) DC me disse que quer me ver trazendo um pouco da minha identidade à sonoridade desta banda icônica”.
Atuando não apenas como tecladista, mas também como cantor, Dino chegou a fazer uma primeira turnê pela Europa com o Whitesnake – mas quando parte dos shows nos EUA foram cancelados graças aos problemas de saúde de Coverdale, Jelusick chegou a substituir temporariamente o igualmente icônico Glenn Hughes à frente do The Dead Daisies, enquanto o vocalista se recuperava da covid-19.
Só que não acabou. Porque, além do Whitesnake, Jelusick queria retomar seus projetos autorais. E depois de conseguir se livrar de uma longa treta judicial com a Frontiers, Dino imediatamente começou a gravar as canções do Jelusick, sua banda solo que veremos em breve por aqui – na qual obviamente atua como vocalista, devidamente acompanhado por Ivan Keller (guitarrista), Luka Brodaric (baixista) e Mario Lepoglavec (bateria). O ótimo disco, “Follow The Blind Man”, foi lançado em setembro de 2023.
Pra encerrar, vale recordar que Dino Jelusick TAMBÉM está envolvido com o supergrupo Whom Gods Destroy. Com o retorno de Mike Portnoy ao Dream Theater, o Sons of Apollo encerrou atividades – portanto, o guitarrista Ron ‘Bumblefoot’ Thal e o tecladista Derek Sherinian montaram um novo projeto. Além de Dino nos vocais, temos Yas Nomura no baixo e ninguém menos do que Bruno Valverde (do Angra) nas baquetas. O disco da banda, “Insanium”, sai agora em março.
Vale a pena reforçar que ainda temos ingressos à venda pro Summer Breeze – é só colar no Clube do Ingresso e escolher o seu dia favorito.