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Entra nessa (de impresso), Gildo

Astro das famosas tirinhas online criado por Thiago Egg, o personagem que navega por dilemas existenciais e pequenas alegrias da vida adulta ganha a sua versão física, para as prateleiras de colecionadores e lombadeiros

Por THIAGO CARDIM

Além das receitas para fazer pão caseiro em casa, aulas online de ginástica e declarações bizarras de um dos políticos mais desumanos que já passaram pelo Planalto, uma coisa que marcou a pandemia (pelo menos para este que vos escreve) foram algumas tirinhas online agridoces, entre divertidas e ácidas, minimamente animando as nossas timelines.

Foram os personagens pop e suburbanos de Paulo Moreira, o mais puro suco do Brasil. Foram os esquetes non-sense e surreais de Raphael Salimena. E foram as fofurices com cara de vida real do Gildo.

O Gildo é aquela raposinha criada por Thiago Egg – ilustrador e designer, paulistano morando em Vitória (ES) há 11 anos com a esposa, dois filhos e dois gatos.

“Atualmente, meu foco principal é trabalhar com livros infantis, quadrinhos e projetos educacionais”, apresenta-se ele, em entrevista exclusiva pro Gibizilla. “Mas isso é recente, pois abri meu estúdio há 3 anos. Antes disso, trabalhei como designer gráfico em agências de publicidade e distribuidoras de filmes”.

Meu xará diz que, no fim das contas, insiste em fazer quadrinhos, mesmo que isso custe mais dinheiro do que renda. “É como dizem: depois de ser picado por esse bichinho, é difícil parar”.

Nasce a raposinha

Gildo é um cara comum, sobrevivendo com seu emprego ruim e amigos questionáveis, fazendo sábias escolhas de vida (ou a falta delas) com seus dilemas e alegrias cotidianas. “As tirinhas tratam de episódios cotidianos da vida adulta, ou seja, boletos, dilemas existenciais e as pequenas alegrias. Sempre com um traço simples e rápido”, explica o quadrinista.

Ele conta que escolheu uma raposa como protagonista por ser um animal sempre bem explorado no mundo do entretenimento. “Mas, nesse caso, não é a raposa que é a mais esperta ou malandra. Ela é apenas mais um personagem como qualquer outro, sobrevivendo com seu trabalho como protagonista de tirinhas e pagando seus boletos atrasados”.

Thiago diz que sempre quis produzir tirinhas e fez algumas tentativas ao longo dos anos – mas Gildo foi o que mais “vingou”. Ele surgiu sem querer, quando o autor juntou alguns rabiscos da sua pilha e montou a primeira tirinha. “Mostrei para minha esposa e alguns amigos, e eles gostaram, então decidi continuar produzindo. O traço foi se modificando conforme avançava na produção, e decidi não alterá-lo quando juntei as tiras”.

Ele diz que acha legal a relação que as pessoas criam com o Gildo, já que as histórias são propositalmente inspiradas em perrengues reais, sejam os dele mesmo ou relatos de amigos e familiares. “Então, é fácil se identificar com alguma tirinha e criar uma relação com os personagens. Os nomes também são inspirados em pessoas comuns com quem já convivi”.

Das páginas das redes para as páginas impressas

Thiago revela que o livro nasceu da sua teimosia em fazer livros impressos. “Também é legal imaginar que existem pessoas lendo e acumulando gibis em suas prateleiras empoeiradas, para ler e reler, emprestar ou presentear sempre que quiserem”, diz. Como é uma produção autoral e dessa vez sem financiamento coletivo, a tiragem inicial é pequena.

“Vou vendendo nos eventos que participo e na minha lojinha online, produzindo mais sempre que precisar e houver procura”. O lançamento oficial mesmo, no entanto, está reservado para a CCXP 2023.

Para esse volume inicial, Sai dessa, Gildo, ele reuniu as tirinhas dos dois anos que foram publicadas na internet e resolveu produzir algumas inéditas para que ficasse algo atrativo para quem já acompanha. “Tem um arco de história sobre ele se sentir explorado e não ser tão reconhecido e famoso nesse formato de publicação que escolhi, o que achei divertido de fazer”.

No fim, o autor afirma que acha legal manter o registro do processo e como essas tirinhas lhe serviram de escape no tempo livre. “Entre brincadeiras com os filhos, trabalhos e tarefas domésticas em uma rotina maluca pós-pandemia”.


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