Bottoms: o filme de lésbicas trambiqueiras que a gente precisava
O filme virou hype nas redes e teve aprovação altíssima no Rotten Tomatoes, mas ainda não tem data de estreia oficial no Brasil
Por GABRIELA FRANCO
Bottoms (algo como “embaixo”, “por baixo”, significando portanto quem está na base da pirâmide social da escola) é o novo filme da jovem Emma Seligman (do ótimo “Shiva Baby”), co-roteirizado e estrelado por Rachel Sennott (que também protagoniza “Shiva Baby”) e pela incrível Ayo Edebiri (que está brilhante na série “The Bear”) – e que está aguçando a ansiedade e curiosidade do público nas redes sociais.
O filme estreou dia 25 de agosto nos EUA e, na primeira semana de exibição já alcançou 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, o que logo chamou a atenção do pessoal por aqui, que correu para saber do que se tratava.
O enredo se vale de diversos clichês de filmes colegiais estadunidenses, porém de uma forma crítica e divertida. As melhores amigas PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri), cansadas de serem impopulares e de não conseguirem beijar ninguém ao final do ensino médio, têm a brilhante ideia de criar uma espécie de “Clube da Luta” no colégio para conhecer garotas e finalmente perder a virgindade.
Para isso, inventam uma série de histórias trágicas em busca da simpatia do professor de história (designado para monitorar o grupo) e da adesão das líderes de torcida. Mas a coisa toda sai do controle e logo elas vão precisar lidar com um bando de adolescentes espancando umas às outras e queimando carros pela vizinhança.
Se Diablo Cody tivesse dirigido Superbad
Bottoms é bem isso: se filmes como “Picardias Estudantis”, “A Revolta dos Nerds”, “Curso de Verão”, “Porky’s”, que inundaram nossa adolescência são estes registros sobre como eram as relações e todos os ritos de passagem dos jovens estadunidenses, este lançamento veio para mudar as coisas. Primeiro, porque esses filmes eram geralmente estrelados por homens.
As meninas, no caso, ficavam sempre em segundo plano, eram o “alvo” deles e separadas em clichês: a garota fofa e gata que era princesa do baile; a femme fatale que era “piranha” e dava pra geral; as feias inteligentes e rebeldes que serviam apenas como amigas dos caras ou eram motivo de bullying.
No filme de Emma Seligmann, claro, estes estereótipos existem, porém são totalmente desconstruídos. Os meninos, heróis do futebol americano que defendem a escola, são retratados como um bando de moleques atrapalhados, mimados e chorões; as líderes de torcida não são de modo algum sexualizadas ou taxadas de burras (aliás, mulher alguma é). E as minas existem das formas mais diversas possíveis e imagináveis. Tem mulher certinha, tem mulher ingênua, tem mulher esperta, tem mulher infiel, tem mulher trambiqueira SIM, mulher mentirosa, mulher boa e mulher má. Porque é isso. Não somos uma coisa só, um bloco homogêneo que age de uma só forma sob um só pensamento de manada. E a película super explora essa diversidade incrível.
A diversidade étnica também é maravilhosamente retratada, primeiro com Edebiri que, ao contrário da personagem de Sennott, é tímida, mais quieta, mais introvertida; depois também temos Havana Rose Liu como Isabel, Ruby Cruz como Hazel e a estreia de Kaya Gerber, a filha da supermodelo dos anos 90 Cindy Crawford, como a mais gata das gatas do colégio.. Os meninos são liderados pelo “quarterback” estrela Nicholas Galitzine (do filme “Vermelho, Branco e Sangue Azul”) e temos ainda Marshal Lynch como Mr G, o professor de História que tenta “entender as mulheres”.
O filme é produzido por Elizabeth Banks, que tem uma história interessante de querer apostar em novos talentos femininos – Banks produziu o ótimo “Fora de Série” (“Booksmart”, que tem quase a mesma pegada de Bottoms), “As Panteras”, “A Escolha Perfeita” (“Pitch Perfect”) e até roteiros peculiares como o recente – e esquisito – “O Urso do Pó Branco” (“Cocaine Bear”).
Falando nisso, aliás, “Bottoms” não é uma primazia de roteiro, não tem reviravoltas, não é um filme que transforma vidas. É um filme DE e PARA adolescentes, “vivendo altas aventuras com sua turma do barulho”, tentando sobreviver ao ensino médio e descolar uma transa. Quem nunca?
A diferença é que essa história toda agora é contada por mulheres. E por incrível que pareça, essa simples diferença muda tudo. Afinal, a sociedade exige mulheres perfeitas mas tolera homens medianos. Ser medíocre é, definitivamente, um privilégio masculino.
Fun fact: Os “xóvens” das redes sociais querem que o título seja traduzido para o português como “Passivonas” já que “Bottoms” também é uma gíria para quem “fica embaixo” numa relação sexual.
Bottoms não tem previsão de estrear no Brasil, mas tudo indica que ele irá direto para o streaming da Prime Video. Vamos ficar de olho e avisamos!