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Tempo Discos: Adoniran, comédia e viagem no tempo

Primeira HQ escrita pelo produtor audiovisual Rodrigo Febronio, desde sempre um fanático por gibis, traz uma dupla de heróis improváveis numa missão pra salvar uma joia da música

Por THIAGO CARDIM

“Eu acho que nunca fui uma coisa só na vida e até trato desse assunto na HQ, de como podemos ser várias coisas ao longo da vida”. A explicação do Rodrigo Febronio, autor da HQ Tempo Discos, em papo exclusivo com o Gibizilla, tem muito a ver INCLUSIVE com a minha própria trajetória. Ele explica que começou profissionalmente no jornalismo, de redator a repórter, mas seu lado “produtor” sempre foi algo necessário para ajudar a levar seus projetos adiante. Foi assim que surgiu o programa Banca de Quadrinhos, lá em 2007. O bichinho dos gibis já tinha picado. Ele só não fazia muita ideia ainda.

“A galera das antigas dos quadrinhos lembra de mim por causa do programa, que eu fazia junto com o Cadu Novaes, a Daiane Crepalde e participações especiais ao longo do tempo (incluindo a querida Gabi Franco)”, explica ele. “Depois de uma longa carreira como jornalista e produtor, passei a me arriscar na ficção”. Rodrigo conta que a última década foi um momento de consolidação do seu trabalho de produtor e do amadurecimento do weu lado de criador de histórias. “Sempre quis contar minhas próprias histórias e nos últimos seis anos comecei a botar muito mais energia nisso”.

Em 2016, como um projeto de piloto de série de TV, surgiu uma ideia original, escrita ao lado do amigo Gabriel Gallindo. “Fizemos um tratamento (de roteiro), nos divertimos e acabamos amigos ao fim do processo de escrita. Só que uma história de viagem no tempo pode ser um tanto cara de produzir”. Então, ele decidiu recriar a história no formato de quadrinhos e convidou o desenhista Samuel Sajo pra rabiscar algumas páginas.

Sobre o Samuel, ele diz que é um cara muito talentoso e que, além de desenhar muito bem, sabe ouvir as maluquices que um roterista pensa e criá-las visualmente. “Eu adoro a concepção dele para os personagens da HQ, principalmente para o Gerson. Tomara que o Sajo desenhe e seja cada vez mais publicado. É um baita talento”. O outro desenhista é Al Stefano, veterano dos quadrinhos e das publicações educacionais. “É daquele tipo rápido e certeiro”, afirma Rodrigo. “Eu dei a maior sorte que contar com eles. Sorte também de ter convencido o Daniel Esteves e a Zapata Edições a toparem entrar como editora da HQ junto ao PROAC. O Esteves é uma das minhas pessoas favoritas e, sempre que a gente trabalha junto dá samba: um curta, uma série de TV e, agora, uma HQ”.

Por último mas não menos importante, tem a Laura Raffanti, que fez o projeto gráfico da HQ, incluindo os extras, e que foi a leitora de primeira hora de tudo. “Além de uma designer incrível, é minha companheira de vida”, conta o autor. Time pronto, eles mandaram ao PROAC-SP e foram selecionados. “Eu logo entendi que aquele piloto de TV tinha alguns elementos importantes pra história, mas que eu precisaria criar muito mais pra segurar uma boa aventura em quadrinhos”.

Nascia então Tempo Discos.


Coloca o disco na vitrola, então!

Tempo Discos é uma história que junta um monte de coisas que o próprio Rodrigo adora desde criança: MPB, Adoniran Barbosa, uma boa dose de comédia e histórias de viagem no tempo. “Temos um vilão bem ressentido chamado Gerson Horta, que sofreu um grande trauma e agora vê uma chance de colocar o nome dele na história da MPB. Só que Gerson quer fazer isto às custas do legado do grande Adoniran Barbosa, voltando no tempo em pleno bairro do Bixiga, para transformar o Samba do Arnesto no infame Pagode do Gerson”.

Aí, como temos um vilão, obviamente que temos o herói – ou melhor, uma dupla de heróis improváveis, composta por Paulinho e Amélia, que vão fazer de tudo para impedir o plano de Gerson. 

Mas por que Adoniran?

“Eu escolhi o Adoniran Barbosa pra esse primeiro porque ele é, de longe, meu sambista favorito”, confessa o escritor. “Adoro a mistura de comédia e tragédia dos sambas dele. Gosto como ele retrata a vida cotidiana numa grande cidade sempre do ponto vista de quem é pobre. Eu sempre consumi Adoniran e gostava de ler sobre ele”.

Quando de fato o roteiro começou a criação da HQ, foi atrás de duas ótimas biografias dele, que ajudaram a entender melhor alguns fatos justamente para subvertê-los. “Adoniran gostava de inventar histórias sobre a origem das próprias músicas, então senti que também podia fazer o mesmo no gibi.  Fizemos homenagens visuais e literais ao cancioneiro do Adoniran. Tem até personagem de música com papel importante na história!”.

Para Rodrigo, Tempo Discos poderia virar uma série de histórias. “Cada capítulo com um personagem histórico da MPB”, diz. “Já comecei a pensar, bem devagar, numa possível continuação. Personagens históricos incríveis não faltam para a nossa próxima viagem no tempo. O bichinho do roteiro de quadrinhos me mordeu. Quero mais!”.

Embora o lado produtor tenha ajudado Rodrigo a mapear editais, encontrar parceiros, estruturar projetos e ajudar o Rodrigo criativo a desenrolar suas ideias, chegou uma hora em que isso não era mais suficiente. “Atualmente estou finalizando a minha primeira série de ficção, chamada Bola pra Frente, que deve ir ao ar no fim do ano, na TV Brasil. Uma produção da minha produtora Abaquar e da Sopro do Tempo, que estou muito ansioso pra ver ganhar o mundo”. Portanto, se tudo der certo, 2023 tem não apenas o primeiro quadrinho do Rodrigo Febronio, mas também a sua primeira série de TV (escrita com os amigos Daniel Esteves e Gabriel Gallindo).

A trilha sonora de uma HQ

Pra encerrar o nosso papo, já que estamos falando de um gibi BEM musical, perguntei pro Rodrigo que, se ele tivesse que selecionar cinco canções para ouvir enquanto se lê o gibi, quase como trilha sonora, quais seriam elas? “Trem das Onze e Saudosa Maloca são unanimidades e muito conhecidas. Então pensei nessa listinha com outras coisas imperdíveis dele”.

1) Iracema

2) Samba do Arnesto

3) Vide Verso Meu Endereço

4) Despejo na Favela 

5) Samba no Bixiga

Bônus Track: Apaga o Fogo, Mané

Tempo Discos pode ser comprada aqui, no site da Zapata Edições.

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