Top 15 melhores filmes de 2022
2022 não tratou ninguém bem. Mas foi o ano que voltamos ao cinema, finalmente vacinados, de máscara, mas cheios daquela paixão que estávamos fervendo para reaver. Estes são os melhores filmes de 2022 na minha opinião. 🙂
Por SILAS CHOSEN
Completar essa volta ao redor do Sol faz todos nós merecermos parabéns!
E foi um ano no qual o cinema não fez feio – mesmo tendo muito de suas grandes experiências acontecer via streaming. Dá para melhorar: e se a Netflix se curar da doença que tem e lançar o terceiro Entre Facas e Segredos no cinema?
Entrei numa sala IMAX para ver algo feito para ser visto em IMAX pela primeira vez em anos, e isso fez (quase) tudo valer a pena.
Vamos à mais uma daquelas listas de fim de ano, onde eu uso os meus parâmetros pessoais para enlistar o que foram, para mim, os 15 melhores filmes de 2022.
Mas antes, algumas menções honrosas:
Is That Black Enough for You? | Morte Morte Morte | Racionais: das Ruas de São Paulo pro Mundo | Era Uma Vez um Gênio | Speak No Evil | O Telefone Preto | Noites Brutais | Crimes do Futuro | Belle
E agora….
15 – X – A Marca da Morte
Num ano espetacular para o cinema de horror, com filmes memoráveis como Barbarian (lançado aqui como “Noites Brutais”) e O Telefone Preto, o diretor Ti West cria um slasher estiloso. Um grupo de jovens querem nada mais do que filmar uma pornografia em paz, na cabana de hóspedes alugada de uma fazenda. Precisam, é claro, esconder tudo do dono da fazenda e de sua esposa, uma idosa que tem um comportamento muito estranho. E aí o sangue começa a correr e os corpos começam a empilhar. Um slasher com personalidade, liderado por uma Mia Goth sonhadora (num surpreendente papel duplo!) e com a participação da então-não-onipresente Jenna Ortega.
14 – Red – Crescer é uma Fera
Já faz um tempo que a Pixar não é aquela figurinha carimbada ultra-necessária nas listinhas de fim de ano. Mas é um alívio ver que eles não só não perderam a mão, como ainda estão no front, testando coisas novas e falando com gente diferente (mesmo que para isso tenha-se demorado tempo demais). Em Red – Crescer é uma Fera, Meilin é uma garota nerd, esquisita e cheia de si, que chega aos 13 anos e descobre que a família tem uma maldição (é sempre assim). Quando seus ânimos ficam aflorados, ela se transforma num gigante panda vermelho. Mas a história vai além do “animal gigante fofo causando altas confusões”. Temos um aprofundamento na relação e necessidade de controle de uma mãe superprotetora, assim como temos o retrato genial de um público que o cinema normalmente evita retratar porque o que dá dinheiro é hominho jogando raio em outro hominho. Red é engraçadíssimo e sensível nas medidas certas.
13 – O Predador: A Caçada
O diretor Dan Trachtenberg, que havia dirigido somente o sólido e memorável Rua Cloverfield 10, dá mais um passo numa carreira promissora com um daqueles filmes que a gente não sabia que precisava. “Já pensou se um Predador lutasse com um guerreiro nativo americano?”. Essa premissa, sugerida por uma cena do próprio filme de origem da série, inspirou Trachtenberg a criar A Caçada. Aqui, seguimos a jovem comanche Naru (Amber Midthunder), que ao mesmo tempo em que tem que se provar como uma guerreira para sua tribo, tem que lidar com monstros invasores. Alguns são simplesmente homens brancos, mas há também a besta espacial invisível que está trucidando membros de sua tribo. Um baita filme de ação, inventivo e muito bem feito, que apresenta Amber Midthunder, confiante e dominante, para todo mundo que não tinha visto a obra-prima Legion.
12 – O Homem do Norte
O diretor Robert Eggers impressionou o mundo com A Bruxa, e depois confundiu o mundo com O Farol. Cria então, como seu terceiro filme, um “épico intimista” viking. O príncipe nórdico Amleth (vivido como adulto pot Alexander Skarsgård) testemunha o assassinato do pai (Ethan Hawke) pelas mãos do tio (Claes Bang), e jura vingança. Anos depois, agora um guerreiro poderoso e com muito sangue nas mãos (e nos olhos), ele retorna para resgatar sua mãe (Nicole Kidman) e aplicar a vingança do único jeito que um viking sabe. A premissa de O Homem do Norte pode enganar: este é um filme cheio de simbolismo, com um ritmo mais arrastado que o esperado para um banho de sangue bárbaro. Porém, o filme entrega um mundo cativante, misterioso, onde você não sabe exatamente o que separa a realidade e a fantasia.
11 – Pinóquio de Guillermo del Toro
É Pinóquio, via Frankenstein. Imagine se Gepetto existisse numa Itália fascista, em luto pelo filho que a guerra levou. Um espírito mágico travesso, um grilo falante melodramático, e um boneco de madeira desobediente. E tudo isso pelo olhar fantástico e crítico de Guillermo del Toro. Seu Pinóquio é um stop-motion de lavar a alma, com alguns dos visuais mais incríveis do ano. Mas a força deste filme – que merecia um lançamento mundial nos cinemas – está na delicadeza de sua humanidade, e no peso de seu antifascismo. O boneco de madeira não quer ser um menino: quer ser amado pelo que é. E não admite que lhe digam o que fazer. Marchar em nome da guerra? Jamais. Tratar o outro como inimigo? Pra quê? Em Pinóquio de Guillermo del Toro, a visão de uma criança é a salvação de uma zona de guerra, e também uma nova maneira de olhar a vida e a morte como partes da mesma dança.
10 – Decisão de Partir
Um dos melhores cineastas em atividade é Park Chan-Wook. Depois de uma trilogia de vingança, de onde saiu Oldboy, e vários outros filmes onde Wook explora a violência e o desejo, ele decide criar um conto sobre um amor impossível de uma maneira bem diferente. Em Decisão de Partir, seguimos Jan Hae-joon, um detetive detalhista e meticuloso, que está investigando um suposto suicídio. Porém, algo não encaixa: não só ele suspeita da viúva do morto (Song Seo-rae), como aos poucos vai se apaixonando perdidamente pela mesma. Unindo sua inventividade cinematográfica com uma edição saltitante, Chan-Wook nos leva numa jornada romântica bizarra, cômica e trágica no meio de personagens únicos. É um filme que implora ser assistido mais de uma vez.
9 – Argentina, 1985
Sabe aquela categoria de “filmes que deveriam passar na escola”? Entre 1966 e 1973, a Argentina sofreu com uma pesada ditadura militar, responsável pelo desaparecimento de inúmeros cidadãos, muito caos, violência e disrupção política. Quando eleições finalmente aconteceram, muito do povo ansiava por algo desconhecido de várias outras aventuras ditatoriais vizinhas: justiça. Em Argentina, 1985, seguimos o procurador Strassera (interpretado por quem? Por Ricardo Darín, é claro), um estressado (há) e inquieto servidor judicial a quem o governo encarrega a missão de julgar, num tribunal civil, os militares responsáveis pela ditadura. O filme é completamente baseado em fatos reais, e é uma lição de civilidade. E porque não de elegância cinematográfica, mantendo a sutileza e a simplicidade em prol do foco total nos acontecimentos e na verve inquietante de Darín. Dá inveja de algumas coisas.
8 – Avatar – O Caminho da Água
Nunca, sob hipótese alguma, aposte contra James Cameron. Ninguém ligava para Avatar. Foi um filme muito legal, lançado em 2009, que fez mais mal do que bem (com a revitalização do 3D). Uma continuação de um filme sobre o qual ninguém lembra nada tinha tudo para dar errado. É o que pensa o tonto, que aposta contra o James Cameron. Veterano de Aliens – O Resgate, O Segredo do Abismo, Titanic, Exterminador do Futuro, Cameron volta faminto por fama e bilheterias astronômicas ao jogar Sam Worthington de volta na pele azul de JAKESULLY, seu avatar Na’vi, agora pai de família e líder revolucionário experiente. Alguns retornos (MUITO) inesperados fazem a família fugir para se misturar com um povo aquático, e é no fundo do mar que os heróis vão encontrar formas cada vez mais criativas de aprender sobre a natureza e lutar contra invasores. O visual praticamente perfeito da animação CGI e a direção exemplar de ação que Cameron tem já são motivos o suficiente para gastar 3 horas numa sala de cinema gigantesca. E é por isso que amamos cinema.
7 – Ressurrection
O diretor Andrew Semans orquestra um horror esquisitíssimo cheio de paranóia e violência subjetiva. Margaret (Rebecca Hall) é uma executiva de sucesso que chegou aqui com um micromanagement pesado de tudo ao seu toque, em especial a vida da filha. Tudo é cronometrado perfeitamente. Até que David (Tim Roth) volta a aparecer. Aos poucos o filme (e Margaret) revelam qual o grande drama que se passou entre os dois no passado, mas dá para perceber que foi algo muito, muito pesado, para essa aparição tirar a vida dela inteira dos eixos. E esse incômodo se torna uma obsessão poderosa, enquanto Margaret revive traumas terríveis e tenta proteger sua filha. É um filme de horror bem fora do comum, com uma das melhores atuações do ano. O poder de Rebecca Hall neste filme não está no gibi, e ela quase dá mais medo do que o verdadeiro vilão do filme.
6 – Aftersun
Uma das primeiras coisas que notamos em Aftersun é como a câmera de filmar é importante. É a ferramenta da nostalgia, a câmera capaz de capturar e armazenar momentos, memórias, pessoas inteiras que não estão mais aqui. Em seu filme de estréia, a diretora Charlotte Wells cria um microcosmo dos anos 90 durante uma estadia num hotel na Turquia para um pai e uma filha, juntos depois de algum tempo separados, ali só para curtir as férias. Conhecemos a relação deles pouco a pouco, como pedaços de um quebra-cabeça que não tem pressa de se montar. E o filme, aparentemente sem pretensões, vai te envolvendo, até chegar no final, quando descobrimos onde ele queria chegar, e sofrermos o impacto emocional. Vale destacar que os atores centrais, Paul Mescal e a iniciante Frankie Corio, mostram um trabalho espetacular em sua naturalidade e em sua forma de interagir um com o outro.
5 – The Batman
Depois de tantas, tantas versões do Homem Morcego, ninguém estava realmente ansioso para mais uma. Digo, esse tipo de pessoa deve existir, mas não é recomendável. E aí o diretor Matt Reeves, da excelente trilogia recente de Planeta dos Macacos ousa colocar embaixo do capuz orelhudo ninguém menos que Robert Pattinson. Sim, da saga Crepúsculo (e de vários outros excelentes filmes, mas o que isso importa pro nerd médio?). Com um elenco de peso, que conta com um irreconhecível Colin Farrell como Pinguim, Paul Dano como o Charada e Zöe Kravitz como a Mulher-Gato, Reeves conta uma história de mentiras e intriga com uma Gotham City cheia de becos escuros e com um Batman verdadeiramente assustador. A outra parte da ousadia foi finalmente criar um filme mais impressionista. O trabalho de som e fotografia estão ali para criar tecido, para trazer sensações, para arquitetar um clima que faltava muito aos filmes da geração passada, feitos por Christopher Nolan. The Batman é um filme de hominho extremamente bem feito, que finalmente tenta colocar o Batman em seu devido lugar, e o mundo nerd fica melhor por isso.
4 – Não! Não Olhe!
Talvez a melhor das vantagens não muito faladas do diretor Jordan Peele – dos excelentes Corra! e Nós – seja seu apreço pelo esquisito. Em seus contemporâneos, compara-se a Guillermo del Toro em seu gosto pelo inusitado, pelo nunca antes visto, e pelo horror inteligente, recheado de comentário social. Sua última fábula fala sobre nosso fascínio, sobre espetáculo, sobre como somos atraídos por histórias e situações e o que isso faz de nós. Também é a história de dois irmãos tentando desvendar um mistério de proporções mitológicas e horrendas. Um dos filmes mais estranhos do ano, e por isso mesmo, um dos melhores. (Mas com uma tradução de título terrível, hein!)
3 – RRR
É o ano do maximalismo! O cinema de excessos indiano veio com tudo neste épico do diretor S.S. Rajamouli. Um show de breguice, violência, dança, cenas de ação completamente absurdas, retratando a história de dois personagens reais da luta indiana contra a ocupação britânica nos anos 1920. Os dois revolucionários, Bheem (N.T. Rama Rao Jr.) e Raju (Ram Charan Teja), nunca se encontraram na vida real, mas o filme imagina um bromance genuíno entre os dois, enquanto se vêem no meio de uma guerra de traição, lealdades duplas e animais selvagens. A cafonice do filme fica em segundo plano quando vemos uma entrega tão sincera de todos os envolvidos. Um espetáculo visual cujas 3 horas passam rápido demais. E você pode assistir pela Netflix!
2 – Glass Onion
Outro trunfo da Netflix neste começo de ano é a esperada continuação de Entre Facas e Segredos. O detetive Benoit Blanc (discutivelmente o melhor papel de Daniel Craig) retorna para mais uma trama de assassinato e verdades ocultas junto com um time incrível. Kate Hudson, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr, Edward Norton, Dave Bautista, Jessica Henwick, Madelyn Cline e Janelle Monáe (excelente!) são os convidados de um bilionário para um final de semana numa ilha paradisíaca. Junto com eles está o detetive, e é claro que vai rolar uma morte inexplicável, onde todos são suspeitos. Glass Onion aprofunda e aumenta ainda mais tudo o que fez de Entre Facas e Segredos um sucesso: os personagens cômicos, a direção cirúrgica de Rian Johnson e um mistério que consegue ser original o suficiente, ainda respeitando e homenageando séculos de literatura de whoddunit.
1 – Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
A outra grande obra maximalista, uma visão caótica de como nós vivemos num mundo conectado, enquanto narra um conto de trauma geracional, amor familiar e loucuras sci-fi num verdadeiro multiverso da loucura. Evelyn (Michelle Yeoh, no papel de sua vida), imigrante chinesa sonhadora, dona de uma lavanderia quebrada e de uma vida cheia de buracos, acaba arrastada para uma guerra interdimensional onde só ela é a chave para vencer uma criatura devoradora de realidades. A premissa é insana, mas a trajetória dos personagens, as cenas de luta e o coração no centro de tudo são levados com tanto cuidado e carinho que é impossível não se apaixonar. É um sci-fi louco, é um drama, é um filme de kung-fu, é uma epopéia existencialista, é um filme sobre entender seus pais, e entender seus filhos. E é um filme onde uma pedra pensante vai fazer você chorar. Um triunfo dos diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, que ainda conta com o retorno de Ke Huy Quan ao cinema!
2022 foi um grande ano para os filmes.
Aprendemos a ir mais longe, mesmo ficando mais perto de quem precisa.
Que 2023, o já declarado ano da esperança, traga coisas ainda mais fantásticas!
Feliz ano novo a todos!