Outside.co: HQs sobre vida fora da caixa
Batemos um papo com a Caroline Favret, uma das responsáveis pelo Outside.co, uma espécie de “neném” dos quadrinhos nacionais, mas com um potencial gigantesco
Por THIAGO CARDIM
Se você acompanha por aqui as nossas entrevistas com a galera que produz quadrinho independente no Brasil, já deve saber muito bem que a parada não é fácil. Justamente por isso, quem tá nessa sozinho e consegue encontrar um parça pra chamar de seu, já tem pelo menos o dobro daquele par de braços para tentar enfrentar o mundo.
Foi o que rolou com a Caroline Favret e com a Caru Moutsopoulos. Duas profissionais formadas em Letras, fãs de quadrinhos, elas sonhavam em fazer acontecer seus muitos projetos de HQs. Davam as caras em feiras, eventos, cursos… Mas, em 2019, em um curso no Sesc Pompéia, em São Paulo, conheceram o ilustrador Gustavo Novaes e a soma de dois + um virou múltiplos. O primeiro projeto, A Cabana, uma obra intensa sobre violência doméstica, saiu do papel. E o selo Outside.co virou realidade. “Daí pra frente não paramos mais”, diz Caroline, em entrevista exclusiva pro Gibizilla.
Um neném dos quadrinhos nacionais
Pra explicar melhor um pouco sobre os caminhos do Outside.co, a Carol usou esta frase para deixar claro que eles são um selo bem recente. “Ainda temos poucos títulos. A Cabana, Trindade (Caru Moutsopoulos e Deivs Mello, sobre uma misteriosa profecia), De que Vale? (Caroline Favret, Caru Moutsopoulos e Gustavo Novaes, sobre um ditador no além) e Instinto Incontrolável (Caroline Favret e Márcia Gava, sobre uma criatura grotesca na casa de Norman) são as HQs que a gente já tem no mercado”.
Segundo ela, a fonte das ideias das HQs que a equipe do selo escreve sempre vem da realidade. “A gente tenta trazer muito, até pro selo, coisas que sejam reais, desde medos nossos, experiências, desabafos… a realidade aprofunda, traz mais verdade pro que a gente faz e dá um sentido pra gente continuar”. Carol diz que, por mais fantasiosa que a trama pareça, tudo parte de algo real. “E daí a gente vai colocando o nosso eu naquilo – isso como roteirista, ilustrador, editor… Todo mundo acaba colocando um pedacinho de si nos trabalhos e aí vai se tornando uma coisa cada vez mais incrível”.
Agora em 2022, o Outside.co promete ampliar consideravelmente o portifólio e lançar nada menos do que QUATRO novos gibis. Um deles, Afeto, já virou até matéria especial aqui no site. Só que outros três também deram as caras no Catarse, para virar financiamento coletivo – a começar por Olhos de Quimera, escrito pela própria Carol e com arte da Harumoony, um projeto aprovado via PROAC e que está em pré-venda, a respeito de uma streamer presa em uma realidade distópica graças a um misterioso par de lentes de contato VR.
Além disso, Gustavo Novaes está trabalhando em Rockabilly Blues, HQ noir com mais de 130 páginas PB que traz esta ambientação para uma São Paulo dos anos 1990, em meio ao assassinato de uma prostituta no bairro do Bixiga, numa investigação conduzida por Silva, ex-cabo do exército que luta com os fantasmas do passado de uma juventude no período da ditadura.
Pra fechar a rodada, vai rolar Estado de Inocência, quadrinho de terror escrito por Caru Moutsopoulos e ilustrado por Deivs Mello, uma narrativa com toques de gore, usando um Inferno dantesco como cenário. Trazendo protagonismo pra uma personagem feminina, a história mistura a primeira parte da Divina Comédia de Dante com as antigas tradições do Yom Kipur (o chamado “Dia do Perdão”, uma das datas mais importantes da tradição judaica) – e pra gente aqui no Gibizilla, esta HQ tem um sabor especial justamente por se tratar de uma HQ com prefácio da nossa editora Gabriela Franco.
Todos no maravilhoso mundo do Catarse
Não poderíamos evitar perguntar sobre este processo de financiar gibis via Catarse – mas sendo um selo independente, justamente quando a competição é acirrada, com editoras grandes usando a plataforma pra fazer pré-venda. “A gente sempre começa com o pé no chão”, diz Carol. “Sabemos que o nosso selo ainda é muito pequeno e que a chance de não bater a meta é grande, mas o importante é que todo apoio ajuda a gente a continuar. Anda tendo progressão, desde o nosso primeiro projeto no Catarse, mas ainda estamos caminhando devagarinho. Acho que é isso, enquanto estiver andando pra frente, a gente segue!”.
Mas estamos falando justamente de um momento “complicado” no mercado de gibis, o temido segundo semestre – e agora que teremos o retorno da CCXP em versão presencial, quando todo mundo (grandes, médios, pequenos) tenta tirar seus projetos do papel a tempo de levar pro Beco dos Artistas lá do evento. “Acho que todo mundo quer lançar nos eventos de fim de ano; Aí os consumidores têm que escolher o que comprar, porque é muito projeto hehehe. Dá aquele medinho de não dar certo, mas acho que nisso não estamos sozinhas”.
Se depender da gente, jabá tá mais do que feito. <3