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Trecho da HQ Afeto

Combatendo preconceitos no microcosmo escolar com uma dose de Afeto

HQ Afeto, da dupla Natália Sierpinski (roteiro) e Vivi Melancia (arte), ambas com experiência em educação, é uma webcomic que já está em financiamento coletivo para virar edição impressa

Por THIAGO CARDIM


Para quem está minimamente por dentro dos bastidores do mercado de quadrinhos no Brasil, o nome da Natália Sierpinski é facilmente reconhecível. Pesquisadora de HQs e Gênero, educomunicadora e coordenadora da programação da deliciosa Butantã GibiCon, a Nat já foi colaboradora do Minas Nerds e agora pode ser vista escrevendo no Mina de HQ. Mas depois de tanto tempo trabalhando PARA os gibis, agora ela vai usar a sua experiência trabalhando COM os gibis. Seu primeiro quadrinho como autora, roteirista mesmo, está numa campanha de financiamento coletivo lá no Catarse – trata-se de Afeto, uma parceria com a maravilhosa ilustradora Vivi Melancia.

“Acredito que participar da organização da Butantã GibiCon desde 2019 foi o meio do caminho desse ‘salto’, pois me aproximei mais do cotidiano dos artistas e conheci muito mais da prática da produção das HQs, que temos pouco contato no universo acadêmico”, explica ela, em papo exclusivo com o Gibizilla, a respeito de seu pulo para o outro lado do muro. “Tem sido um processo muito gostoso, tenho recebido apoio de muitas pessoas, inclusive de artistas que admiro. Escrever o roteiro foi só o começo da jornada, agora estou muito animada pra saber o que todos irão achar da HQ completa”. 

O projeto de Afeto começou em 2020, quando a Natália teve a ideia inicial do roteiro e compartilhou com a Vivi – que na época era professora de escola pública. Ela topou na hora. “Para pensar a narrativa em quadrinhos em si, meus estudos sobre linguagem das HQs, narratologia e questões de gênero nos quadrinhos foram a principal base, em que ter consciência de como as escolhas do que é mostrado e do que é omitido em cada cena interferem no todo, além de ter um grande cuidado em trazer protagonistas femininas e no desenvolvimento dessas personagens”, conta ela.

Sobre a história de Maria

Enquanto Natália escrevia a versão final do roteiro, a desenhista estava criando o design dos personagens e o layout da escola, então naturalmente foi um período de muito diálogo. Com o material em mãos, a dupla começou a publicar parte da HQ no formato de webcomic esse ano e agora se prepara para abrir as portas da Escola Pública Paulo Freire pra um público BEM maior.

Trecho da HQ Afeto
Trecho da HQ Afeto

Na trama, a protagonista Maria, uma menina de 13 anos que acabou de se mudar de cidade, acabou de chegar na escola. Junto com a adaptação, ela enfrenta diversos desafios pelo simples fato de ser uma garota.

Em uma história cheia de conflitos, emoções e reviravoltas, contrapondo as visões de alunos e professores (desde aqueles que compactuam com o preconceito e reforçam o machismo até aquelas professoras com posicionamento feminista), elas falam de diversas micro violências, físicas ou emocionais, e sugerem caminhos para os educadores contribuírem para romper estereótipos de gênero e ciclos de preconceito.

“Apesar da HQ se passar em uma escola, ela não se propõe a ser uma cartilha educativa e sim uma história de ficção, então as minhas pesquisas e práticas como educadora contribuíram como parte do repertório que usei para elaborar o argumento da HQ”, diz Natália. As duas acreditam que essa Afeto terá um valor especial para quem atua na área da educação, mas é uma história para todos os tipos de leitores, pois fala sobre problemas da nossa sociedade, o quanto já avançamos em alguns pontos e o quanto ainda falta avançar.

Este novo papel na carreira da Nat, aliás, como autora de HQs, vai se manter? Sim, mas não só. “Meu trabalho integral sempre foi na área de educação, atualmente sou coordenadora pedagógica no terceiro setor, então a área de educação vai continuar presente na minha trajetória”, confessa. “Quero continuar atuando como pesquisadora, na produção de eventos de HQs – e agora também – como roteirista. Acredito que são atuações que se complementam de alguma maneira, mas ainda não tenho previsão de quando irei produzir meu próximo roteiro. Porém quando o fizer penso em abordar outras temáticas sim, continuando na ficção”. 

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