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CINCO fases das HQs pra conhecer melhor a Mulher-Hulk

Jennifer Walters, a sensacional Mulher-Hulk, prima de Bruce Banner, é uma das personagens Marvel favoritas aqui da casa – e agora que ela vai ganhar série no Disney+, vale indicar passagens interessantes da heroína pelos gibis

Por THIAGO CARDIM

Antes de mais nada, vamos combinar o jogo aqui pra todo mundo ficar na mesma página, como dizem os marketeiros – conforme eu falei no Twitter, não tem qualquer cabimento chamar a Mulher-Hulk de “She-Hulk”. Se o Homem-Aranha é Homem-Aranha desde, sei lá, SEMPRE, o mesmo vale pra prima superpoderosa de Bruce Banner. Quer chamar, tal qual Peter virou por aqui o Miranha, de Verdona, Hulkyanne, Hulquela, Mulé Hulka, tanto faz. Mas sem este papo colonizado de “She-Hulk”.

Muito que bem. Dito isso… bom, muito provavelmente você sabe que a Mulher-Hulk virou uma série da Marvel Studios e que chega esta semana (a partir da quinta-feira, dia 18 de agosto) à telinha do Disney+. Última personagem criada para a Marvel por Stan Lee antes do cara abandonar os roteiros e se focar na vida como relações públicas e face cinematográfica da Casa das Ideias, a Mulher-Hulk surgiu em 1980, nas páginas de seu título próprio, The Savage She-Hulk.

Surgida do combo Lee e John Buscema, o motivo de sua criação é insólito: a série do Hulk, na TV, tava fazendo o maior sucesso. Mas uma das séries que se igualavam em popularidade era a da Mulher-Biônica, que nada mais era do que uma versão feminina do Homem de Seis Milhões de Dólares. A Marvel ficou com medo que a emissora resolvesse, então, experimentar uma versão feminina do Hulk e acabou criando a personagem antes, pra garantir os direitos autorais e igualmente ser referência caso eles quisessem fazer a Mulher-Hulk na telinha. Mas a série e/ou filme pra TV nunca saíram do papel, tanto quanto um planejado filme pra cinema com a Brigitte Nielsen (que depois foi a Red Sonja) no papel principal.

A origem da Mulher-Hulk
A origem da Mulher-Hulk


A origem da Mulher-Hulk nos gibis

Nascida na cidade de Los Angeles, Jennifer frequentemente passava as férias de verão com os parentes da mãe dela, os Banners, na pequena cidade de Dayton, Ohio. Apesar da diferença de idade de cinco anos, Jennifer e Bruce ficaram tão íntimos quanto irmão e irmã, mas pararam de se ver depois que Banner deixou Dayton e foi para a faculdade no Novo México (o resultado disso, que o levaria a trabalhar com o projeto da Bomba Gama, você conhece bem).

Anos se passaram, eles perderam contato, Banner virou o Hulk. Já tomado pela maldição do Golias Esmeralda, Bruce foi visitá-la, tentando retomar laços com seu passado. Foi a mesma época em que a prima, já advogada, defendia um capanga de nome Lou Monkton, que o criminoso Nicholas Trask queria a todo custo apagar. Jennifer acabou baleada e Bruce, para ajudá-la num momento em que perdia muito sangue, fez uma transfusão de sangue caseira, salvando a sua vida.

Mas seu sangue irradiado acabou transformando Jennifer definitivamente. Ela se tornou a Mulher-Hulk – com a força do primão mas sem a perda de consciência/inteligência. Ficou enorme, forte, verde e tornou-se um dos personagens mais divertidos da Marvel.

(Não nos questione sobre os motivos que levaram um brilhante cientista nuclear como Banner a fazer uma transfusão como esta e inocentemente nem sequer ter imaginado o que poderia causar à prima, já que sabia do que tinha acontecido com ele desde o incidente no Novo México)

Apesar da força e das atividades super-heroísticas, Jennifer – que sempre teve a identidade revelada publicamente, até porque seria complicado esconder a pele verde e o tamanho exagerado durante as fases em que não voltava à forma humana – nunca largou o oficio de advogada, sempre exercido com brilhantismo. Tanto é que ela acabava sendo a opção (ao lado de um certo Matt Murdock) de seus colegas uniformizados que tinham, por algum motivo, que ir parar nos tribunais. A inteligência sempre foi parte integrante da personagem.

E a personalidade forte também – a Mulher-Hulk sempre soube se defender muito bem e nunca foi a dama em perigo, a jovem a ser salva pelo herói de armadura, a donzela que se entregaria nos braços do super-herói ao fim da batalha com o supervilão. Jennifer é gata, é toda gostosona, tem um corpão. Mas a sexualidade, ao contrário de outras personagens, nunca foi seu elemento definidor.

: : : Leia também > A fase Imortal do Hulk é daqueles quadrinhos que você TEM que ler : : :

Top 5 melhores fases da Mulher-Hulk nos gibis

Bão, então, se você se interessou pela Gigante de Jade, a gente separou aqui cinco momentos bem interessantes da personagem nos gibis – e que, cada um a seu modo, prometem ser “inspirações” para esta primeira apresentação da heroína no MCU.

Mulher-Hulk no Quarteto Fantástico
Mulher-Hulk no Quarteto Fantástico

>>> Quarteto Fantástico (a partir de 1984)

Não, não. Você não leu errado. A gente começa aqui fazendo uma referência a uma passagem da Mulher-Hulk como parte de um grupo. Por sinal, é preciso dizer, Jennifer Walters sempre funcionou MUITO BEM como membro de equipes, justamente por ser uma personagem bastante social. Integrante dos Vingadores desde sempre, a partir do gibi Fantastic Four #265 ela acabou sendo convidada a integrar os quatro fantásticos.

A parada aconteceu porque, ao final da saga Guerras Secretas, quando os heróis retornavam do chamado Mundo Bélico para a Terra, Ben Grimm anunciou que ficaria por lá mais um tempo. O motivo? Naquele lugar, ele conseguia alternar tranquilamente entre a sua imensa forma rochosa de Coisa e a sua face humana, da qual sentia falta desde o acidente envolvendo os raios cósmicos que deram à superequipe seus poderes. Então, eis que ficou um buraco no Quarteto. Encontrar uma fortona com ótimo humor não foi lá uma tarefa muito complexa…

As histórias, comandadas por John Byrne, funcionaram lindamente, com uma deliciosa combinação de aventura e humor. E as interações da verdona (rs) com Reed, Susan e principalmente com Johnny, o eterno moleque com a testosterona em alta cujas intenções ela soube controlar perfeitamente, eram repletas de química.

Mas depois de 35 números, o Coisa enfim voltou pra nossa Terra. E a Mulher-Hulk, claro, saiu de cena para que Ben reassumisse seu papel. Os Vingadores a estavam esperando de braços abertos. E, bom, de alguma forma o próprio John Byrne também.

Onde ler? Bem aqui, no Omnibus Quarteto Fantástico por John Byrne.

>>> A Sensacional Mulher-Hulk (1989-1994, fase John Byrne)

Mulher-Hulk quebrando a quarta parede
Mulher-Hulk quebrando a quarta parede

“Quando Mark Gruenwald estava falando comigo sobre fazer um novo gibi da Mulher-Hulk, ele me pediu para pensar num jeito de fazer algo diferente”, relembra Byrne, em entrevista ao Syfy Wire. “Eu peguei o metrô de volta pra casa e, no caminho, pensei: ela sabe que está num gibi”. E foi simplesmente assim, inspirado meio pelos Looney Tunes e meio pela série de TV A Gata e o Rato, com Bruce Willis, que Byrne teve a ideia de fazer este experimento, surgido muito antes de Rob Liefeld sequer sonhar em criar o Deadpool e suas quebras de quarta parede. “Eu tenho um senso de humor meio maluco que não uso frequentemente no meu trabalho. Mas a Mulher-Hulk me permitiu fazer isso”, completa Byrne.

Enquanto os fãs mais hardcore se dividiam entre os populares e badalados X-Men e o pisoteado Homem-Aranha e seus roteiros sofríveis, Jennifer Walters tinha total e plena consciência de que era uma personagem de gibi. Byrne brincava com o mercado de quadrinhos, fazendo a garota efetivamente mencionar não apenas ele mesmo enquanto autor (em boa parte dos casos, bem fula da vida, quase saindo do quadro ou rasgando a página pra reclamar pessoalmente com o roteirista/desenhista), mas também editores, letristas, coloristas, arte-finalistas e, óbvio, por que não?, os leitores.

Byrne chegou até a aparecer nas páginas da HQ como ele mesmo, o escritor da trama, só pra ser jogado pela janela por sua protagonista. Afinal, só ele mesmo pra resolver colocar na sua frente um tal Doctor Bong, um vilão com cabeça de SINO. “Isso é algum tipo de piada?”, diz ela, se virando pro leitor, no quinto número de The Sensational She-Hulk. “O Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha enfrentam o Doutor Destino nas edições 5 de seus gibis e eu recebo este palhaço?”.

Onde ler? Bem aqui, no Omnibus da Mulher-Hulk por John Byrne

>>> Mulher-Hulk de 2005 (fase Dan Slott)

Olha, a fase do Byrne é clássica, a gente adora, é incrível mesmo. Porém… O período em que Dan Slott, conhecido principalmente por sua longeva passagem pelo título do Homem-Aranha, cuidou da personagem permanece sendo o nosso predileto por aqui. “O meu resumo para convencer a Marvel e tentar ganhar a oportunidade de escrever o gibi foi Ally McBeal com Músculos”, contou Slott dia destes, no Twitter, em referência à clássica série de TV estrelada por Calista Flockhart sobre o cotidiano de um escritório de advocacia. 

A Mulher-Hulk na fase Dan Slott
A Mulher-Hulk na fase Dan Slott

Portanto, exatamente como na série, o foco desta fase de Slott é na atuação de Jen como advogada. Mas, no caso, uma advogada especializada em casos envolvendo superpoderes. Ou, conforme o próprio autor explica… “Visão de raio-x pode ser considerada invasão de privacidade? Confissões obtidas a partir de um laço mágico podem ser utilizadas no tribunal? Seres espirituais podem testemunhar em julgamentos de assassinato?”. E por aí vai.

Agora assumindo um papel no prestigioso escritório de advocacia Goodman, Lieber, Kurtzberg e Holliway, é a ela que o Homem-Aranha recorre quando decide processar J. Jonah Jameson, o editor do Clarim Diário, por calúnia e difamação. Este arco não tem a metalinguagem de Byrne (embora exista uma versão da Marvel Comics dentro do Universo Marvel, com gibis refletindo a “realidade”), mas compensa mantendo o humor e um conhecimento quase enciclopédico da Casa das Ideias, reunindo um belíssimo elenco de coadjuvantes e trazendo uma porrada de heróis e vilões classe C para os holofotes.

Onde ler? Bem aqui, no encadernado da Mulher-Hulk por Dan Slott (edição gringa).

>>> Mulher-Hulk de 2014 (fase Charles Soule)

Depois de mais uma de suas diversas mudanças de status na Marvel, a heroína mais uma vez voltou ao básico que funciona em sua terceira rodada solo na editora, agora sob o comando do roteirista Charles Soule. Com uma arte menos “gibi de hominho” e mais humanizada, cortesia de Javier Pulido, a trama retoma a busca de Jen pelo equilíbrio entre a sua existência como justiceira uniformizada e sua carreira de advogada – aqui, agora trabalhando sozinha em seu próprio escritório. Pra quem gostou da passagem de Dan Slott, trata-se de uma continuação perfeita.

Temos a Mulher-Hulk encarando o Doutor Destino novamente, só que desta vez sem os parças do Quarteto Fantástico pra dar aquela força… porque tudo vai rolar nos tribunais, já que ela representa Kristoff Vernard, o filho (ou quase isso…) de Victor Von Doom. Além disso, também temos a chance de vê-la interagir mais ao lado de outro advogado famoso do Universo Marvel, ninguém menos do que Matt Murdock, o nosso Demolidor. Aliás, muito provavelmente tenha saído DAQUI a inspiração para a já anunciada aparição do herói na série do Disney+.

Onde ler? Bem aqui, no encadernado da Mulher-Hulk por Charles Soule (edição gringa).

>>> Mulher-Hulk de 2022 (fase Rainbow Rowell)

A fase ATUAL da Hulkona em seu gibi solo, que vem sendo bastante elogiada e caminha a passos largos pra se tornar tão histórica quanto as anteriores – e a primeiríssima a ser escrita por uma mulher. No caso, Rainbow Rowell, conhecida previamente por seu trabalho como autora de livros para “jovens adultos” como Eleanor & Park e Fangirl. Esta releitura foi anunciada pela Marvel como sendo “uma jornada que traz de volta suas aventuras solo favoritas dos fãs do passado, enquanto abraça um novo futuro para a personagem”.

Mulher-Hulk no traço belíssimo de Jen Bartel
Mulher-Hulk no traço belíssimo de Jen Bartel

E o mais legal é que DESTA VEZ eles acertaram na mosca. “A Mulher-Hulk é a melhor dos melhores”, disse Rowell, em comunicado oficial, quando começou a escrever o título. “Ela é inteligente, ela é engraçada – e ela é realmente heroica (tudo isso e ela tem o melhor cabelo dos quadrinhos). Jen sempre esteve no topo da minha lista de desejos da Marvel”.

A autora começa a contar as histórias de Jennifer depois da passagem da super-heroína pelo gibi dos Vingadores, num longo arco que vinha sendo escrito por Jason Aaron. Nas páginas gibi do supergrupo, ela se tornou quase como seu primo, assumindo uma persona verde monstruosa, desfigurada e bastante selvagem. Agora, de volta ao formato clássico que conhecemos, a Hulka está às voltas com o trabalho (precisando reconstruir sua carreira do zero), com a pancadaria heroica e, claro, com a sua vida amorosa. Poisé, a protagonista ganha mais uma chance com um crush do passado, o Valete de Copas, ao lado de quem ela enfrenta a bandidagem enquanto flerta de um jeito doce e divertido.

Para completar, as capas desta nova fase são da espetacular Jen Bartel, cuja arte limpa, fluida, pop e cheia de cor dá à Mulher-Hulk o seu visual mais incrível em muitos anos.

Onde ler? Bem aqui, no primeiro encadernado da Mulher-Hulk por Rainbow Rowell (edição gringa).