Ladybeard, a face mais barbada do J-Pop
Lembramos aqui daquela vez que fomos desvendar os segredos do sucesso de Ladybeard, vocalista do Babybeard, um grandalhão ocidental que incorpora/se veste de garotinha oriental fofa e conquistou o coração dos japoneses
Por THIAGO CARDIM
Neste final de semana, entre os dias 8 e 10 de julho, rola mais uma edição do Anime Friends, agora retomando os eventos presenciais. Uma das mais aguardadas atrações internacionais do evento é justamente o Babybeard, um trio de pop metal (ou talvez Kawaii Metal, como os fãs curtem chamar) formado em 2021 pelas idols japonesas Kotomi e Suzu, com suas vozes doces e ternas, e pelo grandalhão Ladybeard, um sujeito barbado com um vozeirão gutural típico do melhor death metal. Mais ou menos o mesmo esquema que ele fazia com o Ladybaby, seu projeto anterior. Eles colam por aqui pra divulgar os singles lançados entre o ano passado e 2022, e aí resolvi que era uma boa relembrar um papo que tive com o vocalista lá em 2015, pro JUDÃO.com.br, falando um pouco sobre quem ele é, de onde veio e como diabos se tornou a face mais barbada do j-pop.
Divirtam-se! <3
Um pouco de história
O nome do sujeito é Richard Magarey. Natural de Adelaide, na Austrália, ele é do tipo que fazia de tudo depois do colégio. Ator, dublador, dublê, praticante de luta-livre, cantor, dançarino… “No Japão, eu descrevo a mim mesmo como ÍDOLO, mas para o resto do mundo, eu prefiro a palavra PERFORMER. Isso cobre um monte das minhas atividades”, diz ele, em entrevista ao JUDÃO, mandando a modéstia pra casa do caralho.
O mais legal, no entanto, é que há muito tempo Richard não atende mais por seu nome de batismo. Ele criou uma espécie de persona que parece viver 24 horas por dia. Talvez você já até tenha ouvido falar: Ladybeard, “uma menina japonesa de 5 anos de idade que bizarramente tem a aparência de um homem australiano adulto”. É isso. Ladybeard é um australiano barbudo e peludo que se veste como uma menina japonesa. E está fazendo o maior sucesso lá pelas TERRAS DO SOL NASCENTE.
Atualmente, Ladybeard canta em uma banda de pop metal com duas meninas japonesas adolescentes: Rie Kaneko (17 anos) e Rei Kuromiya (14). O clipe de sua primeira canção juntos, Japan Bun, uma faixa que mistura a doçura meiga das garotas com os agressivos berros metálicos de Richard (ou Ladybeard, não sei, confesso que estou confuso), chegou ao número de 1 milhão de visualizações em apenas três dias.
As primeiras experiências com crossdressing começaram quando ele tinha 14 anos de idade. “Um amigo fez uma festa do ‘uniforme escolar’ mas, ao invés de usar o meu uniforme de sempre, decidi que usaria as roupas da minha irmã mais velha. Entrei na festa e todo mundo achou muito divertido – foi uma noite muito legal para mim e para todos que estavam comigo. Mal sabia eu o caminho que começaria a seguir ali…”, conta ele.
Bastante interessado em artes dramáticas, Richard resolveu tentar a vida em Hong Kong, no ano de 2006. Mudou-se de mala e cuia e começou a trabalhar como ator, dublador e dublê em filmes de kung fu. Por lá, finalmente conseguiu realizar um sonho e começou a subir em ringues de pro wrestling. “Na minha terra natal, as academias eram todas do outro lado da cidade, então nunca treinei. Quando mudei para Hong Kong, descobri a Hong Kong Wrestling Federation (agora Zero-1 Hong Kong) e foi a primeira vez que este tipo de treinamento se tornou acessível para mim. Então, fui treinar com um cara chamado Named Madness, que conheci num show de heavy metal”.
Toda a fofura do metal
Obviamente, Richard começou a chamar atenção porque lutava usando rigorosamente este mesmo tipo de roupa. Meião, sainha, maria-chiquinha nos cabelos. E sem medo de ser feliz. “Na verdade, a roupa ajuda muito! Meu treinamento original em artes marciais foi em Tae Kwon Do, então eu sei chutar. Sou flexível, minhas pernas são fortes. Então, uso muito os chutes nas minhas lutas. E vestir uma saia faz com que seja mais fácil chutar alto. Não tenho problemas com isso”, explica, deixando claro que na hora do pau comer solto, respeito é bom e ele gosta muito. “Qualquer um que tenha problemas com isso e não me leve à sério vai rapidamente aprender que está errado”.
Além disso, Ladybeard se tornou um nome relativamente conhecido também na cena musical de Hong Kong, já que o cara começou a fazer shows cantando versões metal de canções pop asiáticas (em japonês, cantonês, mandarim…). “Meu tipo favorito de música em inglês são os covers metal de canções pop, já que amo o poder do metal e a capacidade de ser grudento do pop. Então, quando bandas de metal fazem versões de músicas pop, é o equilíbrio ideal para mim. Enquanto eu estava em Hong Kong, ninguém fazia isso com as canções locais, então eu fui lá e fiz”.
Ele conta, no entanto, que uma coisa era recorrente ao final de cada show e começou a fazê-lo pensar em uma mudança de ares. “As pessoas chegavam em mim e diziam que achavam que os japoneses iam me amar. Então, organizei minha própria turnê no Japão em 2011, para testar o que ia rolar”, revela, orgulhoso. “Os japoneses amaram o meu show e eu realmente amei o Japão, então decidi me mudar para fazer a magia acontecer”.
Ladybeard manteve a rotina: LUTINHAS aqui, shows com tributos heavy metal ao J-Pop acolá. E, claro, a dura missão de aprender a falar japonês. “Eu devo minha atual habilidade quase inteiramente à minha agente Naoko Tachibana. Ela concordou em me agenciar, mas na época não falava nada de inglês. Ser forçado a me comunicar com ela apenas em japonês acabou me forçando a desenvolver esta prática muito rápido”, conta.
Rolaram até ensaios fotográficos e um DVD especial no qual fazia poses de pin-up, pagando de gatinha (?). Até que… “Enquanto eu estava gritando um monte de covers de J-Pop e lutando, a Clearstone [empresa especializada em cosplays] me chamou com a ideia de criar um grupo no qual eu cantasse com duas meninas”. Nascia o Ladybaby. E o resto é história. Ou quase.
(Nota do Editor – logo depois disso, ele migrou pro Babybeard e o resto virou história… DE NOVO)
Sentando a bota nos xiitas
Embora muita gente não acredite, Richard deixa claro que é mesmo um fanático pelo bom e velho metaaaaaaaal. “Na escola, o meu sonho era cantar numa banda, mas na época eu ainda não sabia berrar direito!”, confessa. “Minha banda favorita é provavelmente o Rammstein. Mas gosto de muitas bandas: Wednesday 13, Machine Head, Fear and Loathing in Las Vegas (uma banda japonesa de dance metal), a lista vai seguindo…”.
Mesmo assim, ele afirma não ter qualquer problema em ser odiado pela parcela mais xiita do metal. “Pessoalmente, não tenho lido/ouvido nenhuma reação negativa, mas não me surpreenderia se os puristas do metal me odiassem”, diz, sem remorso. “E apesar de eu não querer ser odiado, em certo ponto, fico feliz se eles não gostarem de mim”.
Richard se explica, dizendo que os metalheads sempre foram muito específicos sobre o que gostam e têm ideias firmes sobre o que é ou não metal. E, claro, o pop tem sido “o maior inimigo do metal” desde sempre, então misturar as duas coisas é como “cometer uma grande traição no mundo do metal”. Logo, é fácil entender se o ódio surgir. “Claro que eu preferia ser amado, mas é parte do preço que tenho que pagar por fazer as minhas coisas do jeito que gosto”.
Ele afirma que amaria visitar a América Latina e o Brasil, em particular (“Treinei capoeira durante muitos anos e minha agente ama samba. Seria muita diversão para todo mundo”). E deixa claro que os planos de alguns shows conjuntos com o grande expoente japonês do chamado do kawaii metal seria incríveis. “Eu amaria uma turnê com as meninas do Babymetal! Eu acho elas fantásticas, o show é perfeito e, claro, elas são as representantes originais do gênero. Espero ter a chance de trabalhar com elas no futuro”.
Enquanto isso, a garotinha vai vivendo um dia de cada vez, seguindo um mantra que repete pra gente e pede para todos os seus fãs respirarem: cante, dance, DESTRUA!