Matt Reeves resolve a maior charada do Batman nos cinemas
Com o novo filme do Morcegão nos cinemas, cineasta usa de maneira precisa um ótimo Robert Pattinson para explorar uma faceta do personagem que andava esquecida
Por THIAGO CARDIM
Não vou ser hipócrita, até porque já falei a respeito disso aqui mesmo no Gibizilla e também lá no nosso podcast, o Imagina Se Pega no Olho – mas diferente da grande maioria dos amigos e amigas leitores de gibis de super-heróis, o Batman tá longe de ser meu personagem favorito. Muito longe MESMO. Por mais que eu adore a sua galeria de vilões e diversos dos coadjuvantes da batfamília (oi, Asa Noturna!), ando cada vez mais com preguiça da superexposição do coitado do Cavaleiro das Trevas. Ele tem que aparecer em todos os gibis da DC, ele tem que estar como convidado em tudo quanto é filme da Warner… Um saco.
Por isso, confesso que de imediato bateu um bode no anúncio de MAIS uma versão do Morcegão nos cinemas. Pra mim, ele precisava era dar uma descansada, abrindo caminho pra trocentos outros personagens possíveis, e não ganhar a QUINTA versão cinematográfica live-action desde 1989. Mas também confesso que, apesar de ter dito várias vezes que não tava no barato de MAIS um filme do Batman, duas coisas me trouxeram de volta o tesão por conferir esta história – a primeira, claro, era o Robert Pattinson. Uma escolha fora do padrão Zack Snyder vigente pro papel de protagonista e, ao mesmo tempo, certeira por se tratar de um ótimo ator, que não tem medo de se entregar.
E a segunda e mais importante, sem dúvidas, é a presença de Matt Reeves na direção.
Depois do que o cara fez com uma de minhas franquias favoritas do cinema de ficção, o Planeta dos Macacos, equilibrando lindamente doses equivalentes de cinema pop cheio de adrenalina com camadas profundas de aprofundamento de personagem, não tinha como eu não ficar empolgado. E eu tava certíssimo ao pular no trem do hype, atendendo ao chamado do menino Reeves. Porque The Batman, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 3 de março, é um Homem-Morcego com sabor próprio.
Enquanto se posiciona, narrativamente, no total oposto do retrato do “herói” pintado por Snyder em Batman vs Superman, Reeves consegue igualmente se distanciar da estética de Christopher Nolan, que vinha sendo o carimbo obrigatório pra praticamente todas as adaptações de heróis desde então, inclusive pra algumas lá da Dona Marvel… E se, do lado de lá, foi lindo ver caras como James Gunn e Taika Waititi superando o manual nolanesco de vez, é uma delícia ver que a DC, justamente com seu principal personagem, enfim se liberta destas amarras.
E, mesmo assim, mesmo com sua identidade única, The Batman não perde aquela coisa toda de realidade, de naturalismo, de “o que aconteceria se o Batman existisse de verdade”, que foi a marca de Nolan. O pé no chão. Só que aqui, com outra embalagem. Calma que eu explico.
Um Batman há muito sonhado
Uma característica que Reeves finalmente apresenta do jeito que se deve é a do Batman detetivesco. Consideremos, claro, que esta é uma história de Bruce Wayne em seus primeiros anos de vigilantismo. Então, apesar de olhos treinados e um cérebro afiadíssimo, ele é um investigador em começo de carreira. Mas, mesmo assim, fazia muita falta ver o Cavaleiro das Trevas investigando um caso, analisando pistas, cruzando referências. Em resumo, usando aquele que é seu principal superpoder, a inteligência, ao invés de apenas e tão somente os punhos.
Para isso, a escolha do Charada como vilão foi absolutamente genial. Afinal, seus enigmas, seus códigos, são desafios perfeitos para a mente analítica do cruzado mascarado de Gotham City. Só que, em The Batman, o vilão ganha contornos menos cartunescos. Suas charadas são menos engraçadas, divertidas, aquelas piadinhas bestas de duplo sentido. O Charada aqui, neste universo cinzento que inicialmente conversa direto com o cinema noir de gangsteres e detetives, é um serial killer. Em certo ponto, ele chega a lembrar – guardadas as devidas proporções – o Jigsaw de Jogos Mortais, com um nível elevadíssimo de crueldade em suas intrincadas armadilhas.
Aqui, é preciso exaltar o trabalho de Paul Dano, um ator simplesmente espetacular que consegue ser igualmente assustador e, em certo ponto da história, até atrair a nossa empatia. E detalhe importante, sem resvalar na insanidade do Coringa, o que poderia ser uma delicada linha fina a se cruzar entre os dois personagens. O Charada parece ter uma missão, por mais que seja difícil entender qual é num primeiro momento, quando começa a acumular uma pilha de corpos dentre os maiores nomes da política local. Tudo tem cheiro de vingança. E para impedi-lo, o Batman acaba justamente se afundando em seu próprio desejo de usar o medo e os fetiches de violência para superar a morte de seus pais (que, AINDA BEM, é apenas mencionada e não mostrada mais uma vez).
Para segurar a sede de sangue de Bruce, uma aberração vestida de morcego ainda começando a ganhar a confiança da população de Gotham, Reeves acerta brilhantemente ao estabelecer um outro pilar nesta intrincada relação – James Gordon. O policial vivido por Jeffrey Wright, que ainda não é comissário, tenta convencer seus camaradas homens da lei que o mascarado é confiável. Mas, por outro lado, não tem qualquer medo de meter o dedo na cara do Morcegão, erguer a voz pra ele e segurar a onda do sujeito. Este Gordon é mais parceiro e menos sidekick, com personalidade, com autoridade, do tipo que impõe sua opinião e não aquele carinha que ficava com cara de bunda quando o Batman sumia e o deixava falando sozinho. O papo é outro, mermão.
Charada de um lado, Gordon do outro, o Homem-Morcego detetive tem contornos que chegam a lembrar os melhores momentos de um Se7en – Os Sete Crimes Capitais, clássico de David Fincher e que, por si só, já configuraria um elogio respeitável. Mas os méritos de The Batman não acabam aí. Nem de longe.
Um Batman há muito esquecido
Se tem uma parada que há muito me incomoda no retrato do alter ego de Bruce Wayne, em especial nos retratos mais recentes dos gibis, é a inevitável invencibilidade do Morcego. Ele sempre tem um plano na manga (ou talvez vários), ele sempre tem uma saída genial, um equipamento ultratecnológico que vai salvar o dia, uma força de vontade inabalável que vai servir de desafio para a mente mais brutal do universo, um golpe de alguma arte marcial obscura que vai virar até mesmo aquele oponente mais preparado.
Em resumo, um sujeito perfeito e infalível.
O Batman de Robert Pattinson não chega nem perto da perfeição. É, antes de tudo, um personagem humano. Mas não só porque não tem os superpoderes de um Superman ou Mulher-Maravilha. Mas porque tem defeitos visíveis. Consumido pela raiva de um passado que ainda não consegue digerir, por vezes ele fala sem pensar, por vezes exagera na violência. Este Bruce Wayne não tem uma persona playboy sorridente e descolada. Na real, ele foge de reuniões com acionistas e é uma espécie de ermitão lendário dos círculos sociais dos milionários locais.
O Batman de Robert Pattinson erra. E erra muito. Ele é visceral e costuma resolver as questões com o estômago. Nas lutas, ele apanha pra caramba. Mas revida. Se levanta, ainda que meio tonto, e continua brigando. Ele cai, se machuca, ele tem medo de altura, ele se arrebenta todo ao despencar depois de um erro de cálculo com seu uniforme planador.
E o Batman de Robert Pattinson tem coração. Um daqueles enormes, gigantescos, que a gente mal enxerga em Affleck, em Bale, tampouco em Clooney e Kilmer. Coração do tipo que o faz ser tridimensional, multidimensional, gente como a gente, que se estressa, que tem que lidar com seus próprios demônios, com suas cicatrizes. E aí que entra aquele que talvez seja um dos maiores acertos do filme – Alfred. Ele não é só o mordomo dos Wayne, um serviçal que anda pela casa disparando frases de efeito mordazes com sotaque britânico. Andy Serkis faz de Alfred o tutor de Bruce. Parte da família. O homem que cuidou do garoto desde a morte de seus pais, que lhe ensinou tudo sobre o mundo, sobre a vida, sobre as pessoas. Que ajudou a moldar sua ética e seu caráter. Em resumo, sim, Alfred é o pai de Bruce Wayne.
E, sem dar quaisquer spoilers, vai ficar CLARA a importância deste elo, de um jeito que nenhum outro filme já deixou, tornando uma conexão profissional em algo total e completamente pessoal. E, muito provavelmente, você vai se emocionar, mesmo com a sutileza de cada uma das sequências que constroem este mosaico. Como eu me emocionei.
Este Batman HUMANO, com alma, diferente de uma outra versão aí, tem uma outra característica fundamental que muitos dos filmes anteriores, se não todos, parecem ter esquecido – a simbiose do herói com Gotham City. Em obras como a de Tim Burton, claro, a cidade é um personagem. Isso é inegável. Mas em The Batman, fica claro praticamente um caso de amor. Que não só se complica como ao mesmo tempo se solidifica à medida que alguns segredos vão sendo revelados.
É este amor que coloca a “vingança”, esta palavra-chave tão repetida e questionada ao longo de toda a história, em cheque. E a partir dela é que surge uma outra, que vou deixar que você descubra sozinho no filme mas que faz com que ENFIM passemos a enxergar o Batman como um HERÓI. Ele não é um anti-herói. Um justiceiro. Um vigilante. Um quase vilão, como muita gente gosta de defender. Ele é, apesar de suas questões, de seus problemas, de suas neuroses, um herói. E heróis salvam vidas. E heróis, antes de tudo, INSPIRAM. Dizer mais do que isso pode estragar um clímax simplesmente maravilhoso.
O que você precisa saber é que, apesar de contar uma história sombria, dura, áspera, Matt Reeves entende exatamente o momento que passamos e o Batman que PRECISAMOS. Em certo ponto, este Batman é um ANTI Zack Snyder. Pode não parecer nos trailers. Pode não parecer até mesmo durante a primeira 1h30 de projeção. Mas, acredite, tudo vai ficando mais claro. Literalmente, até. Porque até o Batman entende, no fim, a importância da luz do dia.
Um Batman que age no silêncio
Tá bom, The Batman tem ótimas cenas de ação – a porradaria come solta em o corredor com luzes piscando, a troca de socos segue firme e sorte em tons vermelhos estroboscópicos e ao som de música eletrônica pulsando, tem até aquela perseguição de carro de tirar o fôlego que, saibam, é MUITO mais legal na versão completa do que os vídeos promocionais sequer sugeriam.
Só que quem for assistir ao filme procurando só pé na porta e chute no diafragma, acredite, vai se decepcionar. Até porque a ação aqui fica em segundo plano MESMO. Este é um Batman que por vezes se faz no silêncio, nos olhares, nas conversas com Gordon, na tensão sexual com Selina Kyle (com uma Zoë Kravitz que, apesar da sensualidade natural, tem diversas camadas e vai BEM além do estereótipo da ladra linda e vazia), nas caminhadas lentas com a capa esvoaçando enquanto a respiração do criminoso se acelera.
Não, o filme não tem aquele humor típico da Marvel, farofa escancarada, galhofa pura e bem servida, para quem estiver se perguntando (e obviamente, alguém vai se perguntar, eu bem imagino). Mas não deixa de ter lá seus momentos, contidos e dentro da proposta, em especial com o Pinguim de Colin Farrell – que, olha só, para a surpresa geral da nação, funciona perfeitamente e tem um papel fundamental numa trama que parece caminhar em diferentes direções mas acaba costurando o papel do chefão do crime Carmine Falcone (mais uma passagem magistral de John Turturro, que aterroriza só no jeito de olhar).
Agora, se você fala espanhol, prepare-se para um momento inesperadamente hilariante. Me pegou no pulo, vou te dizer. <3
E o futuro?
Para quem apenas acompanha o Batman nos cinemas, Matt Reeves deixa muitas pontas soltas para que ele e eventualmente OUTROS autores possam desenvolver um novo universo do Homem-Morcego como uma franquia completamente nova, do zero. Aquela aparição ao final, em pleno Asilo Arkham, é total e completamente reconhecível até pra quem NUNCA viu um filme do Batman na vida. E só UMA das muitas possibilidades.
Só que são os detalhes aqui e ali, estes sim saltando aos olhos de quem tem um pouco mais das referências dos gibis, que mostram a riqueza potencial dos anos futuros. Tem ali, obviamente, uma pitada de Batman: Ano Um. E também um quê de O Longo Dia das Bruxas. Isso é o que fica mais claro. Mas quando um HUSH pula na sua cara em plena tela, eis que Silêncio fala mais alto, ainda mais quando você identifica que o sobrenome de determinado personagem é “Elliot”. E é inevitável, conforme a trama se desenrola, que você fique esperando a todo momento uma menção à uma certa Corte das Corujas…
E, hey, o que era AQUILO dentro daquele frasco? O.O
Agora, se a DC vai explorar isso DE FATO, aí são ooooooooutros quinhentos.
O que dá pra dizer AGORA é que Pattinson é, de longe, um dos melhores Batmen a dar as caras nos cinemas (digamos que ele ainda precisaria destronar Michael Keaton para que a frase então mude para O MELHOR). E que Matt Reeves não apenas entendeu o personagem como se dispôs, tal qual Nolan e Burton, a dar a sua ASSINATURA a ele, fazendo um daqueles estudos de personagem que tanto adora enquanto mostra facetas pouco ou NUNCA exploradas do Morcegão nos cinemas.
Só isso já deveria valer o seu ingresso, na real.
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Uma pena achar uma resenha para saber sobre o novo filme, mas encontrar uma com um viés direcionado a outras encarnações.
Aí temos dois problemas: o texto faz malabarismos para incluir Snyder (Que pelo visto alugou um apartamento gigante na cabeça do autor da resenha.. passando por outros textos do site, sempre tem uma ou outra “cutucada”), em vez de focar no que as pessoas querem ler.
O segundo problema, é que não dá pra confiar num crítico que sequer entendeu as obras anteriores. Ou faz de quem não entendeu né. Uma coisa é não gostar dos filmes, outra é não absorver as nuances do filme, ignorar coisas claras apenas para falar mal de um cineasta que, além do apartamento na cabeça, nunca te fez mal.
Conselho: esquece o que já passou. Não há problema nenhum não gostar, mas parece um disco arranhado. Provavelmente a palavra mais falada neste site, mesmo antes deste texto, é Snyder..
Thiago Cardim
Então, veja só – Zack Snyder é um cineasta. Ele não precisa ser meu amigo, ter me feito bem ou mal, pra que eu possa analisar a sua obra e tenha o direito de não gostar dela. Ele pode ser o cara mais gente boa do mundo no set de filmagem e fora dele. Mas estou aqui analisando a obra. O que está na telona. Neste caso específico, tem ZERO por cento de pessoal aí.
Dito isso, veja, não creio que você tenha lido o “quem somos” deste site. Pois deveria. Mas tudo bem, eu resumo. O que rola aqui é a MINHA opinião. Eu não escrevo o que as pessoas querem ler. Eu escrevo o que eu acho. Ponto. Escrever o que os outros querem ler é fazer mais do mesmo. Ainda mais numa resenha, que NUNCA deveria ter esta coisa de imparcialidade – é o crítico dizendo o que achou ou deixou de achar. Quer imparcialidade, esta pretensa imparcialidade, talvez seja legal ler sinopse do verso do DVD ou Blu-ray.
E, assim… é BEM arrogante e pedante dizer que, só porque escrevi algo com o qual você não concorda, quer dizer que eu não “entendi” a obra, que não “absorvi as nuances”. Ah, mas entendi BEM. Ainda mais porque vi tudo e bem mais de uma vez. E isso é muito diferente de você dizer “não há problema nenhum não gostar”. Porque, pelo visto, há sim. A diferença é que você tem um olhar e eu tenho outro. Nunca desrespeitei quem gosta, mas EU não gosto e os motivos TODOS estão em todos os textos a respeito do cineasta que foram publicados neste site. Não tem uma argumentação vazia sequer.
Agora, se você gosta delas ou não, aí são outros quinhentos, direito seu. Mas seria IMPOSSÍVEL falar do atual Batman sem fazer comparações mínimas com os autores anteriores que o retraram – estão lá, no texto, menções ao Nolan, ao Burton… Mas aparentemente você só se focou no Snyder – que, até bem pouco tempo, foi o pilar de como todos os personagens DC foram retratados no cinema. Logo, não comparar A com B seria, no mínimo, irresponsabilidade jornalística da minha parte.
Agora, cá entre nós… Snyder tá LONGE de ser a palavra mais falada neste site. Porque a coisa sobre a qual mais falo aqui é gibi independente. E eu continuo sem entender, na moral, porque as pessoas insistem em vir nos comentários defender um cineasta engravatado milionário, que conta com o apoio de diversos grandes estúdios, como se ele REALMENTE precisasse disso. Juro que faria mais sentido, na minha cabeça, ver a galera vindo falar, opinar, discutir e defender a turma de artistas que tá ralando pra publicar o seu sem apoio financeiro nenhum. Mas, enfim, cada um é cada um. No fim, acho que isso explica muito, nas entrelinhas, aquilo que mais me incomoda no jeito que o Snyder retrata super-heróis… ¯\_(ツ)_/¯
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Caro Cardim,
Desculpe pelo teor do meu comentário, mas usei das mesmas falas que, como seguidor do seu trabalho, vejo de forma constante..
Inclusive vi seu comentário no twitter, e por isso vi que tinha respondido. sou seguidor e acompanho seu trabalho pq concordo em praticamente todos seus posicionamentos, seja dentro da cultura pop, seja em questões políticas e etc.
Dito isso, não consigo concordar com o seu posicionamento ao meu comentário. Em primeiro, você alega que houve comparação com todas as outras interpretações, e eu só foquei no Snyder. Na realidade, a sua crítica, a maior parte do tempo coesa e bem escrita, dá um passo fora para cutucar e diminuir outro trabalho, de uma forma bem incoerente , até mesmo quando o próprio filme criticado desenhou o oposto na sua cara.
Inclusive, assisti ao novo filme ontem, e a crítica -quanto a este ponto específico, visto que o restante concordo- realmente não se sustenta. Soa mesmo como um ataque gratuito à obra e a quem gosta, como, convenhamos, acontece muito.
E como falei, é tudo bem você não gostar, mas não ter respeito com a arte e com os gente que gosta é outra coisa, você disse que nunca faltou com respeito, mas não é a realidade, infelizmente. Esse tipo de coisa beira atitudes do fandom tóxico, mas pelo outro lado: O caga-regra do que é bom ou não é. Longe de mim participar de coisas assim, sou completamente contra, mas sempre que me manifestei a favor de uma obra criticada neste nível, fui taxado de Snydete (como vc mesmo disse no seu twitter) e coisa pior, nunca houve uma tentativa de discussão saudável, sempre respostas na defensiva e agressivas. Isso pra mim é tóxico. Ora, não é tóxico não respeitar o gosto alheio? Não é tóxico incluir alguém que gosta de uma obra em um movimento que nao faz parte? eu acho…
Um exemplo fora do universo da DC: Amei The Last Jedi, enquanto me decepcionei demais com o último filme da nova trilogia. Nem por isso vou criticar quem gosta, que tem seus motivos, sua visão e seu gosto pessoal. E apesar de haver um fandom tóxico, que critica o R. Johnson pelo seu filme e caga regras de como deveria ser ou como ele errou, não se pode incluir todos os fans da conclusão da trilogia neste balaio, se gostaram, ótimo! Na minha opinião, inclusive, a injustiça que ocorre com o Rian Johnson é muito o que acontece com o Snyder. Apresentou uma nova visão para heróis que já estavam tendo interpretações bem repetitivas, e sofreu por isso, muita gente não gostou dessa saída da zona de conforto.
Voltando ao principal, posso ter usado palavras mais fortes no meu comentário, mas o sentimento é esse, de deboche de quem gosta de algo que não deve ser gostado, que já ocorreu muitas vezes no site, no seu podcast e twitter, por isso o conselho. Acompanho seu site, gosto muito de várias opiniões, mas esse tipo de coisa gratuita e provocativa é muito chato. desanima de acompanhar. Inclusive, em um de seus programas, onde havia um princípio de crítica de sua parte a outra obra que sequer lembro qual era o convidado interveio e disse algo que acho que deveria ser mais propagado: tem gosto para tudo. você pode achar uma merda, mas respeite quem gosta e o trabalho. Eu não estou defendendo cineasta milionário, mas já vi defenderem estúdio milionário, o que pra mim é bem pior, afinal quem sofre é a arte , não?
Quando você diz que é impossível falar do filme atual sem fazer comparações, sem discordância, o problema é que é visível no seu(s) texto(s) de cinema o que é comparação e o que é gracinha, o que é na maldade. Colo aqui duas ótimas resenhas que até usam de comparações, sem tentar ofender ninguém, vale a leitura:
https://delfos.net.br/critica-batman-mostra-o-morcegao-como-detetive/
https://www.filmelier.com/br/noticias/the-batman-robert-pattinson-critica
reitero: Sua própria crítica caminhava muito bem, até sair totalmente do tom, de forma desnecessária, e demonstrando que de fato ou não captou a mensagem, ou colocou apenas para provocar. Da mesma forma que você diz que parece que não é “tudo bem não gostar”, a vibe de suas (milhares) de críticas acerta justamente no “não é tudo bem gostar”.
E sim, é tudo bem não gostar. Consumo muito (muito mesmo) conteúdo sobre filmes/séries e etc. a maioria gringo, tem podcasts que não suportam o diretor objeto deste nosso debate (como The Big Picture, The Watch, entre outros) e alguns que adoram (como o Reelblend), mas nunca há falta de respeito. Todos somos fãs de cinema, e é isso que deveria ser louvado, não acha?
Por fim, parabéns pelo trabalho em cima de gibis independentes, louvável o apoio e a divulgação. Não é meu meio, não trabalho na área, mas sempre estou apoiando projetos independentes (principalmente na área de música e literatura).
e para esclarecer: meu objetivo jamais foi defender ninguém, vim expor minha crítica justamente por gostar de acompanhar seu trabalho, e dar sempre moral quando necessário, mas fica cansativo todo texto sobre cinema ou séries, ter que levar uma cutucada gratuita e fora do tom apenas por gostar de um filme ou outro.
Thiago Cardim
Fala, meu! Cara, eu SEMPRE dei espaço e discuti numa boa sobre opiniões divergentes. Sobre este e qualquer outro assunto. SEMPRE. Em alguns casos, até mais do que deveria, hahahaha. Um dos meus MELHORES amigos, meu padrinho de casamento, é fãzaço do Zack Snyder e a gente sempre, sempre e sempre conversou e ainda conversa numa boníssima a respeito do assunto, bicho. E deve ter sido ele que foi no nosso podcast e você ouviu e mencionou aqui no seu comentário. O grande ponto, que considero bastante tóxico no fandom do Snyder, é justamente a postura que me incomodou no seu comentário anterior – quem não gostou, tá errado, não entendeu e ponto final. Eu já ouvi isso de MUITOS, não de um, não de dois, não de três, mas vários fãs de BvS, por exemplo. E com uma postura bastante violenta. Meu amigão, o Luis, é uma das raríssimas exceções, um verdadeiro bálsamo, aliás.
Mas veja, não adianta comparar um texto meu com um do Renan ou do Corrales (que são até amigos queridos, hahaha), porque eu sou eu. Eu sou diferente. Tenho minha opinião, meu jeito de falar, de me expressar, não soaria jamais como eles. Nem gostaria. E achei SIM pertinente fazer a comparação porque, além dos motivos que mencionei em meu comentários, acima, discordo totalmente e completamente de você quando diz que “o próprio filme criticado desenhou o oposto na sua cara”. Mas não mesmo. O que ele desenhou clara e nitidamente foi o inverso – e tenho lido isso em DIVERSOS textos de jornalistas especializados, incluindo até alguns com os quais não concordo integralmente.
Este aqui é um Batman que reforça que não usa armas, que se posiciona como a luz, que entende que não é mais a vingança e se posiciona como a esperança, que entende que existe para inspirar. Este Batman está LONGE de ser o Batman do Snyder. E não sou só eu quem digo isso – o próprio Renan, no Filmelier, deixa isso claro, mas sem dar nomes aos bois (e eu sei porque conversei com ele no final da sessão para a imprensa, hahahaha). “Nesse novo mundo que se desenha a cada dia, não precisamos de quem dá socos primeiro e pergunta depois. De quem mata sem escrúpulos. De quem julga o próximo sem entender quem ele é, o que ele viveu. De quem marca criminosos para que morram na cadeia”. Não te lembra nada?
Este Batman que ele descreve é o Batman do Snyder. Relê o trecho. Marca criminosos para morrer na cadeia – tá lá, em BvS. Um Batman sombrio, que é a encarnação da violência, que não só não é a inspiração como inclusive se considera acima do bem e do mal, um deus ao lado dos deuses que caminham junto com ele. Um Batman que, junto com a Liga do corte de Snyder, simplesmente agride um alienígena e, ao invés de levá-lo à justiça, corta a sua cabeça e joga seu corpo para outra dimensão, dizendo “se vier pra cá, vai ter porrada igual”. Cara, desculpa, mas não mudo EM NADA o que eu disse no meu texto sobre o Snyder Cut – esta é a visão mais equivocada que se poderia ter do universo dos super-heróis, ainda mais nos dias de hoje.
Você pode enxergar isso como a mesma coisa que o Matt Reeves fez, dizer que eu não captei a mensagem, mas eu enxergo RIGOROSAMENTE o oposto. E continuo dizendo que este Batman é um ANTI Zack Snyder. O Renan, exatamente como eu, com as mesmas palavras, diz que este é o Batman que precisamos hoje. E o Corrales, no texto dele do Delfos, também menciona o Snyder e também diz que este Batman é diferente do Batman dele. Ué. Não entendi, então, hahahaha
Fora este comentário sobre o ANTI Zack Snyder, eu só disse lá em cima do texto que o Reeves se posiciona narrativamente em uma ponta completamente diferente do Snyder – o primeiro faz um filme de detetive, o outro retrata o Batman como um vigilante. São os dois únicos momentos do texto em que menciono o Snyder. E em nenhum deles, perceba, estou dizendo que gosto ou não da obra do Snyder. Não fiz qualquer juízo de valor em um comentário ou no outro. Quem me acompanha, sabe a minha opinião. Mas quem está lendo este texto, não teria a mínima ideia. O único momento em que eu faço uma pequena provocação DE VERDADE é quando dou o link para o texto do Snydercut. Mas aí, é apenas pra reforçar a minha opinião – a de que os heróis do Snyder são despidos de humanidade e este do Reeves ganhou uma humanidade muito da bem-vinda, tal qual, à sua forma e guardadas as devidas proporções, o Superman da série de TV com a Lois, que é muito mais Superman do que o próprio Henry Cavill (que eu adoro, aliás). Como eu não compararia meus dois textos sendo que ambos falando sobre a humanidade dos super-heróis?
Respeito demais a sua opinião e fico muito feliz que estejamos tendo a chance de ter este diálogo bastante civilizado. Mas, de novo, me incomoda ouvir, ainda que de outra forma, que eu não “entendi” o filme. Que não captei a mensagem. Porque não só eu como muita gente captou. E ela é, sem dúvida alguma, uma mensagem BEM diferente da mensagem que o Snyder traz com suas obras.
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Fala Cardim!
Em primeiro, peço desculpas por ter novamente dito que não entendeu. Entenda que não quero parecer um cara tóxico e chato, da mesma forma que imagino que não gosta de que pensem algo parecido de você.
Duvido que você queira ofender ou debochar do gosto de leitores do seu trabalho, mesmo que sem intenção pode acontecer. Com sua resposta e postura na nossa conversa posso te dizer que vou ler seus textos com outros olhos para evitar levar tudo para o lado negativo. Desculpe lhe faltar com o respeito mais de uma vez, mas como pode ver, não sou da área e nem de ficar me expondo tanto, e não tenho tanto espaço para falar minhas opiniões desses assuntos que gosto muito, e por isso acabei indo pro senso errado na hora de debater com voce.
Quanto as interpretações dos filmes, acho que me embananei e não fui entendido! Sua interpretação do novo batman é perfeita, meu problema na comparação e na visão foi a respeito dos outros filmes! Por isso, Vou esclarecer o que na minha visão não faz do batman do Pattinson necessariamente um anti Snyder, ou melhor, não faz do batfleck totalmente diferente desta nova encarnação:
Não há dúvidas que em BVS o Batman que é nos mostrado é realmente tudo aquilo que você é o Renan falaram. Mas aí que está: no meu entendimento, tudo isso faz parte de um arco do personagem, que depois de chegar ao fundo do poço do pessimismo, violência, e tudo de errado que realmente vemos na tela, “acorda”, e tanto no fim de BvS, quanto durante a grande parte do filme da liga do Snyder, o Batfleck passa a ser mais esperançoso, leve e saindo da escuridão, com exceção da cena do Coringa, que convenhamos, é entendível o sentimento depois de tudo que deve ter ocorrido).
Reza a lenda que esse arco de redenção continuaria, até sua morte. Provavelmente veremos uma versão diminuta disso no flash, já que é bem claro que ele vai morrer.
Acho que a versão ultimate de BvS (uma obra prima pra mim – não exclua meu comentário hehe), mostra bem também o que é efetivamente o batman que faz de errado, e o que é a trupe do Luthor, que também quer gerar uma animosidade entre os heróis, faz parecer do batman.
Quanto a questão da morte do lobo de estepe, quem o “finaliza” é a Diana, que não costuma ter essa limitação. E se tratando da liga ainda mais.
Já em relação ao uso de armas, realmente existe uma diferença. Mas algo que me incomoda muito é que grande parte (se não todos antes do robert) dos Batmen do cinema, usaram armas/mataram, mas apenas o batman de Snyder toma calor disso.
Em síntese, acredito que havia um arco de mudança do personagem, que já estava em pleno desenvolvimento e foi cortado pela metade! Por isso, entendi, mas discordo da sua interpretação e comentário.
Acho inclusive que muita parte da crítica em cima do Super do Henry, não levou em conta que a trilogia do Snyder buscava trazê-lo cada vez mais ao senso comum do que é o super homem, mas antes quis contar a história de sua evolução. Na minha opinião, uma sacada de mestre, se tratando de um alien com superpoderes em um mundo que não o entende/entenderia. Acho válido os questionamentos, as dúvidas, o trauma, as restrições que se impôs. Com o fim da liga, imagino que um eventual novo filme com ele, teria entregado um super homem muito mais relacionável e reconhecível. Aí entra a zona de conforto, que acredito que o Snyder quis sair, e desagradou muitos, tal qual o exemplo de the last Jedi. Mas minha opinião apenas.
Um paralelo interessante a isso, guardada as devidas proporções, é a evolução do homem aranha da Marcel/Sony. Os filmes foram sucessos, mas ainda assim tiveram muitas críticas pela interpretação diferente do esperado, sendo uma das principais o fato de der um homem aranha totalmente dependente da tecnologia. No último filme, vimos que tudo que ele passou era parte de um arco. Hoje ele está muito mais próximo do homem aranha que muita gente pedia do que aquele que tomou um castigo do Tony stark.
Enfim, falei demais! Desculpe toda a confusão. Obrigado pelas respostas e pelo espaço de conversar! Continuarei acompanhando seu trabalho e vou procurar comentar mais, nas próximas vezes sem tanta polêmica!
Abs
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Sua crítica foi excelente e também foi o que pensei. Se eu pudesse adicionar algo seria o elogio quanto a beleza fotográfica do filme. É uma grande obra de arte visual! O riff pesado (Nirvana) de um violão folk vem nos momentos mais certeiros. Um Batman que vai amadurecendo ao longo do filme, de um adolescente rebelde para um herói que se sacrifica em um momento em que não há tempo para planos estratégicos, onde a solução é avançar superando qualquer medo da morte. A complexidade dos personagens relacionados e o jogo de verdades. Filmaço!!! Tudo isso sem piadinhas para o alivio de tensão. Finalmente, um bom filme de herói sem ser cópia da fórmula criada pela Marvel. Inclusive no pós-créditos.