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Kamen Rider Den-O: quando Momotaros virou meme da política BR

Sabe aquele GIF da criatura que surge do nada e pergunta “E o PT?”, pra depois completar “E o Lula?”, ao colocar a perna de maneira debochada em cima da cadeira? Pois é, surgiu em uma série da mesma franquia do nosso velho conhecido Issamu Minami…

Por THIAGO CARDIM

Os memes, um dos pilares das redes sociais (em especial do Brasil) como as conhecemos hoje, estas piadas visuais que rapidamente viralizam e ganham diferentes versões, variações e remixes, costumam surgir do absoluto nada e geralmente partir para lugar algum. Memes têm, na maior parte dos casos, começo, meio e fim – que costuma ser quando eles se popularizam tanto que as marcas resolvem se apropriar deles para tentar entrar na conversa e forçam a barra. Aí já era. Morreu o meme.

Mas alguns memes são poderosos o bastante para resistir à passagem do tempo. São eternos. Duram mais do que a gente poderia imaginar e estão sempre à mão, pra responder aquele comentário imbecil no Twitter, aquela provocação babaca no Facebook, pra mandar no grupo da família do WhatsApp. Um deles tá sempre no gatilho pra ser disparado quando alguém não aguenta mais escutar os defensores do atual governo tentando defender as cagadas que o atual presidente brasileiro e sua trupe de milicianos fazem ao evocar os governos anteriores, aqueles que, como eram “muito piores”, sequer permitem algum tipo de reclamação sobre a administração corrente.

(SPOILER: foda-se quem era o presidente anterior, de que partido era, que apito tocava. Se tem um novo cara sentado nesta cadeira, vai ter que ser responsabilizado por seus atos SIM, no presente, no agora, desde o dia 1. Vai ter que ser cobrado por quem votou e também por quem NÃO votou nele. É assim que funciona. E não me encham o saco.)

É nesta situação que surge o clássico meme daquela criatura vermelha encouraçada, que pinta de surpresa, quase se materializando no que parece ser uma lanchonete, perguntando “E o PT, hein?”, para em seguida pousar a perna com graça e agilidade em cima da cadeira e depois apontar na cara do amiguinho, completando “E o Lula?”. Esse mesmo aí embaixo.

Pois então. Este personagem aí é ninguém menos do que Momotaros, da série japonesa Kamen Rider Den-O, exibida entre os anos de 2007 e 2008. Vamos te contar um pouquinho da história do sujeito.

Antes, um tantinho de contexto…

Se você acompanhou a verdadeira explosão das séries japonesas de aventura live-action (com atores) na finada TV Manchete, aqui no Brasil, por volta da primeira metade dos anos 1990, talvez estes termos não sejam lá novidade na sua vida. Mas todos eles, Jaspion, Jiraiya, Jiban, Changeman, Flashman e afins, são o que no Japão se chama de tokusatsu. Este termo se aplica a qualquer filme ou série televisiva que geralmente apresenta super-heróis (ou algo assim…) e faz uso considerável de efeitos especiais. Na tradução literal, aliás, tokusatsu pode ser entendido como “filmagem especial”.

As produções do tipo tokusatsu rapidamente geraram alguns subgêneros ou franquias, alguns se mantendo em plena atividade até hoje. A chamada “Família Ultra”, por exemplo, dos populares Ultraman e Ultraseven, que tem uma dezena de séries derivadas, é um exemplo claro.

Outra franquia são os chamados Metal Heroes, heróis de armadura com ar meio robótico, girando em torno de algum tema mais ou menos tecnológico – além de Jaspion e Jiban, por aqui tivemos Metalder, Sharivan, Shaider, Spielvan, a trupe de Winspector e Solbrain e por aí vai. E, claro, não podemos esquecer dos Super Sentai, aquelas equipes multicoloridas (com o vermelho sempre no papel de líder) devidamente complementadas por um robô gigante. Tivemos no Brasil, além e Changeman e Flashman, nomes como Goggle V e Maskman – e é preciso lembrar que é a partir destas séries Super Sentai, produzidas anualmente até hoje, que a Saban International construiu os seus megapopulares Power Rangers.

Outra família tokusatsu que continua a pleno vapor são os Kamen Rider. Criação original do mangaká Shotaro Ishinomori, um ex-assistente de ninguém menos do que Osamu Tesuka, o primeiro Kamen Rider chegaria à TV do Japão em 1971, produzido pela Toei Company – e considerado o pontapé inicial dos super-heróis do tipo henshin (transformação), que assumiam sua forma heroica fazendo algum tipo de pose e usavam artes marciais para derrotar um bando de capangas monstruosos e, claro, o grande monstrengo da semana.

No caso dos Kamen Rider, estamos falando de heróis que, apesar dos mais variados temas, costumam ter sempre uma motocicleta. Isso é obrigatório. No começo da franquia, o visual dos heróis fazia referência direta a insetos como o louva-a-deus, mas as versões mais modernas acabaram buscando outros olhares.

Aqui no Brasil, ainda na TV Manchete, fomos apresentados ao Kamen Rider Black, série de 1987 que, na exibição brasileira, foi batizada ao contrário, como Black Kamen Rider. Mais até do que sua luta contra o chamado Império Gorgom, quem ficou famoso MESMO foi o vilão, irmão do protagonista, o chamado Shadow Moon, que com sua armadura prateada se tornou o favorito da molecada (eu devidamente incluído). Logo depois, os brasileiros também teriam a chance de ver a série seguinte, Kamen Rider Black RX, que embora tivesse o mesmo personagem da anterior, inaugurava algo que se tornaria uma tendência em toda a franquia dali pra frente – a possibilidade de mudança de forma, mostrando diferentes trajes e armaduras para cada ocasião.

Tá, mas e o Momotaros?

Bom, eis que chegamos aqui em Kamen Rider Den-O, a décima-sétima* série dos Kamen Rider, colaboração entre a Ishimori Productions e a Toei, que foi exibida entre 2007 e 2008 na TV Asahi.

A trama é estrelada por um sujeito muito azarado chamado Ryotaro Nogami (o humano da foto acima). Certo dia, ele encontra um portal misterioso e as coisas ficam REALMENTE estranhas quando ele se depara com uma garota misteriosa e um grande trem que viaja no tempo. É aí que ele descobre os tais Imagin, seres de um futuro alternativo, uma espécie que está tentando mudar o passado. Graças a um artefato chamado Rider Pass, Ryotaro consegue se transformar no Kamen Rider Den-O, viajando para diferentes épocas no trem chamado DenLiner para lutar contra os malignos Imagin para impedir que eles afetem o presente e o futuro.

Onde entra o Momotaro nesta coisa toda, ora bolas?

Pela cara dele, você já pode imaginar que ele é um Imagin, certo? Mas, no caso, um dos Imagin DO BEM, que Ryotaro pode invocar para se tornar o Kamen Rider. Sabe aquele lance lá das formas “alternativas” do Kamen Rider Black RX? Pois então. Quando ele invoca cada um dos Imagin chamados de Tarōs, ele pode assumir um uniforme diferente e usar um poder único. Além do esquentadinho Momotaros, ele tem acesso ao manipulador e mulherengo Urataros, ao fortão (e narcoléptico) Kintaros e ao quase infantil Ryutaros. Cada um com suas armas, cada um com pelo menos um golpe diferente.

Da mesma forma que acontecia, nos gibis da Marvel, com o Capitão Marvel original enquanto Rick Jones não batia seus braceletes pra convocar o herói, os Tarōs ficam lá, “descansando” em outra realidade até serem convocados pelo herói – no caso, eles ficam no vagão-restaurante do trem DenLiner. E sim, sim, é neste local que acontece a interação que acabou se tornando meme aqui no Brasil. Sacou?

E foi num momento destes que rolou a cena que virou o meme. Momotaros saiu para ajudar Ryotaro, foi interrompido no meio de uma conversa com Urataros, depois voltou e aí se deu o diálogo – “Desculpe a demora, podemos continuar”, para retomar a conversa. Nada relacionado com partidos políticos, claro. Mas a continuação da cena, que não é mostrada no GIF popular, traz ambos saindo na porrada para resolver suas desavenças.

No entanto, em algumas ocasiões, os Tarōs também são capazes de entrar no nosso tempo e espaço por conta própria, embora isso os deixe fisicamente instáveis.

Curiosamente, apesar de ter entrado na narrativa do meme como um fanático de direita, Momotaros é na verdade um dos personagens mais carismáticos e queridos da série. Um tanto teimoso e nervosinho, ele tem na real um coração enorme e acaba, inclusive, mais do que permitir que Ryotaro assuma sua forma Den-O’s Sword, se tornando o símbolo do programa. Tanto é que os Tarōs estrelaram uma série de quatro episódios curtos batizada, vejam vocês, de Momotaros’s King of the Castle in Burning Red.

Enquanto a performance física do personagem ficava a cargo de Seiji Takaiwa (dublê veteranos de muitas séries Kamen Rider e Super Sentai), a voz era de Toshihiko Seki (dublador igualmente experiente, que já participou de produções como Kill la Kill, Naruto e diversos Gundam).

E onde podemos ver?

Bom, pelo menos o primeiro episódio tá no YouTube, cortesia da Toei. Mas… em japonês, né. Se você não manja, então se vira. Dá seus pulos. <3

* O número 17 aí é mera coincidência. ACHO. E, em tempo, vale lembrar que #FORABOLSONARO. Grato.