Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

Fabiano Negri e as voltas que o mundo dá

Depois de lançar, ano passado, aquele que seria o seu belo canto do cisne, músico de Campinas/SP que sempre trampou num esquema 100% independente se reinventa e, agora com o apoio de uma gravadora americana, volta com um discão incrível!

Por THIAGO CARDIM

O ano era aquele já distante 2020. O mês, pois então, era julho, em meio a uma aparentemente interminável quarentena. Lá no JUDÃO.com.br, publiquei uma entrevista de sabor agridoce com o multi-instrumentista Fabiano Negri. Ele tinha acabado de lançar o lindíssimo The Fool’s Path, seu mais recente álbum solo – e que seria o último de sua carreira. O nosso site também estava se encaminhando para sua reta final, então a conversa teve um tom convergente de quem deu muito murro em ponto de faca e tava cansado. Era a hora. Pra ele e pra mim.

Aí, corta pra 2021. Fevereiro. Virou o ano, a pandemia continua aí, a quarentena igualmente (ou, pelo menos, DEVERIA continuar para quem ainda pode, em defesa de quem infelizmente não consegue mais…). Mas se eu, do meu lado, tô aqui de projeto novo, outra vez falando sobre cultura pop em um site agora só meu, dando mais uma vez a cara pra bater, a maré virou e o Fabiano, que ia largar a carreira musical, lançou disco novo. “Pois é, para você ver como 2020 foi um ano doido!”, brinca ele, em entrevista exclusiva pro Gibizilla.

The Fool’s Path, uma linda obra bastante diversificada (ainda que de tons mais tristes) foi muito bem aceita. O músico recebeu muitos elogios e inclusive apareceu em diversas listas nacionais de melhores do ano. “Mas seria o meu último álbum mesmo. Aí, o pessoal da gravadora americana Big Can Productions me procurou e me fez uma proposta para a produção de um novo álbum com eles, para ser lançado no mercado americano com toda a divulgação por conta deles e tudo mais. Um esquema muito bacana, que eu não tive até hoje”, explica.

Fabiano lembra que foi um artista muito independente – e então, o fato de ter sido procurado por uma empresa, propondo uma coisa que ele jamais teve, com um tipo de ajuda e em condições que nunca experimentou, foi um baita empurrão. “Uma oportunidade que jamais eu poderia deixar passar”.

Tá bom, mas então quem é o Fabiano?

Olha só, eu vou usar as MINHAS próprias palavras aqui para apresentar o cara.

Egresso de Campinas/SP e em atividade musicalmente desde os anos 1990, o músico adentrou o mundo do rock chutando a porta da frente na liderança do Rei Lagarto, uma BAITA banda, assim mesmo, em letras maiúsculas, de hard rock. Ao longo de sua trajetória, não se deixou limitar por rótulos e fez muito mais do que só rock clássico, mas mergulhou no blues, no soul, no folk.

No grupo e em sua carreira solo, exerceu os papéis de letrista, compositor, cantor, pianista, organista, guitarrista, produtor. Com muitos elogios do público e da crítica especializada, nunca parou, lançando novidades com assinatura autoral de maneira incansável.

Mas aí ele cansou. E lançar talvez o trabalho mais pessoal de toda a sua longa discografia — que inclui ainda a Unsuspected Soul Band, mais cheia de groove, e o Dusty Old Fingers, grupo incrível que é praticamente uma releitura dos Stones — um disco que é uma obra conceitual que conta a sua trajetória no meio artístico/musical nos últimos 25 anos.

Só que Fabiano, claro, nunca deixou de ser um apaixonado por música. E continuou brincando com seus vídeos de versões nas redes sociais. Eis que Charles Kegley, um dos sócios da Big Can Productions, viu aquele brasileiro cantando Outshined, do Soundgarden, e PIROU. “Foi ele que fez o primeiro contato”, revela Fabiano. “Aí eles descobriram que eu tenho um trabalho muito extenso aqui no Brasil e começaram a ouvir com mais carinho toda minha discografia. Depois de algum tempo, eles me fizeram uma proposta para o disco”.

Antes de qualquer coisa, foi a oportunidade de se apresentar para pessoas que nunca ouviram falar dele que fez com Fabiano topasse participar desse projeto. “Eu estou muito curioso para saber como as pessoas de fora do Brasil vão reagir ao meu trabalho”, diz, visivelmente empolgado. “A minha música vai chegar à rádios, sites e revistas fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos. Eu sei que o selo está muito empenhado e existem várias campanhas publicitárias rolando ao mesmo tempo. Estou ansioso para ver como será a resposta ao meu som”.

Ele faz questão de lembrar ainda que, por aqui, ele é um artista com 25 anos de carreira e 30 trabalhos lançados. “Para eles, eu sou um artista que está começando agora. Isso é uma grande segunda chance que eu estou tendo”, reforça.

Vamos falar de Reborn!

Pois é, vamos. O Fabiano, até por conta da pandemia, compôs, gravou, mixou e masterizou tudo no seu próprio estúdio. O álbum de retorno do músico, que atende pela alcunha autoexplicativa de Reborn, vai ser lançado em duas partes, quase como dois EPs. A primeira já saiu, agora no finalzinho de janeiro. Já a segunda chega em meados de julho.

O primeiro single, Inside Out, bastante emocional, teve uma resposta bastante interessante dos ouvintes para ele – e ajuda a entender o todo do disco, um álbum focado completamente no hard rock. “Poderia ser facilmente um álbum do Rei Lagarto”, diz Fabiano. Mas eu vou ainda mais longe – daria pra ser, sei lá, um disco perdido do Queen. Ou, talvez, um som do Deep Purple com cada vez mais Glenn Hughes.

Aliás, a levada de baixo de Ready to Go, com todo aquele groove, tem todo o jeitão da carreira solo do mestre Hughes. “Eu tentei compor canções mais leves, com mensagens mais positivas e reflexivas”, explica. “É um disco para trazer boas sensações aos ouvintes”. Acredite – trouxe MUITAS. <3

“Estou finalizando a segunda parte do álbum nesse momento”, conta ele. “Temos vários planos rolando, mas eu não posso falar muito sobre isso. Na verdade, dependemos de como o mundo vai estar. Os planos incluem uma visita aos Estados Unidos para alguns shows e uma tour promocional no final de 2021”.

E ele ainda completa, tirando onda: “pra quem estava semi aposentado, até que eu não estou me saindo mal”.

Mas nem um pouco, meu velho. Nem um pouco.

A primeira parte de Reborn pode ser ouvida nas principais plataformas digitais – mas a gente facilita pra você e colocamos aí abaixo.