Para entender um pouco mais a Feiticeira Escarlate
Com a chegada de WandaVision, primeira série Marvel Studios original do Disney+, a coadjuvante dos filmes dos Vingadores ganha enfim merecido destaque – mas muita gente não entende bem como ela era TÃO diferente de sua versão dos quadrinhos…
Por GABRIELA FRANCO
Desde que Elizabeth Olsen deu as caras pela primeira vez no Universo Cinematográfico da Marvel, lá em Vingadores: Era de Ultron, a sua versão da Wanda Maximoff foi, no máximo, uma coadjuvante de luxo para o grupo de super-heróis. Com um sotaque forçado qualquer do Leste Europeu e um passado conturbado, ela pode ter sido a responsável, ainda que indiretamente, pelo Registro de Seres Superpoderosos do governo americano que soltou a faísca para a chamada Guerra Civil. Mas nunca foi nada além de uma espécie de Jean Grey genérica, que levitava as coisas pra lá e pra cá com o poder da mente, fazendo uns malabarismos com as mãos.
Uma sombra do que ela poderia ser DE VERDADE surgiria só no finalzinho de Guerra Infinita e então na batalha derradeira de Ultimato, quando ela encarou Thanos de frente de um jeito que poucos outros heróis conseguiriam. Isso deixou muita gente que não conhece a heroína originalmente dos gibis com uma pulga atrás da orelha. E agora que ela é a protagonista de WandaVision, a primeiríssima série original da Marvel Studios pro serviço Disney+, a coisa ganhou ares ainda mais intensos, já que tudo indica que finalmente as habilidades de manipulação de realidade da Feiticeira Escarlate serão vistas em toda a sua glória.
Pois é. Calma que a gente te explica um pouco mais sobre quem ela é originalmente e quem ela tem potencial pra ser em suas próximas aparições no MCU.
Uma deusa, uma louca, uma feiticeira
Wanda está bem no meio de dois grupos bem importantes no Universo Marvel: Vingadores e X-Men. Criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1964, a personagem estreou em X-Men #4, inicialmente como, pasmem, vilã. Isso mesmo. Wanda e seu irmão, o arrogante velocista Mercúrio, foram criados como filhos do vilão Magneto. É, sim, eles são mutantes, como os X-Men. Nesta história inicial em especial, os gêmeos detentores de poderes especiais são recrutados por Magneto ainda criancinhas, já que este pretendia criar um exército e subjugar a raça humana ao poder mutante.
Anos mais tarde, porém, sua origem seria melhor explicada… mas não ficaria menos louca: Wanda e seu irmão gêmeo Pietro nasceram na Montanha de Wundagore, nos Bálcãs (região sudeste da Europa que engloba países como Albânia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Grécia, Macedônia do Norte, Montenegro, Sérvia, Kosovo, bem como partes da Turquia, Croácia, Romênia e Eslovênia), porém o pai simplesmente não sabia da existência das crianças. Eles foram fruto de um relacionamento amoroso de Eric com a humana Magda que, assustada ao descobrir o poder destrutivo do marido, o abandonou, sem saber que estava grávida.
Andando a esmo e desesperada, Magda encontra um castelo e resolve pedir abrigo. Nele, é recebida por Bova, uma vaca humanoide (isso mesmo!) que servia ao cientista louco e manipulador genérico conhecido como Alto Evolucionário.
Bova acompanhou a gravidez de Magda e, quando os gêmeos nasceram, a pedido da mãe, que queria proteger as crianças do pai, se encarregou deles e os entregou a um casal de ciganos conhecidos como os Maximoff.
Wanda nasceu numa noite de tempestade sobrenatural, e foi agraciada com um certo potencial místico que influenciou os dons mutantes herdados naturalmente do pai. Sendo criados por ciganos, Pietro e Wanda vagaram pela Europa Central como nômades durante toda a juventude, quando então notaram a manifestação de seus poderes. Em certa ocasião, teriam sido mortos por camponeses supersticiosos que presenciaram a força desses poderes, caso não fosse a intervenção de ninguém menos do que o próprio Magneto.
Assim sendo, o vilão recruta os filhos (sem saber que era pai deles, no entanto) e os incorpora à Irmandade de Mutantes, batizando-os de Mercúrio e Feiticeira Escarlate. Embora achassem os métodos de Magneto radicais demais e nem sempre concordassem com ele, os irmãos, por gratidão e medo, mantiveram-se fiéis a Eric.
Sobre seus poderes…
Vamos fazer um interlúdio na história da Wanda aqui para falar um pouquinho dos poderes da moça. Originalmente, na versão de Lee e Kirby, suas habilidades eram descritas de maneira bem aberta, uma espécie de manipulação da realidade que permitiria que determinados eventos randômicos e inesperados acontecessem. Mais tarde, ela foi ganhando contornos mais detalhados e tinha inclusive mais controle da realidade que manipulava. Quando ela caiu nas mãos do roteirista Steve Englehart, aí ele conectou de vez seus poderes com a magia – e foi sob a tutela de Kurt Busiek que a Feiticeira se conectou de vez com a chamada “magia do caos”.
Na saga Vingadores: A Queda (2004), a coisa toda de “manipulação da realidade” acabou tirando a “magia” dos holofotes, sem no entanto deixar de crescer ainda mais, como pudemos ver em Dinastia M, quando a moça criou uma realidade alternativa todinha, assim, do nada. Já no crossover Vingadores vs X-Men (2012), o termo “magia do caos” volta a ser usado (dando a entender, inclusive, que a fonte primordial de seus poderes é cósmica), junto com a expressão “Magia Mutante”. Pra tornar tudo ainda mais assustador, os cinco receptáculos da Fênix, simplesmente uma das entidades mais temidas do universo, dão a entender que a Feiticeira Escarlate é uma das poucas coisas das quais eles ainda têm medo.
Basicamente, estamos falando de alguém que canaliza energia caótica de diversas formas. Wanda é considerada uma mutante nível ômega e inclusive a totalidade de seus poderes ainda é desconhecida – mas entre eles está principalmente esta habilidade de controlar e distorcer a realidade, o que, convenhamos é MUITA COISA.
De vilã a Vingadora
Durante muitos anos, Lee e Kirby deram à Wanda uma personalidade bem relutante, de uma jovem deslocada e triste que busca seu lugar no mundo. Isso pode ser visto, em um recorte bem menor e mais adequado ao nosso tempo, no cinema, por exemplo. Como foi criada como cigana, não possuía um sentimento de pertencimento e seu ingresso nos Vingadores foi decisivo para moldar sua personalidade como heroína.
Em 1965, na revista Vingadores #16, após um embate a primeira versão da Irmandade dos Mutantes é desfeita e os irmãos têm finalmente contato com os Maiores Heróis da Terra. Ambos são recebidos de braços abertos, da mesma forma que aconteceu antes com a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, e aceitam integrar a equipe e receber treinamento.
Wanda se torna uma mulher muito mais segura de si depois de perceber que pode contar com uma equipe que literalmente daria a vida por ela. E dedicou-se de corpo e alma a eles, envolvendo-se inclusive romanticamente com o sintozóide Visão – mas esse resto da história vocês já conhecem (ou ainda vão conhecer).
Wanda mostrou-se, ao longo de muitas histórias dos Vingadores, misteriosa e reservada, até mesmo pelo desconhecimento da dimensão de seus poderes, porém muito intensa, descontrolando-se vez ou outra em ataques de fúria e causando MUITO estrago por onde passava. Com treinamento adequado, porém, evoluiu muito, tornando-se um dos membros mais poderosos da equipe.
Assumiu inclusive a liderança do grupo por um curto período de tempo e conseguiu finalmente maior controle sobre seus poderes. Para isso ela, contou com o apoio da bruxa (de verdade, dessa vez) Ágatha Harkness que já havia aparecido anteriormente nas histórias do Quarteto Fantástico, ajudando Susan Storm quando estava grávida.
Wanda e Visão formaram, durante muitos anos, um dos casais mais queridos do Universo Marvel, o que inclusive culminaria em casamento, lua de mel na Polinésia Francesa e um afastamento das atividades heroicas para viver uma pacata vidinha de casal em Nova Jersey (hello, Bruce Springsteen!) ao lado de seus filhos. Pois é. Os dois tiveram duas crianças e foram felizes para sempre.
É…não. Não foram.
Se você estava achando estranho que um androide, uma criatura mecânica, pudesse ter filhos gêmeos milagrosamente com uma humana sem que ninguém reparasse que algo estava errado, acredite, todos nós achamos. Inclusive a própria Feiticeira, que descobriu que suas crias eram, na verdade, criações de seu poder de modificação da realidade a partir da essência do demoníaco Mefisto e de fragmentos da alma do vilão meia-boca Mestre Pandemônio. Depois disso, a Feiticeira pirou, matou parte dos Vingadores, alterou a realidade completamente (oi, Dinastia M!), fez sumir a maior parte da raça mutante… e obviamente seu relacionamento com o Visão (destruído mas depois devidamente reconstruído pelo amigo de Ferro) nunca mais foi o mesmo. Nem quando a dupla descobriu que, de alguma maneira maluca que só a Marvel consegue explicar, seus filhos estavam vivinhos da silva e eram, na verdade, os integrantes dos Jovens Vingadores conhecidos como Célere e Wiccano.
A história de Wanda esbarra na de muitas adolescentes inseguras que veem em seu grupo de amigos fieis alívio e saída para enfrentar os problemas da vida. Eu, particularmente acho essa origem muito verossímil e humana. Tirando, é claro, a parte da vaca geneticamente modificada.
Para conhecer um pouco mais sobre Wanda, listei algumas histórias imperdíveis em gibis publicados por aqui
>>> A Origem
A primeira aparição da personagem nos gibis dos X-Men, lá da década de 1960, pode ser lida tanto na Biblioteca Histórica Marvel – X-Men (Panini) quanto no número 34 da coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, aquela da capa vermelha, que é totalmente dedicada à Feiticeira Escarlate.
>>> Grandes momentos com os Vingadores
Talvez um dos melhores momentos da Feiticeira com a formação clássica dos Maiores Heróis da Terra esteja na clássica guerra Kree-Skrull, que pode ser lida tanto no volume 90 da coleção de graphic novels da Salvat quanto na recém-lançada coleção Marvel Vintage, da Panini.
>>> Grandes momentos com o Visão
Para entender um pouco mais da relação da Wanda com o seu amado sintozóide, é legal ler a passagem de John Byrne pelos Vingadores da Costa Oeste, que pode ser lida no volume 2 de Os Maiores Clássicos dos Vingadores, da Panini.
>>> Mais grandes momentos com o Visão
Aproveitando a coisa toda do WandaVision, a Panini lançou uma edição da sua nova série Vintage especialmente dedicada ao casal. Vale checar estas histórias clássicas para entender ainda mais a dinâmica aqui.
>>> Vingadores – A Queda
Para acabar com os Vingadores DE VEZ, só mesmo a sua integrante mais poderosa – vocês vão ver aqui o que acontece quando a Wanda ultrapassa os limites entre a sanidade e a loucura. Tem tanto na coleção da Salvat quanto em encadernado da Panini.
>>> Dinastia M
Esta saga mostra a extensão dos poderes da Wanda, que vira a realidade da Marvel inteira de cabeça pra baixo. A Panini lançou um encadernado bonitão, mas você também pode ler na edição 40 da coleção de graphic novels da Salvat.
>>> A Cruzada das Crianças
Sim, aquela saga com a imagem do beijo que deixou o Crivella com os cabelos em pé também é um momento interessante para entender a Feiticeira Escarlate sob o ponto de vista do Wiccano, seu próprio filho. Também tem na coleção da Salvat.
>>> Vingadores vs X-Men
A gente falou lá em cima sobre a coisa toda do poder da Feiticeira vs o poder da própria Fênix, então vale a leitura neste mega encadernado gigante, da Panini.
>>> Gibi solo
Pra quem fala bem inglês, tem um material muito legal, escrito pelo James Robinson, que é a HQ solo da Wanda. Na Amazon, já tá em pré-venda, com entrega em fevereiro, um compiladão desta fase, que pode ser comprado tanto pra Kindle quanto impresso.
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franco
Parabens Gabriela. Parabens .Extenso e ótimo artigo.
dot
Conseguiu conjurar uma boa dose de ordem nesse caos todo. Parabéns pelo texto.